Os gastos com supermercado representam cerca de 42% do consumo das classes C e D no Pará. O dado foi levantado pela Pesquisa de Hábitos de Consumo da Superdigital, fintech do Grupo Santander, e alerta para o impacto que vem sendo gerado pela inflação dos alimentos na renda dos mais pobres. Entre os 11 estados analisados pela pesquisa em todas as regiões do país, o Pará registrou o segundo maior percentual de gasto com supermercado (42%), ficando atrás apenas de Pernambuco, com 43%.
Segundo a pesquisa realizada pela fintech no mês de dezembro de 2021, os principais gastos com o cartão, entre as classes C e D no Pará, foram com supermercado (42%), seguidos pelos gastos com lojas de artigos diversos (10%) e lojas de roupas (9%). Em comparação com o cenário nacional, o percentual destinado aos gastos com mercado pelos paraenses é maior do que a média registrada no país, que é de cerca de 36%.
CEO da Superdigital, Luciana Godoy aponta que, naturalmente, os gastos com alimentação costumam representar uma participação muito grande nos hábitos de consumo entre os clientes analisados pela pesquisa. A pesquisa, realizada mensalmente, utiliza a base de dados da Superdigital, conta de pagamento que abrange usuários em todo o país e que fazem compras todos os meses por meio de cartão.
“A Superdigital é uma conta de pagamento, uma conta pré-paga. Somos uma empresa do grupo Santander e o nosso foco é trabalhar principalmente com o público das classes C e D. Então, todos os meses fazemos uma pesquisa de uso na nossa base: o que o nosso cliente está comprando?”, explica.
“Naturalmente, nós sempre temos uma participação muito grande de alimentação e supermercado porque é a compra básica. No Brasil, isso gira em torno de 36% e no Pará é até mais alto, chegou a 42% em dezembro de 2021”.
A percepção de que grande parte da renda mensal é destinada aos gastos com alimentação é sentida a cada mês na casa da dentista Jacilene Garcia, 31 anos. Diante da necessidade de comprar os produtos que garantam a alimentação de dois adultos, um bebê e ainda dois cachorros, ela conta que os gastos com supermercado são sempre os mais altos do orçamento.
“Ainda mais quando se tem criança em casa, o gasto com a alimentação é muito grande. Com certeza é o que consome a maior parte da renda”, considera. “Muita coisa a gente já deixa de comprar quando não tem jeito de substituir. Durante as compras a gente vai observando o que mais necessita e prioriza”.
ESTRATÉGIA
Priorizar os itens mais necessários também é a estratégia da funcionária pública Estela Almeida, 50 anos, além da pesquisa de preço. “A gente procura, dentro daqueles itens que não podem faltar, o mais barato, a marca mais em conta. Ainda assim está difícil porque está tudo muito caro”, avalia. “Eu geralmente faço essa pesquisa de preço para levar o que está saindo mais em conta”.
Já a comerciante Ana Célia Gomes, 57 anos, aponta que costuma avaliar não apenas o preço, mas também o benefício agregado a ele. Ela considera que, algumas vezes, a opção mais barata acaba não atendendo às necessidades da família, por isso, é preciso haver um equilíbrio. “Está tudo muito caro. Cada vez que a gente vai às compras, está mais caro. Não tenho dúvida que a alimentação, hoje, é a maior despesa”, avalia.
“Como é uma despesa que a gente não pode abrir mão porque é necessidade básica, a gente vai atrás das preferências da família, mas considerando tanto o custo, quanto o benefício. É preciso avaliar bem porque, às vezes, acaba não compensando levar o mais barato, então tem que achar o meio termo e ir substituindo”.
Planejamento ajuda a equilibrar gastos
Diante de um gasto essencial, por vezes é difícil encontrar uma forma de fugir dos preços elevados dos itens de alimentação. Porém, com planejamento financeiro e estratégias simples, é possível buscar diminuir o desperdício e fazer o melhor uso possível da renda, dentro da realidade de cada família.
Coordenador do Grupo de Educação Financeira da Amazônia (GEFAM) e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), o educador financeiro Alexandre Damasceno aponta que, quando se trata dos hábitos de consumo da população e as estratégias para driblar as altas nos preços, não se pode deixar de considerar que a inflação sentida pelas classes mais baixas é muito maior do que a sentida pelas classes mais altas. Isso porque a maioria dos trabalhadores com rendimento de um salário-mínimo, por exemplo, enfrenta uma defasagem salarial que não acompanha a inflação. “O que valia R$1.000 em janeiro de 2021, passou a valer R$900. Então, além de ter esse gasto no supermercado porque está aumentando muito os preços, existe toda uma relação macroeconômica que leva a esse processo”.
