
O câncer, de maneira geral, é a segunda causa de morte no Brasil e no mundo, ficando atrás apenas das doenças do sistema circulatório. Quando se considera especificamente as mortes causadas por doenças relacionadas ao trabalho no mundo, o câncer passa a ser a enfermidade que mais conduz ao óbito. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 666 mil mortes ao ano são causadas por câncer relacionado ao trabalho em todo o mundo, número duas vezes maior do que das mortes relacionadas aos acidentes laborais.
Epidemiologista e Chefe da Unidade Técnica de Exposição Ocupacional, Ambiental e Câncer do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), Ubirani Otero considera que existem pelo menos quatro tipos de câncer que têm maior relação com o trabalho, de acordo com a literatura. O primeiro e imbatível é o câncer de pulmão, que tem seu risco aumentado no caso de exposição ao amianto (tipo de minério classificado como reconhecidamente cancerígeno para os seres humanos), a vários tipos de metais, arsênio, sílica, fuligem, poluição do ar, emissões de diesel etc. “A gente considera que, se alguns fatores de risco não existissem no ambiente de trabalho, a gente poderia prevenir 20% dos casos de câncer de pulmão”, relaciona Ubirani.
Depois do câncer de pulmão, a médica aponta que outro câncer que tem maior relação com o trabalho é o chamado Mesotelioma, câncer muito raro que acomete a pleura dos pulmões e que tem um prognóstico muito ruim, com risco de produção de metástases por via linfática. Tal câncer está estritamente relacionado à exposição ao amianto. Há ainda o câncer de bexiga, que também é um câncer muito importante e que, segundo Ubirani Otero, também está muito ligado à exposição ocupacional de vários tipos, como no caso da ocupação como pintor, pessoas que trabalham em contato com corantes, com a fuligem, entre os profissionais que atuam na indústria da borracha, na fabricação de pneus e ainda vários outros processos industriais.
Além do câncer de pulmão, do Mesotelioma, e do câncer de bexiga, a médica também aponta os cânceres do sistema hematológico, como a Leucemia e os linfomas, como um dos que possuem uma maior relação com o trabalho. “Isso tem chamado muito nossa atenção nos últimos anos, principalmente porque a Leucemia tem ganhado destaque entre os dez tipos de câncer que mais acometem a população brasileira. Então, envolve a exposição a vários tipos de solventes, incluindo o benzeno que também está presente em postos de combustíveis, tem a exposição a Formaldeído [popularmente conhecido como formol] que é outro tipo de produto que é utilizado em múltiplos processos de trabalho, desde os anatômicos nessa conservação de peles, conservação de madeira, e no Brasil, com particularidade, as escovas progressivas”, aponta a médica.
Quando se considera a exposição a riscos que podem levar ao desenvolvimento de câncer, há ainda as exposições a alguns agrotóxicos, que também causam grande preocupação; assim como o câncer de pele que tem ganhado destaque também como um tipo relacionado ao trabalho, considerando que existem múltiplas ocupações que desenvolvem suas atividades ao ar livre, como os pescadores, os agricultores, os ambulantes, agentes de saúde etc.
Diante de tais riscos, a pesquisadora do INCA considera que nem sempre o poder de atenuar a exposição a tais agentes está na mão do trabalhador. O que precisa ser feito, portanto, é avançar em políticas públicas que visem a proteção e a promoção da saúde do trabalhador através dos vários agentes envolvidos nesse processo. “Quem pode corrigir um processo de trabalho, geralmente, é o empregador. Mas o trabalhador tem o direito à informação, ele tem direito de reivindicar melhorias nas condições de trabalho”, considera Ubirani Otero.
“No Brasil, infelizmente, ainda se convive com agentes reconhecidamente cancerígenos que não são mais utilizados na União Europeia e nos demais países desenvolvidos há alguns anos. Mas o Brasil tem avançado na legislação ao longo dos anos, a gente tem trabalhado bastante para disseminar a informação e esclarecer, junto com os profissionais de saúde, trabalhando com outras instituições que avaliam risco, então, a gente vem tentando esclarecer e divulgar informação para as pessoas, para os trabalhadores, para que eles também possam identificar os riscos”.
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