Olhares atentos, curiosos e cheios de esperança ao ver que a vida que pulsa na palma da mão, agora ganha a oportunidade de voltar ao seu ambiente natural para crescer e multiplicar. Foi esse o sentimento presente nas pessoas que participaram da soltura de quelônios do projeto Pé-de-Pincha, ocorrida no último sábado (12) na Fazenda Aliança, no lago Piraruacá, município de Terra Santa, Oeste do Pará. Foram devolvidos à natureza 18 mil filhotes de tartarugas, tracajás e pitiús, somente na soltura desse dia.
Em função da pandemia e adoção dos protocolos de saúde e segurança, essa foi uma soltura simbólica, contando com a participação de um número reduzido de pessoas. As demais solturas desta temporada ocorrerão ao longo desta semana em outras comunidades de Terra Santa. No total, serão soltos na natureza mais de 24 mil filhotes.
O Pé-de-Pincha, que já completa 22 anos, é desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com a parceria da Mineração Rio do Norte, prefeituras municipais, comunitários e demais parceiros para garantir a conservação de quelônios na Amazônia. “A soltura é momento que se valoriza a vida. Os filhotes são sementes lançadas ao rio para que se espalhem em outras localidades. Para se ter uma ideia, uma tartaruga solta no lago Piraruacá chega até aos igarapés do Nhamundá, percorrendo uma grande distância. Isso significa que o trabalho feito aqui não só mantém e aumenta os animais no lago, mas também repovoa todas as outras áreas”, explicou o professor Paulo Cesar Andrade, coordenador do Pé-de-Pincha pela UFAM.
Jonas Pessoa, secretário de Meio Ambiente de Terra Santa, comemora o saldo positivo do projeto para o município, que iniciou com uma proteção de 99 ninhos de quelônios e hoje existem mais de mil ninhos protegidos. “Essa evolução é muito importante. Além disso, o projeto, que iniciou em Terra Santa, está expandindo também pelo Amazonas. O mais gratificante desse trabalho é que ninguém faz nada sozinho. Todos os parceiros são fundamentais para a conquista desses resultados. A MRN financia o projeto, por meio da Universidade Federal do Amazonas; a Prefeitura de Terra Santa fornece o apoio para toda fiscalização e logística interna; e os voluntários se dedicam e se doam para fazer o projeto acontecer. Toda essa união é muito gratificante”, celebrou.
Para o empresário Estones Machado, que reside em Manaus, é sempre uma emoção participar do Pé-de-Pincha, que tem um capítulo especial na sua história. “Sou um dos fundadores do projeto. Tenho orgulho de ter contribuído para criar uma iniciativa como essa. Estamos há 22 anos soltando nos rios da Amazônia mais de 6 milhões de quelônios. Mais do que um belo exemplo para a sociedade, é a preservação da história para a humanidade”, disse emocionado.
A dona de casa Adelaide Bentes afirmou que não gosta de perder nenhuma soltura, até porque gosta de ajudar a irmã, que está diretamente envolvida no projeto. “Faço sempre um esforço para vir. Acho bonita essa atitude da preservação da espécie. É um trabalho gratificante e com certeza daqui há um tempo, nossos filhos, nossos netos, bisnetos e tataranetos vão ver este trabalho com mais carinho”, declarou.
Os comunitários são envolvidos em todas as etapas do processo: desde a identificação das covas dos ovos até a ida dos filhotes para os berçários, onde os filhotes permanecem até o momento da soltura dos animais nos lagos e rios de origem. “Tenho muita alegria em participar do projeto, que acompanho desde o início, inclusive minhas filhas nasceram junto com o projeto”, comemorou a agricultora Maria de Jesus Pereira.
Genilda Cunha, analista de Relações Comunitárias e coordenadora do Pé-de-Pincha pela MRN, destacou a importância do ciclo da vida dos quelônios para o meio ambiente e para as pessoas. “Temos orgulhos desse projeto. Ao mesmo tempo que vemos essa multiplicação dos filhotes e milhares deles retornando ao meio ambiente, também observamos a conscientização ambiental de cada morador da comunidade. Eles têm um brilho no olhar único ao participar de cada soltura e perceber que conservando os quelônios, outras espécies também poderão ser preservadas. Isso para nós é recompensador e motivacional”, declarou.
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