Sem deixar de considerar essa realidade, o professor aponta que algumas medidas podem auxiliar as famílias a buscar reduzir o desperdício e os gastos desnecessários durante as compras no supermercado. Alexandre Damasceno considera que existem dois momentos cruciais em que podem ser adotadas estratégias para fazer o melhor uso dos recursos nas compras de alimentação, o anterior à ida ao supermercado e o posterior. Dentro dessa perspectiva, acompanhe as orientações repassadas pelo educador financeiro.
Dicas para Antes das compras
1 – Observe o seu poder de consumo
O poder de consumo varia de acordo com cada família. Ainda que uma pessoa tenha um salário igual ao do colega de trabalho, cada um tem uma condição familiar diferente, já que um desses trabalhadores pode ter uma família constituída por três filhos e o outro apenas por um filho, por exemplo, fazendo com que as prioridades de consumo de cada família possam ser diferentes. Nesse sentido, antes de ir ao supermercado, o ideal é observar a realidade e as prioridades de consumo da sua família. “Mesmo que eu diga para economizar em determinado item ou que você compre determinado produto mais barato, a gente não sabe se na família tem uma pessoa doente que precisa de uma alimentação diferenciada, por exemplo. Então, são vários aspectos muito individuais que precisam ser observados”, considera Alexandre Damasceno.
2 – Não abra mão da lista de compras
As pessoas que compram sem a referência do que realmente se está precisando, acabam comprando coisas desnecessárias e, muitas vezes, mais caras. Antes de fazer a lista, inclusive, deve-se observar com calma os produtos que são necessários comprar naquela semana ou naquele mês, assim como as quantidades necessárias. Então, a lista ajuda a evitar desperdício.
3 – Evite comprar no 5º dia útil
O educador financeiro Alexandre Damasceno considera que, pelo fato de o 5º dia útil de cada mês ser o dia em que geralmente é depositado o salário da maioria dos trabalhadores no Brasil, nesse período do mês, normalmente, os preços nos mercados estão mais elevados. Então, o ideal é evitar ir ao supermercado no 5º dia útil.
4 – Estabeleça um limite para a compra
Alexandre considera que é preciso pensar sobre qual é o valor que a alimentação tem dentro do processo dos gastos da família. “A pessoa vai precisar estipular um limite para esse gasto. Se o consumo da minha família com itens de alimentação é de R$400, por exemplo, eu preciso saber que só posso gastar R$400. O ideal é que a pessoa já vá ao supermercado com esse limite estipulado para não cair naquela armadilha de, por ter dinheiro ‘no bolso’, como no dia em que ela recebe o pagamento, por exemplo, achar que pode ir comprando. Se ela agir dessa forma, depois vai faltar para as outras despesas”.
5 – tente comprar determinados produtos no atacado
Quando possível, pode-se tentar articular com pessoas da família ou amigos próximos para comprar determinados produtos em atacado, dividindo depois os itens e as despesas entre as pessoas participantes do acordo. Porém, é preciso ter cuidado com os produtos que se pode comprar dentro dessa estratégia. O ideal é usar esse método para comprar produtos não perecíveis, que tenham tempo de validade maior, que se possa comprar em estoque e guardar por um período maior.
6 – Considere comprar produtos similares que tenham um preço menor do que costuma consumir
Já que os preços estão mais elevados, é preciso pesquisar os preços dos produtos similares ao que se está habituado a comprar para verificar se não há opções mais em conta. Alexandre Damasceno aponta que, normalmente, esses produtos similares ou de marcas mais baratas estão localizados nas prateleiras abaixo da visão do consumidor, ou seja, nas prateleiras mais baixas dos supermercados.
7 – Priorize a compra dos produtos mais necessários, de que não se pode abrir mão
Durante as compras, priorize os itens que você sabe que não podem faltar na alimentação da família. O ideal é deixar as compras de itens mais supérfluos ou dos quais se pode abrir mão para o último plano.
8 – Fique atento às promoções
O educador financeiro aponta que é comum que, nos mercados, se coloque em promoção itens que estão próximo do vencimento do prazo de validade. Nesses casos, é preciso avaliar se realmente aquele item é necessário, se ele está dentro da sua lista de compras e se a validade vai compensar comprar em quantidades maiores para aproveitar a promoção ou não. O que pode acontecer é a pessoa, na ânsia de aproveitar o preço mais em conta, comprar uma quantidade do produto que não conseguirá consumir a tempo, antes do vencimento. Quando isso ocorre, o que era para ser uma vantagem (a promoção) acaba se transformando em prejuízo e desperdício.
9 – Cuidado com as compras no cartão de crédito
Fazer as compras no cartão de crédito só vale a pena para quem é organizado com os gastos, pagando sempre o valor cheio da fatura todos os meses. Caso não haja essa disciplina, deve-se evitar ao máximo usar o cartão de crédito.
