O cenário econômico nada animador, fomentado por uma legião de 14 milhões de desempregados, é apenas um dos reflexos da pandemia no Brasil. Com pouco dinheiro circulando e baixos índices de contratação formal, o jeito é recorrer à informalidade. Somente na capital paraense, quase três mil pessoas exercem algum tipo de atividade autônoma. São vendedores que comercializam de todo: alimentação, vestuário, serviços e todo tipo de trabalho que gere renda.
São pelo menos cinco horas ao dia, necessárias para que a vendedora Daniela Souza, 41, possa comercializar em média 100 chopes. É do comércio informal que a autônoma sustenta a família, com a ajuda do marido, que vive na mesma situação. A viagem longa, de Marituba até o centro de Belém, é apenas o começo da labuta, que muitas vezes termina após quilômetros de caminhada por todas as ruas da região da avenida Presidente Vargas, passando pelo bairro da Campina, até o mercado do Ver-o-peso. “São cinco anos nessa atividade. Tem dia que as vendas são boas, mas tem dias que são muito fracas. Mas de um tempo para cá eu sinto que as pessoas estão comprando mais, gastando mais, saindo de casa, e isso é bom para todo mundo que compra e vende”, avalia.
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Há 40 anos, o vendedor de picolé Odílio Reos dos Santos, 57, faz do centro comercial o seu local de ganha pão. Famoso entre os feirantes espalhados pela rua João Alfredo, ele comercializa quase uma centena de produtos para o sustento da família. “Algumas lojas estavam fechadas por aqui e hoje já funcionam. É um processo longo, ano passado estava bem ruim, no início ainda estava, e aos poucos as coisas estão se ajustando. Sinceramente, eu espero que volte como era antes. Não tem condições de trabalhar com pouca gente circulando, pouco dinheiro”, diz.
PROCURA
Em uma cidade com temperaturas acima dos 30º não é difícil achar quem trabalhe com a matéria prima oposta. Chopes, picolés, sorvetes, guaranás e sucos são um dos principais produtos comercializados. O apelo da necessidade move o paranaense Gerônimo Hilário, 57, a vender suco de laranja. Munido de seu carro e todo aparato para extrair o suco ou apenas vender a fruta, o sulista apostou em Belém há nove anos, movido pelo desejo de vencer na vida. “Eu gosto de trabalhar com venda de suco. Sempre. As pessoas preferem o suco que a fruta. Vendo 100 sucos e uma laranja. Para mim o ideal é aquele que te rende. Acho que estamos tendo a oportunidade de renascer, então vejo que o trabalho nesse momento é o ideal e deveria alcançar a todos.”
Em nota, a Secretaria Municipal de Economia (Secon) diz que estão cadastrados no órgão como trabalhadores informais do segmento ambulante 2.816 permissionários. Entretanto, a Secon destaca que, nesse quantitativo, não estão incluídos os ajudantes desses trabalhadores. A Secon informa que os cursos de formação e qualificação profissional para permissionários cadastrados na Secon foram suspensos desde 2020, por conta da crise sanitária. A previsão da Secretaria é retomar os programas de capacitação e formação a partir de outubro de 2021.
Trabalhadores consideram o auxílio do governo federal insuficiente
Na pequena oficina onde Renato Cordeiro, 25, conserta ventiladores, motores e outros equipamentos, a clientela ainda não está alinhada com os bons tempos, mas a esperança continua das melhores. “É difícil achar que está tudo bem. A gente sabe que as coisas estão fora de ordem, o governo não ajuda como poderia. Esse auxílio não ajuda em praticamente nada, mas como ficamos muito tempo sem perspectiva, é melhor do que nada.”
O trabalho por conta própria, muitas vezes, é o vilão, mas também a salvação. Na visão do mecânico Leandro Basílio, 63, a pandemia não tirou dele o trabalho. “Durante o lockdown foi quando a gente mais atendia. Aqui trabalhamos em três pessoas e sempre tem serviço. Sabemos bem da atual situação, mas graças a Deus, estamos sobrevivendo bem no meio dessa confusão”, avalia.
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