Marcada pela presença do túnel de mangueiras centenárias que se tornou símbolo da cidade de Belém, a avenida Generalíssimo Deodoro guarda outros aspectos fundamentais para compreender parte da história da capital paraense. Rua central da cidade, a larga avenida que já abrigou os trilhos do bonde elétrico, acolhe ainda duas instituições de assistência médica centenárias, serviços que ainda hoje ajudam a compor a identidade da avenida.
O professor do curso de história da Universidade da Amazônia (Unama), Diego Pereira Santos, destaca que a avenida Generalíssimo Deodoro tem um papel interessante no oferecimento de diversos serviços, sobretudo no campo da assistência médica, tornando- se tornando uma grande referência neste sentido.
“É uma rua central em que você tem diversos serviços oferecidos e, dentre eles, talvez um dos principais é a questão da assistência médica, especialmente em relação à Santa Casa de Misericórdia, que é secular em Belém, vem desde o século XVII”, destaca. “A Generalíssimo passou a ser, também, uma via de integração, especialmente com a região do Umarizal, que era uma área onde habitava, no século XVIII e XIX, a população mais pobre”.
Inserido na área compreendida pelo bairro do Umarizal, na esquina da avenida Generalíssimo com a rua Bernal do Couto, o prédio histórico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará chama a atenção para a longa trajetória da instituição. Fundada ainda no século XVII, a então Irmandade Santa Casa de Misericórdia do Pará se tornou referência no atendimento de pessoas carentes, passando por transformações ao longo dos séculos. O prédio que ainda hoje se vê no início da avenida Generalíssimo Deodoro foi inaugurado no dia 15 de agosto de 1900 para abrigar o novo ‘Hospital de Caridade’ da fundação.
Além da Santa Casa, o professor Diego Pereira Santos destaca que o Hospital Dom Luiz I, da Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Pará, é outra referência em assistência à saúde localizada na avenida Generalíssimo.
“A Beneficente Portuguesa também faz parte desse contexto da assistência médica, que também foi fundamental, inclusive, no processo de ocupação portuguesa em Belém. Ele passou a ser um hospital de referência, inicialmente para os portugueses, mas que também tem um grande papel para essa questão assistencial não somente a pessoas de Belém, mas até mesmo de clérigos vindos de outros locais”, aponta. “o Hospital faz parte dessa trajetória dos próprios portugueses e também de outros grupos sociais na nossa cidade”.
Registros antigos do hospital apontam a presença da construção histórica em um período em que a avenida Generalíssimo Deodoro ainda era caracterizada por uma estrada de terra, com pouquíssimas construções ao redor. Em outro momento, já em 1875, um registro do hospital feito pelo fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza mostra uma avenida já com os trilhos do bonde elétrico, porém, com uma característica ainda muito próxima da rural, incluindo a presença de vacas que pastavam livremente no entorno do prédio. O cenário em nada se parece com a urbanizada avenida que, hoje, recebe a circulação intensa de pedestres e veículos.
Dentre os muitos carros que estacionam na avenida hoje, alguns são cuidados pelo guardador de carros Carlos Alberto Gomes, 79 anos. Há pelo menos oito anos ele trabalha no local, mas a relação com a avenida vem de muito antes disso. Nascido na Generalíssimo, já na altura do bairro da Cremação, ele vem acompanhando ao longo de mais de sete décadas as mudanças vivenciadas pela via.
“Essa avenida mudou muito. Antigamente era estreitinha e lá para as bandas da Cremação era ponte de madeira”, recorda. “Agora é essa avenida bonita, movimentada”.
REPÚBLICA
Para compreender o processo histórico de formação da avenida Generalíssimo Deodoro, o professor do curso de história da Universidade da Amazônia (Unama), Diego Pereira Santos, lembra que é importante refletir, também, sobre o contexto que fez com que uma avenida central da cidade homenageasse Deodoro da Fonseca, que assumiu a liderança do movimento da Proclamação da República do dia 15 de novembro de 1889.
O professor lembra que havia um corpo de militares de baixas patentes que começou a advogar em relação à República, porém, a figura do Deodoro da Fonseca é evocada porque ele representava um consenso entre as altas e as baixas patentes.
“No momento em que se instaura a República, a ideia era trazer, também no processo das transformações urbanas da cidade, nomes que tinham tido uma importância fundamental em relação a essa constituição da República e, aí, lógico, trazer a figura do Deodoro da Fonseca era importantíssimo”, considera.
“E ele é lembrado não só como general, mas, agora, pela referência de generalíssimo, dando então, essa ênfase à sua participação enquanto militar que ajuda nesse processo da Proclamação da República, que é um dos personagens principais. A partir daí se pensa na promoção dessa memória republicana naquilo que fica para a cidade”.
O NOME
Generalíssimo Deodoro
Nome anterior: Estrada 2 de Dezembro
A Avenida Generalíssimo Deodoro homenageia Manuel Deodoro da Fonseca, que teve participação ativa na Guerra do Paraguai, tendo atuado em muitas batalhas que cobriram de glórias o Exército Brasileiro. Proclamador da República, foi chefe do Governo Provisório durante a transição política que marcou o fim do Império.
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