Inflação? Entenda o que é e como afeta sua vida financeira

A inflação é sentida cotidianamente no bolso dos paraenses, na medida em que o aumento persistente e abrangente nos preços de determinados bens e serviços impacta diretamente no poder de compra das famílias. Exercendo uma influência importante no cálculo do índice geral da inflação, o segmento de alimentação e bebidas é um dos grupos onde esse efeito é evidente. Entre os 30 itens que mais subiram de preço nos últimos 12 meses em Belém, 14 são do grupo de alimentação e bebidas, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Somente no mês de fevereiro deste ano, a inflação na Região Metropolitana de Belém (RMB) apresentou variação mensal de 0,97%, um percentual abaixo do índice registrado no país como um todo, que ficou em 1,01%. Para entender o que tais números significam, porém, é preciso compreender como é feito e o que é consideradono cálculo da inflação.

Analista de pesquisas do IBGE, Luiz Cláudio Martins explica que o senso comum costuma imaginar que a inflação ocorre simplesmente quando aumenta o preço de determinado produto, porém, a realidade é diferente. Para que seja caracterizada inflação, é preciso que haja um aumento persistente e abrangente de determinados preços de bens e serviços. “No cálculo da inflação leva-se em consideração qual é o comportamento dos preços em determinado período e também que preçosestão aumentando”.

Luiz Cláudio explica que o cálculo da inflação leva em consideração nove grupos de produtos e serviços – habitação, transportes, artigos de residência, vestuário, educação, alimentação e bebidas, despesas pessoais, comunicação, e saúde e cuidados pessoais. Em cada um desses grupos são incluídos diferentes itens cuja variação dos preços é acompanhada para que se realize o cálculo da inflação. “Alguns preços aumentam, outros permanecem os mesmos ouaté mesmo diminuem.

No contexto geral, a gente avalia se o aumento de determinado item se sobrepôs à redução ou à manutenção dos preços de meses anteriores e, aí, a gente pode dizer se houve inflação. Quando, na média de preços, há uma elevação nos preços de bens e serviços, há a inflação”, explica. “Mas não se trata de um ou dois produtos. É preciso haver o aumento nos preços de determinados itens, nãoapenas em um ou dois”.

O analista de pesquisas do IBGE aponta, ainda, que os produtos e serviços considerados têm o mesmo peso no cálculo da inflação. Alguns bens e serviços têm maior importância que outros nesse cálculo porque pesam mais no orçamento das famílias, ou seja, as famílias destinam uma parte maior dos seus orçamentos para esses itens. “Quando for fazer o cálculo da inflação, evidentemente, esses produtos que têm um peso maior no orçamento das famílias, vão impactar mais no índice geral”.

ALIMENTAÇÃO

Dentro daqueles produtos que mais pesam no indicador de inflação, no topo está o grupo de alimentação e bebidas. Luiz Cláudio Martins destaca que, nos últimos dois indicadores da inflação, janeiro e fevereiro de 2022, o grupo de alimentos e bebidas esteve entre os que mais influenciaram a inflação na RMB. “Em janeiro, o grupo teve um aumento de 2,03% em comparação com dezembro e em fevereiro ele foi o segundo grupo que mais influenciou a inflação na RMB”, aponta. “Aqui, na Região Norte e na RMB, temos um nível de renda muito baixo entre a população, então, grande parte do orçamentovai para a alimentação”.

Quando se analisa os dados da inflação por essa perspectiva, fica fácil compreender porque ela é sentida diretamente pelos consumidores. O analista de pesquisas do IBGE considera que grande parte das famílias têm uma renda fixa, algumas têm uma renda variável, porém, essa variação é pequena. Nesse sentido, o aumento no preço de itens básicos é imediatamente refletido em um menor poder de compra pelos trabalhadores. “Se uma família tem uma renda mensal de R$2 mil para comprar bens e serviços, quando há aumentos contínuos no preço dos combustíveis, da energia, do aluguel e da saúde, por exemplo, evidentemente aqueles R$2 mil não vão ser suficientes para continuar consumindo a mesma quantidade desses serviços”, contextualiza. “O grande problema disso é que alguns bens e serviços não têm substitutos eficientes, como a gasolina e a energia. Não tem como substituí-los adequadamente e não há como abrir mão daquele produto. Então, é uma situação muito complicada quando você tem produtos que você não pode abrir mão e esses produtos aumentam de preço, sendo que a sua renda não se altera”.

Luiz Cláudio Martins destaca que é exatamente por esse impacto direto na vida da população, sobretudo das famílias de mais baixa renda, que é fundamental acompanhar periodicamente a variação de preços e, mais do que isso, usar tais indicadores para se adotar medidas que venham a amenizar a inflação.

"No cálculo da inflação leva-se em consideração qual é o comportamento dos preços em determinado período e também que preços estão aumentando”, Luiz Cláudio Martins, analista de pesquisas do IBGE.