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HISTÓRIA

Hospital deu origem ao bairro mais populoso de Belém

Início do Guamá remonta ao ano de 1728, mas só quase 20 anos mais tarde foi instalada às margens do igarapé do Tucunduba, uma olaria onde, já no século XIX, foi inaugurado o “Hospício de Lázaros do Tucunduba”, pertencente à Santa Casa de Misericórdia do Pará.

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Imagem ilustrativa da notícia Hospital deu origem ao bairro mais populoso de Belém camera Antigo Hospício dos Lázaros. | REPRODUÇÃO FAU-UFPA

Delimitando os terrenos nos quintais das casas de moradores antigos, as ruínas do que foi um dos pavilhões do antigo Hospital de Lázaros do Tucunduba são o resquício ainda presente de parte da memória de formação do bairro do Guamá, em Belém. Com uma longa e diversa história de ocupação e desenvolvimento, o bairro apontado pelo último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como o mais populoso de Belém tem na instalação de um hospital que servia de isolamento para pessoas acometidas pela hanseníase um dos marcos do seu processo de urbanização.

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A certidão de nascimento do que, mais tarde, viria a se tornar o bairro do Guamá data de 1728. A carta de sesmaria do século XVIII registra a concessão daquela área pelo então Governo do Grão-Pará e Maranhão para Theodoro Soares Pereira, um nobre sesmeiro português que viria de Portugal para ocupar essas terras. Mais tarde, já em 1746, na área extensa e inabitada os Mercedários fundaram a chamada ‘Fazenda Tucunduba’ e, às margens do Igarapé de mesmo nome, foi instalada uma olaria que deveria auxiliar na produção de tijolos e telhas para a cidade de Belém que crescia. Foi exatamente nas ruínas dessa olaria que se instalaria, já no século XIX, o chamado “Hospício de Lázaros do Tucunduba”, depois que a área da fazenda passou à propriedade da Santa Casa de Misericórdia do Pará.

Ruínas do hospital.
📷 Ruínas do hospital. |Mauro Ângelo - Diário do Pará

Nascido no Guamá, o historiador José Messiano Trindade Ramos conhece bem a história que está atrelada à memória da formação do próprio bairro. Ainda criança, ele mesmo costumava brincar no denso muro formado por tijolos amarronzados que até hoje está presente no quintal da casa de sua família e de outros vizinhos. Quando mudaram para o local, já em 1961, os avós maternos de José Messiano já encontraram a casa adaptada, mas mantiveram, no quintal, o muro formado pelas ruínas de um pavilhão do antigo hospital fundado no século XIX.

A curiosidade gerada ainda na infância pelas histórias contadas pelos avós em relação à parede do hospital, mais tarde, levou o historiador a desenvolver uma pesquisa sobre o tema, que resultou no livro ‘Entre dois Tempos: uma breve história do bairro do Guamá’. Durante a pesquisa, o professor pôde constatar, justamente, a íntima ligação entre o hospital e o início do processo de urbanização do bairro. “Por volta de 1816 foi instalado nas margens do Igarapé Tucunduba um hospital que servia quase que exclusivamente para isolar do convívio social as pessoas que eram atingidas por uma doença que, na época, não tinha cura e era chamada de ‘lepra’, a hanseníase. Era uma doença que causava muito pavor nas pessoas porque, além de ser incurável naquela época, existia uma carga de preconceito muito grande sobre ela que vinha desde a antiguidade”.

