“Em dez anos pouca coisa mudou. Nós, consumidores paraenses, continuamos com a alimentação entre as mais caras do país. O que mudou foi as dificuldades, que estão maiores”, confirma Everson Costa, técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), sobre o estudo que o órgão realizou para verificar a trajetória do preço da cesta básica paraense, nos últimos dez anos. O resultado foi que de 2011 para cá, o valor da alimentação básica aumentou 124,67%, ou seja, mais do que dobrou. E a tendência é que os preços continuem a subir.
Em julho de 2011, o consumidor local gastava, em média, R$232,63 com a alimentação, comprometendo 46,6% do salário mínimo que, na época, era de R$545. Em julho de 2021, uma família formada por quatro pessoas (dois adultos e duas crianças) gastou, em média, R$522,66 com a alimentação básica, no Pará. Esse valor da cesta compromete 51,37% de um salário mínimo, que atualmente é de R$ 1.100.
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Segundo Costa, cerca de 1,7 milhão de trabalhadores paraenses recebem um salário mínimo apenas. “Logo a parcela da população que tem mais da metade do salário comprometida pela cesta básica é considerável”, resume o técnico do Dieese.
Vários fatores influenciam essa alta considerável. “O Pará ainda depende da produção de outros estados. Boa parte do que vai para a mesa do paraense vem de fora e de centros produtores distantes. Pesa ainda o preço do combustível que, somente este ano foram oito reajustes, e o frete fica mais caro. As estradas são ruins”, cita. Para ele, o cenário político brasileiro impacta diretamente na economia. “Temos um elevado índice de desemprego, o preço do botijão de gás está mais caro, a conta de energia também. A inflação está alta. Tudo isso reflete no custo de vida das pessoas. Não há, por parte do Governo Federal, políticas públicas para melhorar isso”, reitera Everson.
RECLAMAÇÕES
O comerciante Wilson Batista, 51 anos, lembra que gastava muito menos com as compras no supermercado. “Mas eu lembro que com R$100 eu comprava muito mais coisas que hoje”, enfatiza. A fala dele se deu logo após ele passar sacolas no caixa do supermercado. As mercadorias couberam em três sacos de tamanho médio e custaram cem reais no total. “Foi apenas para completar a despensa”, comenta. Por mês Wilson gasta quase R$ 3 mil em alimentação e na casa dele moram seis pessoas. “Está cada dia mais caro, mesmo a gente comprando menos”, desabafa.
A dona de casa Marli Lima, 57, também se ressente da inflação nas gôndolas. “Apenas comprei o que faltava na geladeira. Gastei R$ 400 em poucos minutos e no início do mês já tinha feito compras”, comentou. “Tudo está caro. Há dez anos, certamente com R$400 eu abastecia a casa e ainda sobraria dinheiro”, disse. Otávio Santos, 38, trabalha em um restaurante. Ontem (25), precisou reabastecer o estoque de carne e hortaliças. Comprou apenas três cortes de carne e mais alguns temperos e verduras. “Já fiz o cálculo no celular, vai dar R$ 260. Veja bem, essas compras são só para repor o que usamos para preparar o cardápio”, atenta o auxiliar de cozinha.
DIFERENÇAS - CESTA BÁSICA
- Julho/2011:
Valor da cesta básica: R$232,63
Salário mínimo: R$545
- Julho/2021:
Valor da cesta básica: R$522,66
Salário mínimo: R$1.100
- Variação: 124,67%
FONTE: DIEESE/PA
Leite também acumula alta de 7,47% desde 2020
O autônomo Hamilton Santos, 56 anos, olha marca por marca das caixas de leite líquido à venda na prateleira do supermercado em busca do preço mais em conta. O motivo se explica pela alta que o produto tem apresentado ao longo dos meses. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), em padarias e supermercados de Belém, o produto teve alta acumulada de 7,47%, no comparativo de julho deste ano com o mesmo mês de 2020.
A mesma pesquisa apontou que o leite líquido em caixa de 1 litro até apresentou recuo de preço entre alguns dos sete primeiros meses de 2021, mas no apanhado geral desse período também teve alta de quase 6%, no comparativo entre julho e junho, quando o litro do leite cresceu 5,60% e foi comercializado a R $5,47 nas prateleiras. Em julho de 2020, chegou a custar R$ 5,09.
“A verdade é que todas as marcas estão com preços nada em conta, assim como os demais produtos que estão constantemente aumentando. Por conta disso, a gente abre mão da marca que gostamos porque está mais caro e temos que levar uma marca inferior que nem está tão barata assim”, disse o autônomo Hamilton Santos.
Além da pesquisa pela marca e estabelecimento, a troca do leite líquido pela versão em pó não tem sido tão eficaz aos consumidores. “Não compensa, primeiro porque as medidas ou peso não são equivalentes em relação à caixa. Ou seja, pacote de 200g do leite em pó é quase o preço do litro, imagina os de outras pesagens, sei que rende mais, mas também estão caros. Então, o melhor é comprar menos e economizar em casa”, concluiu Simone Freitas, 45, promotora.
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