No momento em que chegam até a fila da vacinação, cada pessoa carrega consigo a bagagem das experiências enfrentadas em um ano de uma pandemia que causou mudanças até mesmo nas atividades mais triviais que se conhecia até então. Não à toa, cada um é tocado pela experiência de receber o imunizante à sua maneira. Há quem comemore, quem agradeça a Deus, os que sorriem e ainda os que se emocionam. Nesta semana o Estado do Pará ultrapassou a marca das 400 mil doses de vacina contra a Covid-19 aplicadas e nas reações de cada vacinado, é possível ver a representatividade que o fruto da produção científica brasileira e mundial proporciona.

As lágrimas que desciam fáceis pelo rosto da aposentada Maria de Fátima Rodrigues Araújo, 63 anos, diziam sobre a esperança de poder recuperar o tempo que precisou se manter afastada de familiares queridos em decorrência da pandemia. No breve instante em que a dose era aplicada pela profissional de saúde, o que chegou até a aposentada foi a esperança tão necessária para enfrentar o momento presente. “Eu me emociono mesmo porque esse vírus não é brincadeira. Receber essa vacina é uma bênção de Deus”.

Maria de Fátima Rodrigues emocionada
📷 Maria de Fátima Rodrigues emocionada |Mauro Ângelo

O cartão de vacinação seguro fortemente nas mãos é motivo de orgulho e gratidão, diante da realidade em que boa parte da população ainda aguarda pela oportunidade de receber o imunizante. Junto à vacina, o que está ‘em jogo’ é a chance de, futuramente, poder retornar à vida normal, às reuniões familiares, aos abraços apertados. “Eu tenho 10 netos e eu morro de saudades deles. Eu fico em casa e falo com a minha filha por telefone, que mora em Outeiro, e ela tenta me acalmar, mas a saudade é muito grande”, conta Maria de Fátima. “Essa noite eu nem dormi de ansiedade esperando a hora de vir tomar essa vacina. Agora é voltar para casa e aguardar a segunda dose em segurança”.

O dia tão esperado também chegou para o autônomo Cizico Farias de Sales, 65 anos. A aplicação da primeira dose da vacina não durou mais que alguns instantes, mas foi suficiente para despertar um enorme sentimento de gratidão que irrompeu em forma de palavras ditas a quem estivesse atento a ouvir. “Muito obrigado! Muito obrigado!”.

Cizico Farias de Sales
📷 Cizico Farias de Sales |Mauro Ângelo

Enquanto agradecia a quem se dirigisse a ele, se preparava para cumprir o caminho de volta para uma rotina ainda muito modificada pela pandemia, mas que encontra forças em um ser superior. “A gente tá levando a vida devagar, eu sou aposentado ainda, sou autônomo, mas a gente vai levando com fé em Deus. Em primeiro lugar vem o Cristo que dá o jeito pra gente”, confiava. “Eu estava pedindo a Deus que chegasse logo a minha vez. Estou muito satisfeito”.

Alento foi a palavra encontrada pela professora e historiadora Edilza Fontes para descrever a sensação de poder, enfim, receber a primeira dose contra a Covid-19. A certeza da importância da proteção contra a doença vem de quem vivenciou de muito perto os riscos que o vírus pode representar, mas que lutou e venceu o grande desafio. “Eu tive Covid-19 em outubro, fiquei internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por 18 dias”, lembra. “A gente não costuma refletir sobre o que a gente já fez na vida, mas quando a gente se vê em uma UTI, acaba refletindo sobre muita coisa. Eu queria sempre ter muita força para viver e fazer o que eu ainda não tinha feito”.

📷 Edilza Fontes |Mauro Ângelo

Um dos desejos da historiadora era poder receber o imunizante que, hoje, é a principal forma de prevenção ao coronavírus causador da Covid-19. Recuperada, depois do período difícil enfrentado em 2020, ela pode realizar mais esse desejo e escolheu com carinho o local em que ele se concretizaria, o campus da Universidade Federal do Pará (UFPA). “Aqui é o lugar que eu me formei, que eu fui eleita presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) em 1981, o local em que eu sou professora há mais de 30 anos”, emocionou-se. “Eu quis vacinar aqui porque foi onde eu formei a minha consciência. Aqui é a minha identidade”.

Sem esconder a alegria pelo momento vivenciado, a professora espera que outras pessoas também possam viver o mesmo, à medida em que a campanha de vacinação for progredindo. “É um alento na vida da gente receber a primeira dose porque a gente vê tantas mortes ainda acontecendo. Dá um ânimo porque, a gente que já passou por essa experiência, fica com muito medo da reinfecção, então eu estou muito feliz”.

Avanço da ciência e importância do SUS

 A felicidade também ficou estampada no rosto da administradora Ana Celeste Pereira Ferreira, 64 anos. Depois de ver o esposo, o jornalista e escritor Octávio Pessoa Ferreira, 68 anos, receber a primeira dose da vacina no final de semana passado, ela mesma vivenciou a experiência de iniciar o processo de imunização contra a Covid-19. “Estou me sentindo aliviada, feliz!”, descrevia. “É muito emocionante ver tanta gente envolvida nessa causa, pesquisadores, profissionais de saúde, voluntários. Todos envolvidos para que a gente possa receber uma vacinação de qualidade e gratuita. Viva o SUS!”, comemorou a administradora.

Reconhecendo a importância do momento vivenciado em um cenário em que, infelizmente, a pandemia ainda causa danos irreparáveis ao país todo, o casal fez questão de registrar em vídeo e fotos cada momento da vacinação. Mais do que a esperança por dias melhores, a chegada da primeira dose da vacina para a faixa etária é também um presente para o casal, já que ambos fazem aniversário no mês de abril, com poucos dias de diferença entre um e outro. “É importante, significativo. Estamos vivenciando o avanço da ciência e a importância do SUS”, reforçou Ana Celeste. “O que a gente espera agora é que haja o incremento necessário para que todos tenham acesso à vacina”.

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