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MEMÓRIA

Saiba a história da Fortaleza usada na proteção de Belém

Conheça a história da Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra, usada na proteção de Belém e que guarda a curiosidade de ter ‘ido aos ares’ após uma explosão que resultou na sua destruição, em 1947.

Imagem ilustrativa da notícia Saiba a história da Fortaleza usada na proteção de Belém camera Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra. | Divulgação

Sem muitos recursos bélicos ou de locomoção que fossem além do trânsito pelos rios, a história da fundação das cidades brasileiras está muito atrelada à construção de fortificações que possibilitassem a proteção do território ocupado. Tal realidade não foi diferente quando da fundação de Belém, ainda em 1616. Marco da chegada portuguesa ao território que, posteriormente, viria a se tornar a capital do Estado do Pará, o Forte do Castelo é apenas um entre o conjunto de fortificações que foram construídas para a proteção da cidade. Parte dessa rede de apoio, a Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra (1685) guarda a curiosidade de ter ‘ido aos ares’ após uma explosão que resultou na sua destruição. Apesar de não existirem mais vestígios da existência da construção, o que permanece é mais essa memória da cidade de Belém.

Sob o domínio português, para que o território fosse muito bem monitorado contra a invasão de outros países, Belém recebeu uma rede de fortificações, uma série de estruturas que permitiam a vigilância de diferentes pontos. Diretora da Faculdade de Conservação e Restauro do Instituto de Tecnologia (FACORE/ITEC) da Universidade Federal do Pará (UFPA), a professora Roseane da Conceição Costa Norat aponta que Belém, que então era a principal cidade no território do Grão-Pará, chegou a receber pelo menos doze estruturas dentre fortes, baterias e outros sistemas projetados para garantir tal proteção.

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No mesmo ano de fundação da cidade, em 1616, tem-se a construção do então Forte do Castelo (hoje Forte do Presépio), localizado na ponta da Baía do Guajará com o Rio Guamá. Em seguida, em 1665, há a construção do Forte São Pedro Nolasco, aos fundos do Convento dos Mercedários. Os dois são os únicos remanescentes da rede formada para a proteção de Belém à época, restando do Forte São Pedro Nolasco apenas ruínas na área que hoje compreende o anfiteatro da Estação das Docas.

Saiba a história da Fortaleza usada na proteção de Belém
📷 |Divulgação

Dentre as construções que já não existem mais, estão a Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra, a terceira construída em Belém ainda no século XVII. Erguida, em 1685, sobre uma ilhota de pedra na entrada do porto de Belém, a fortificação de planta circular teve as instalações destruídas por uma explosão já no século XX, em 09 de maio de 1947.

A professora Roseane Norat explica que a fortificação recebia esse nome porque foi construída sobre uma estrutura natural chamada de barra, a Barra de Belém. “Dentro de uma baía você vai ter determinadas faixas que, dependendo das correntes fluviomarinhas, acabam ficando em um ponto onde não há uma corrente tão forte e acaba havendo um depósito de sedimentos naquela área. Com isso, eles conseguem construir, em alguns pontos que têm esses depósitos de sedimento, no meio do rio. Então, você vai ver esse termo Fortaleza da Barra em vários lugares porque elas foram construídas na barra, que é esse termo geológico relacionado a essa formação”, aponta.

ESTRUTURA

Na estrutura circular instalada na Baía do Guajará, passando um pouco a direção da área que hoje compreende o bairro de Val-de-Cans, assim como em qualquer fortificação, ficava uma guarnição, pessoas que eram responsáveis por defender o território, formando essa vigilância integrada com os demais fortes da cidade. O que ocorreu, porém, é que com o passar dos anos esse tipo de construção passou a não ter muita eficácia para a proteção das cidades, como explica a professora Roseane da Conceição Costa Norat, que pesquisa as fortificações da Amazônia. “Chega um momento em que essas estruturas vão perdendo a eficácia porque outras formas de defesa vão surgindo. As fortalezas acabam sendo praticamente abandonadas porque, quando as artilharias vão avançando, o canhão não tem mais tanta eficiência”, explica. “O grande impacto vai ser já no século XX, na Primeira Guerra, quando o bombardeio começa a ser aéreo. Nesse momento, muitas fortalezas acabam sendo abandonadas e isso ocorre não só no Brasil, mas no mundo todo”.