10 – Avalie se é possível comprar frutas e verduras nas feiras livres
Quando possível, priorize as feiras livres para as compras de frutas, verduras e hortaliças. Além de contribuir com a economia local, é possível negociar e comprar mais barato. Outra estratégia é deixar para comprar as frutas e verduras próximo do período de fechamento das feiras naquele dia, quando normalmente os preços baixam.
DEPOIS DAS COMPRAS
11 – CONSUMA OS ITENS MAIS ANTIGOS PRIMEIRO
Ao chegar em casa após as compras no mercado, organize os produtos de forma que os itens mais antigos fiquem à frente no armário, e os mais novos para trás. Com isso, será possível evitar o risco de o produto mais antigo acabar vencendo antes de ser consumido.
12 – BUSQUE AUMENTAR O TEMPO DE CONSERVAÇÃO DAS FRUTAS E VERDURAS
Quanto mais secos forem mantidos os legumes e hortaliças, maior será o seu tempo de duração. Ao comprar os legumes, é possível já higienizá-los e secá-los para armazená-los corretamente. Outro cuidado é com as frutas que, quando próximas das outras, acabam fazendo com que as demais amadureçam mais rápido, como é o caso do tomate e da banana, por exemplo. Nesse caso, o ideal é armazená-los isolados das outras frutas e verduras.
13 – MANTENHA UM CONTROLE FINANCEIRO
Para que se busque equilibrar os gastos com alimentação e as demais despesas é fundamental manter um controle financeiro. “O que é um controle financeiro? É a pessoa saber o quanto ela gastou em cada mês. Observando isso, ela vai saber onde ela pode ‘apertar’ e onde ela pode ‘afrouxar’. Se houver, por exemplo, uma pequena sobra de dinheiro - o que é difícil, mas, dependendo da renda da família pode acontecer - ela pode guardar esse dinheiro ou comprar produtos que possam ser estocados minimamente por um mês”, considera Alexandre. “Estocando uma quantidade pequena de feijão ou arroz, por exemplo, a pessoa já sabe que ela vai poder diminuir essa compra no outro mês. É como se fosse uma poupança do supermercado”.
Dezembro de 2021 foi de alta no consumo
Ainda que o gasto com supermercado retenha o maior percentual de gastos entre as classes C e D no Pará, o consumo dessas classes apresentou crescimento em dezembro de 2021, em relação a novembro do mesmo ano. De acordo com a Pesquisa de Hábitos de Consumo da Superdigital, a alta do consumo no Pará foi de 23,8% em dezembro.
A CEO da Superdigital, Luciana Godoy, aponta que tal crescimento tem relação com as festas de final de ano. “A gente acredita que tenha tido um impacto tanto do décimo terceiro, quanto das festas de final de ano. O maior crescimento veio justamente de lojas de roupas, lojas de compras de artigos diversos, supermercados. Esses segmentos cresceram bastante em todo o Brasil”, considera. “O Pará teve um aspecto um pouco diferente ao apresentar um crescimento importante em companhia aérea, o que difere um pouco das demais regiões. Cresceu, também, 30% em consumo de lojas de roupas”.
Para o ano de 2022, Luciana aponta que já se observa uma desaceleração esperada para o mês de janeiro, já que dezembro realmente tem um crescimento atípico em decorrência do décimo terceiro.
“O mês de janeiro foi impactado ainda pela pandemia com a ômicron, mas em fevereiro já observamos um volume melhor. Claro que não é igual a dezembro porque o décimo terceiro faz muita diferença na economia, mas estamos com um olhar otimista, a gente espera uma recuperação principalmente nesses segmentos de varejo”.
SAIBA MAIS
SUPERMERCADO
Participação de gastos com supermercado no valor total de compras por Estado
l Espírito Santo – 33%
l Rio de Janeiro – 34%
l São Paulo – 35%
l Minas Gerais – 35%
l Ceará – 36%
l Bahia – 38%
l Amazonas – 39%
l Rio Grande do Sul – 40%
l Paraná – 40%
l Pará – 42%
l Pernambuco – 43%
Média nacional – 36%
GASTOS
Participação de gastos no valor total de compras no Pará
l Supermercado - 42%
l Lojas de artigos diversos - 10%
l Lojas de roupas - 9%
l Restaurante - 8%
l Combustível - 5%
l Prestadores de serviços - 5%
l Serviços - 5%
l Farmácia - 4%
l Transportes - 2%
l Rede on-line - 1%
l Outros - 9%
Fonte: Pesquisa de Hábitos de Consumo da Superdigital, fintech do Grupo Santander/dezembro de 2021.
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