Ainda que alguns atendimentos fossem realizados no local, o professor conta que o hospital tinha como objetivo primeiro isolar as pessoas com hanseníase, daí a decisão de instalar o complexo em um bairro que, à época, era isolado do centro da cidade. Apesar disso, familiares que iam visitar seus parentes internados acabaram constituindo moradia às proximidades do hospital. “Essa área era distante, isolada, quase inabitada e inacessível para os moradores da cidade. Esse, inclusive, foi um dos motivos que fizeram com que se instalasse o hospital aqui nessa região. Depois que a olaria é desativada, se constrói, improvisando mesmo o que sobrou da olaria, as primeiras habitações do hospital”, relata Messiano Ramos. “Quando as pessoas vinham se isolar para cá, alguns parentes e amigos dessas pessoas que eram obrigadas a ficar isoladas vieram se instalar aqui próximo. Daí surge, também, o processo de urbanização do bairro a partir do hospital. A nossa tese é que o processo de ocupação dessa parte do bairro surge a partir do leprosário”.

José Messiano: história de Belém também está na periferia.
📷 José Messiano: história de Belém também está na periferia. |Mauro Ângelo - Diário do Pará

Depois de mais de um século de funcionamento, o “Hospício de Lázaros do Tucunduba” encerrou as atividades em 1938, sendo as pessoas doentes transferidas para o antigo ‘Lazarópolis do Prata’, em Igarapé-Açu. Passado um longo período após a desativação do hospital no Guamá, os terrenos da área começaram a ser divididos em pequenos lotes e vendidos. Ainda de maneira improvisada, o bairro foi se expandindo e os próprios moradores foram abrindo as primeiras ruas e passagens. Durante muito tempo, a história da existência do hospital e da prática de isolamento de pessoas doentes exercida naquele período tentou ser silenciada, mas a história segue sendo resgatada. “Essas histórias não podem ser esquecidas porque trazem em seu contexto questões de preconceito sobre as quais é preciso refletir para que não se repitam”, considera o professor Messiano. “É preciso ter um olhar menos preconceituoso sobre esse lugar marcado pelo preconceito desde a sua origem. O bairro do Guamá não é marcado apenas pelos problemas sociais que sabemos que existem, mas também pelo potencial cultural, artístico, político, social e histórico”.

Estrutura de antigo clipper ainda está presente no Guamá

Ainda que a história do antigo hospital se constitua como um importante resgate de parte da história de formação do Guamá, vários outros pontos históricos estão presentes no bairro, como as feiras, igrejas, terreiros de umbanda e mesmo um antigo clipper, que ainda hoje funciona como parada de ônibus na avenida Barão de Igarapé-Miri.

Clipper, tipo de parada de ônibus da década de 50.
📷 Clipper, tipo de parada de ônibus da década de 50. |Mauro Ângelo - Diário do Pará

Os chamados clippers eram espécies de paradas de ônibus, construídas em alvenaria, e que abrigavam pequenos negócios, sejam lanchonetes ou cafés. Em meados da década de 50, existiam clippers em diferentes pontos de Belém, incluindo a Praça do Relógio e onde hoje se encontra o Centro Social de Nazaré, dentre outros locais. No bairro do Guamá, na avenida Barão de Igarapé-Miri, a estrutura do antigo clipper instalado no local ainda pode ser vista, apesar de ter passado por modificações ao longo dos anos.

Herdando a profissão do pai, o sapateiro Carlos Augusto Soares Pinto, 53 anos, trabalha no local e constantemente é perguntado sobre a estrutura. “O que a gente sabe é que existiam esses clippers em vários bairros e esse aqui é um que permanece. A estrutura mudou um pouco, mas continua suprindo a necessidade da população”, considera. “De vez em quando aparecem historiadores, professores, estudantes que perguntam sobre a história do clipper. É um ponto de referência do Guamá”.

Carlos Augusto herdou a profissão do pai.
📷 Carlos Augusto herdou a profissão do pai. |Mauro Ângelo - Diário do Pará

A necessidade de valorização de espaços de memória como esse também é destacada pelo professor José Messiano Ramos. “O objetivo do livro é esse também: fazer com que os moradores não só do bairro, mas também da cidade, percebam que na periferia nós temos história. A história de Belém não está concentrada só no Centro Histórico, mas também nas periferias ocupadas pelas pessoas que labutam, que trabalham, que vivenciam muitas experiências aqui e que constroem as suas histórias”.

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