Antes desse período, porém, outro momento histórico de conflitos impacta os fortes instalados em Belém. “Nós temos um marco que é a Revolta da Cabanagem, já no início do século XIX, em 1835. Com isso, nós vamos ter combates e muitas das fortalezas de Belém já vão ficar arrasadas, bastante danificadas com esse processo”, contextualiza, Roseane. “E o que acontece? O Forte do Castelo vai ser reerguido, ele é praticamente reconstruído em várias obras que ocorrem a partir de 1850. O Forte São Pedro Nolasco fica ali, não desperta mais muito interesse e, quando vão construir o porto, ele tem autorização para ser demolido porque era mais importante economicamente para a cidade ter um porto do que ter um forte que estava em ruínas”.

Já no caso da Fortaleza da Barra, o que acontece é que, por um momento, ela não ficará comprometida fisicamente, porém, fica praticamente abandonada por não ter mais sentido fazer defesa com guarnição em forte. Seguindo esse contexto, quando se alcança o século XX a sua utilização já não faz mais nenhum sentido e ela fica praticamente, servindo de depósito de pólvora, principalmente. “O que acontece é que a pólvora é altamente inflamável. Então os relatos contam que houve uma tempestade nesse dia e deve ter caído um raio no local que já tinha energia elétrica e muito provavelmente essa combinação fez com que uma faísca acionasse esse depósito de pólvora que tinha lá e ela explodiu. Ela vai ao ar, literalmente”, explica a pesquisadora. “Os relatos contam que foi uma explosão muito violenta, que foi ouvida na cidade. Como ela não tinha mais sentido, não havia interesse em restaurar e, como a explosão é muito significativa, ela vai ficando lá e o que ainda tinha lá de destroços acaba sendo levado pelo próprio movimento das marés”.

Hoje não há qualquer vestígio dessa fortificação

O episódio fez com que, hoje, não seja mais possível encontrar qualquer vestígio dessa fortificação histórica para a cidade, além das documentações históricas e iconografias. Como a estrutura do forte ficava em cima do rio, quando ocorre a explosão, o que resta, basicamente, é a barra, formação geológica natural que fica a maior parte do tempo submersa. Mais importante do que conseguir enxergar qualquer vestígio do que foi a construção, porém, a professora Roseane Norat considera que, quando se resgata a história da Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra, o mais importante é perceber a importância do cuidado com os bens patrimoniais da cidade. “O mais importante é a gente olhar para essa memória de algo que, infelizmente não existe mais, nesse caso, por uma fatalidade, mas uma fatalidade em decorrência de uma certa irresponsabilidade de usar aquela estrutura como depósito de produtos inflamáveis”, considera. “Não houve nenhuma apreensão daquela estrutura como patrimônio cultural, você vê que ela não tinha nem tombamento e isso já ocorre em 1947, quando já se tem alguns tombamentos no Brasil”.

Assim como Belém, outras cidades brasileiras dispuseram de redes de fortificações que serviram à proteção do território no período de ocupação do Brasil pelos portugueses. Entre as cidades que conseguiram manter parte dessa estrutura preservada, existe um turismo de fortificações forte, como no caso de Salvador, no Estado da Bahia, por exemplo. “Essa história serve, nos dias de hoje, para que as pessoas se lembrem que, se elas não cuidam bem dos seus bens patrimoniais, quer seja os mais antigos, quer seja aqueles que são mais recentes, a gente fica com essa memória comprometida”, reflete. “Assim como foi com o Grande Hotel, assim como foi com a Fábrica Palmeira, assim como foi com o Reservatório Paes de Carvalho, essas grandes estruturas muito bonitas e simbólicas que Belém tinha e perdeu. Que sirvam de exemplo para que a gente cuide bem do que nos resta”.

Planta da Fortaleza da Barra do Pará.
📷 Planta da Fortaleza da Barra do Pará. |Divulgação

Saiba mais:

A – Entrada ou corredor

B – Corpo da guarda

C – Ermidas

D – Armazém para pólvora com duas portas

E – Armazém para o mesmo apetrecho

F – Secretta com via para as águas da praia

G – Subida para a artilharia

H – Casamatas

I – Respiradouro para sair o fumo do fogão das peças

L – Escadas

M – Muralha e parapeito

N – Terrapleno

Fonte: Planta da Fortaleza da Barra do Pará. Fonte Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, disponibilizado no livro Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará, de Augusto Meira Filho.

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