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VISCONDE DE SOUZA FRANCO

Um marco da transição entre a Belém rural e a Belém urbana

Conhecido, inicialmente, como Igarapé das Almas ou das Armas, após o aterramento o local passou a abrigar a movimentada avenida e o canal que, hoje, são tão característicos da Doca

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Imagem ilustrativa da notícia Um marco da transição entre a Belém rural e a Belém urbana camera A avenida Visconde de Souza Franco atualmente | Alberto Bitar/Divulgação

Diante da modernidade dos prédios e construções instaladas ao longo da avenida Visconde de Souza Franco é até difícil imaginar, mas a conhecida Doca já foi marco de uma transição entre a Belém urbana e a Belém rural. Conhecido, inicialmente, como Igarapé das Almas ou das Armas, após o aterramento o local passou a abrigar a movimentada avenida e o canal que, hoje, são tão característicos da Doca.

O historiador Antônio Carlos Lobato, ou Loro da Doca, como é conhecido, explica que a área onde hoje se tem o canal da Doca era ocupada pelo Igarapé das Almas ou das Armas, uma região de palafitas e muitas vacarias. Na época, as águas da Baía do Guajará seguiam pelo caminho até a altura de onde hoje se encontra o Ginásio Altino Pimenta. “Essas vias transversais à Doca eram terrenos de granjas, de fazendas e vacarias, locais de criação de vacas para a produção de leite”, explica o professor. “As águas da Baía vinham até a frente do Ginásio Altino Pimenta, então, a Doca vai chegar mais ou menos ali na frente do Altino Pimenta e da Tabaqueira, onde os barquinhos atracavam”.

Antônio Carlos Lobato, historiador.
📷 Antônio Carlos Lobato, historiador. |Divulgação

O professor destaca que existem algumas teorias para o nome do antigo igarapé. Uma delas aponta que ele seria o desaguar de outro igarapé, o Igarapé da Cruz das Almas, que já fica próximo à Praça da República, considerando que aquela região do Igarapé das Almas ou das Armas seria uma área de encontro dos vários igarapés que cruzavam Belém com a Baía do Guajará. Já a outra teoria está relacionada à Revolta da Cabanagem. “A teoria das armas é que ali era um ponto de esconderijo de armas dos cabanos. Ali foi um ponto de confronto porque as tropas que desembarcaram para reprimir a Cabanagem, desembarcaram ali pela Pedreira e vieram avançando, então, as armas têm esse sentido ligado à Cabanagem e as almas têm sentido com esse outro igarapé Cruz das Almas que já fica próximo à Praça da República”.

Antônio Carlos Lobato explica, ainda, que o período de ocupação da área em que hoje se encontra a avenida Visconde de Souza Franco ocorre durante o século XIX. Já no século XX tem início a metamorfose do Igarapé das Almas ou das Armas, que passa a ser todo aterrado e pavimentado. “Isso ocorre, principalmente, entre os anos 60 e 70. Durante a Ditadura Militar, o período do chamado milagre econômico, as grandes obras de infraestrutura ocorriam no Brasil todo e ocorreu aqui em Belém no sentido de urbanizar a região para valorizá-la economicamente”, aponta o historiador. “É aí que a Doca começa a sofrer um processo de gentrificação e de elitização que vai ser concluído em 1972, quando a avenida Visconde ou Doca de Souza Franco é inaugurada”.

Fonte Belém Antiga
📷 Fonte Belém Antiga |Fonte Belém Antiga
Fonte Belém Antiga
📷 Fonte Belém Antiga |Fonte Belém Antiga

Essa característica que se tem da Doca hoje, inclusive caracterizada como o metro quadrado mais caro de Belém, se dá justamente a partir do aterramento do Igarapé das Almas ou das Armas e da demolição das palafitas que ficavam na região da avenida Marechal Hermes, próximo onde hoje é o Porto Futuro. “A população que acabou sendo afastada, expulsa de lá, acabou indo para a região da Nova Marambaia. E aí a Doca começa a se tornar um espaço de verticalização a partir dos anos 80 e 90, quando tem o grande boom, e principalmente nos anos 90 com os grandes empreendimentos imobiliários chegando”.

Com tantas mudanças ocorridas ao longo do tempo, o cenário avistado hoje é tão diferente de tempos atrás que é até difícil imaginar que, onde hoje se encontra o Canal da Doca, era possível navegar. O professor Antônio Carlos conta que sua família mora na avenida desde 1929 e que seus pais têm boas memórias do cenário que se via em um passado não tão distante, evidenciando a velocidade com que as transformações ocorreram no local. “Meu pai contava para gente que nos anos 60 as embarcações iam até o Ver-o-Peso, então, a Doca do Igarapé das Almas era navegável até a altura do Altino Pimenta, onde tinha, inclusive, uma espécie de pequeno mercado”, conta o historiador. “Foi uma mudança muito rápida. Minha mãe tem 68 anos e ela se lembra dessa Doca das palafitas, onde você tinha que atravessar para a Jerônimo Pimentel ainda em ponte de madeira”.

Entre as construções mais antigas que ainda persistem na avenida, está um prédio que hoje abriga uma farmácia e onde se lê na fachada, ainda como resquício do seu uso no passado, “Manufactura de Fumos Democrata”. Às proximidades, passando a avenida 28 de Setembro, outro prédio icônico é o da Tabaqueira, que há mais de 100 anos estaria em funcionamento no local. Funcionário da loja há 20 anos, o atendente Nazareno Pinheiro Correia, 44 anos, conta que é comum que, ainda hoje, pessoas entrem no local para saber curiosidades sobre a loja. “Muita gente entra e pergunta quanto tempo tem a loja. O que os donos relatam é que a loja tem 100 anos, sempre trabalhando com artigos de tabacaria em geral e durante um período também trabalhou com artigos de pesca”.

Ainda que as mudanças acompanhadas por Nazareno datem de duas décadas para hoje, ele conta que os mais antigos têm sempre muitos relatos sobre a avenida Visconde de Souza Franco. “Os antigos contam que entravam os barcos até aqui próximo, vendiam cerâmica e produtos de alimentação. Isso era tudo rio e acabou virando uma avenida de grande comércio, movimentada”.

Souza Franco

Bernardo de Souza Franco, que recebeu o título de Visconde de Souza Franco por ter atuado entre o conselho de ministros do Imperador, foi um jurista que nasceu em Belém e se tornou governador do Estado entre 1839 e 1840, no período pós-cabanagem e que acabou sendo homenageado no aterramento e na abertura da avenida, dando nome à via. Para o historiador Antônio Carlos Lobato, Visconde de Souza Franco recebeu tal homenagem, provavelmente, por ter sido um dos personagens que lutou primeiro pela adesão do Pará à independência na Revolta de 14 de abril de 1823.

Um marco da transição entre a Belém rural e a Belém urbana
📷 |Divulgação
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