Trans diz que perdeu filho por "transfobia e política"

A estudante de serviço social Bárbara Pastana, transexual e ativista de longa data pelos direitos das pessoas LGBTQIA+ (Lésbicas, gays, bissexuais, trans e travestis, queers, intersexuais, assexuais e demais existências de gêneros e sexualidades) no Pará, viu uma reviravolta em sua vida após compartilhar um vídeo em que o filho aparece usando uma de suas perucas. As informações são do UOL.

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Após dois meses das imagens que ganharam tanta repercussão e que a fez perder a guarda do menino, a Bárbara aguarda o julgamento do caso na 1ª Vara da Infância de Belém.

Nos últimos meses, ela viu o filho algumas vezes, após o menino ser entregue a um tio, João Natalino Gomes Pena, irmão da mãe biológica da criança, sem ao menos considerar deixar o menino aos cuidados de um parente dela, com quem estava habituado a conviver.

Segundo o Conselho Tutelar de Belém (PA), ao expor a imagem do filho, Bárbara teria violado o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que diz que é proibido "submeter a criança a vexame ou a constrangimento". Mas, para a travesti, há "motivações políticas e transfobia" na ação.

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De acordo com Bárbara, os ataques que ela sofreu não vinham de pessoas comuns, mas de políticos conservadores e opositores do atual prefeito da cidade, Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), eleito em 2020 e que a nomeou coordenadora da Casa Dia - que presta atendimento de saúde às pessoas com HIV - em dezembro último.

A travesti acredita que as pessoas não estavam de fato, preocupadas com a integridade do seu filho, "mas com a minha identidade de gênero e com o meu cargo político. A manchete era sempre 'mãe travesti do governo tal tenta mudar a sexualidade do filho'".

Transfobia

Após a repercussão do vídeo, Bárbara foi notificada para comparecer com o filho ao Conselho Tutelar, imaginando que "levaria uma advertência por ter publicado o vídeo", mas foi mais que isso. Após prestar depoimento a um grupo de conselheiros, poucas horas depois, ouviu que não poderia levar o filho de volta para casa.

Para Bárbara, o Conselho Tutelar de Belém só tomou esta decisão "porque eu sou uma mãe travesti". Para ela, "o Conselho Tutelar foi transfóbico, da mesma forma que o deputado e outras pessoas que me atacaram nas redes sociais".

O documento emitido pelo órgão ressalta que o menino foi "colocado em situação vexatória" e que o vídeo "coloca em risco o desenvolvimento físico, mental, espiritual e social" da criança.

O menino nasceu com alguns problemas de saúde e sua mãe biológica, que já tinha três filhos, entregou o bebê aos cuidados de Bárbara quando ele tinha poucos dias de vida. O menino tem o nome das duas nos documentos: o da genitora como mãe e o de Bárbara como pai, já que ela não retificou seus documentos após a transição de gênero.

Bárbara reforça que "o Brasil é o país que mais mata pessoas trans pelo simples fato de serem trans, imagina quando elas são incentivadas a acreditar que uma travesti está fazendo mal para uma criança. Me demonizaram. Essa situação me deixa ainda mais vulnerável para ser mais uma vítima da transfobia."

Em nota, o Ministério Público do Pará afirmou que não se manifestaria sobre o caso porque o processo está sob sigilo de Justiça, por envolver um menor.