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MEIO AMBIENTE

Procura mundial por açaí está destruindo a Amazônia

É o que diz pesquisa divulgada pela Biological Conservation. Nos últimos dez anos houve um aumento de quase 15 mil por cento nas exportações da fruta-símbolo do Pará.

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Imagem ilustrativa da notícia Procura mundial por açaí está destruindo a Amazônia camera Frutos de açaí prontos para a venda no município de Bagre, no Pará. | Ascom Emater

O açaí sempre fez parte da dieta dos paraenses. A frutinha redonda, de cor escura, que cresce em cachos da palmeira Euterpe oleracea, é consumida praticamente todos os dias pelos moradores da região. A fama de seus benefícios nutricionais, rica em antioxidantes, fibras e com alto valor energético, conquistou rapidamente os consumidores de todo o Brasil.

Com o mundo globalizado no qual vivemos, não demorou muito para que o açaí chegasse também ao mercado internacional. Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), nos últimos dez anos houve um aumento de quase 15 mil por cento nas exportações do açaí (14.380% em número exato). Há uma década, eram pouco mais de 40 toneladas vendidas para o exterior. No ano passado, este número pulou para 5.937 toneladas. Apenas entre 2019 e 2020, o setor deu um salto de 51%.

O Pará é o maior consumidor interno e também maior exportador da fruta (na forma de polpa congelada): 95% da produção nacional sai do estado. E para atender esta demanda interna e externa gigantesca, a área plantada, tanto em terra firme como em manejo de várzea, passou de 77,6 mil para 188 mil hectares em dez anos.

Toda essa demanda, porém, trouxe sérios impactos sobre as florestas de várzea onde o açaí é cultivado, conforme revela um artigo científico divulgado na Biological Conservation. O estudo, que tem como autor, o biólogo paraense Madson Freitas, analisou 47 áreas de várzea na região da foz do Rio Amazonas, no Pará, onde é realizado o manejo de açaizeiros.

A pesquisa aponta que, com a derrubada de árvores nativas dessas florestas para expandir o cultivo do açaí, houve redução do número de espécies e funções nesse ecossistema amazônico, caracterizado por matas que crescem à margem de rios de águas barrentas, sujeitas às cheias.

O biólogo explica que o açaizeiro é uma planta acostumada com muito sol e água, já que cresce nas várzeas, que sofrem inundações a cada seis horas. Suas raízes são superficiais e precisam de muitos nutrientes, garantidos justamente pela diversidade de espécies na mata e pelo vai e vem do rio, que traz matéria orgânica para a terra.

O que fica claro para os pesquisadores é como o aumento do manejo para atender a demanda do mercado levou a uma mudança florística e estrutural na floresta de várzea.

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Uma Instrução Normativa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Pará já determina o número máximo de estipes (troncos) do açaizeiro que pode ser colhido por unidade de área, de forma a garantir a produção contínua e o “não comprometimento da população da espécie nas florestas de várzea”. Segundo a legislação, pequenos produtores devem extrair o máximo de 200 estipes e manejar o máximo de 400 touceiras (conjunto de plantas) por hectare.

Todavia, não é isso o que acontece na realidade. A pesquisa liderada por Madson Freitas encontrou até mais de mil touceiras por hectare em algumas propriedades. Por falta de orientação, muitos agricultores acreditam que uma maior quantidade de açaizeiros será garantia de uma colheita melhor no final da safra, embora não funcione dessa maneira.

Em seu primeiro estudo publicado, o biólogo verificou que o manejo acima de 400 touceiras por hectare reduz pelo menos 60% das espécies de várzea. Por esta razão, a recomendação feita através do artigo na Biological Conservation é para que a instrução normativa do estado seja revista e se desenvolva um programa de recuperação florestal com replantio das espécies nativas. O texto também sugere que a fiscalização ganhe reforço e a regulamentação do manejo volte a ser rediscutida por governo, produtores e especialistas.

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