Quando a pandemia de covid-19 chegou a São Caetano de Odivelas, no nordeste paraense, a agricultora Miriam Sanches, encontrou no manguezal o local ideal para seguir o isolamento social e assim se proteger contra o coronavírus. O marido dela, que trabalha na “tiração” de caranguejo, não estranhou a mudança. Ele já tinha no mangue a segunda casa mesmo. O casal construiu um barraco numa ilha distante cerca de 15 minutos de barco da orla da cidade.
A palafita fica num ponto de encontro dos igarapés ‘Maguari que saúda’ e ‘Tajapuru’, atrás da ilha do Marinheiro. Uma localização estratégica, se podemos dizer, já que fica próximo de onde passam as lanchas de passeio que levam e trazem os adeptos da prática da pesca esportiva - um dos principais atrativos do turismo odivelense.
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O que Miriam – que também é conhecida por Mery – não imaginava é que a nova morada seria um espaço de conhecimento das vivências sobre o mangue. Aliás, 54% do território do município é de ecossistema de manguezais. Pescadores esportistas e turistas passaram a estacionar suas embarcações próximo a choupana do casal e perguntar se vendiam refeições (almoço).
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Vacinada contra o coronavírus, ela e o marido passaram a receber os visitantes, oferecendo o cardápio pitoresco que tem como base o caranguejo. “O meu marido tira o caranguejo na hora e eu preparo”, diz sobre o principal item do cardápio, que, às vezes, vem acompanhado de um feijão feito na lenha e farofa.
“A minha casa não é um restaurante tradicional. É um lugar onde eu posso preparar algo que ajuda as pessoas a conhecerem um pouco de como vive o tirador de caranguejo, que é o meu marido. Mostramos a importância de preservar o mangue”, acrescentou. “Quem tem coragem sai com o meu marido para tirar o caranguejo ou ver como é. Muita gente não conhece e tem curiosidade de viver isso”, pontuou Miriam.
São Caetano de Odivelas é conhecida como a terra do caranguejo. Nos melhores períodos para essa cadeia econômica, os tiradores chegam a pegar até 25 mil unidades por dia no mangue.
A palafita onde o casal mora atualmente foi erguida em madeira e palha e tem dois pavimentos acima do solo de argila. Cada andar é um quarto com cama de casal. Um deles tem ainda uma espécie de sala de estar. Apesar da rusticidade, a ornamentação tem todo um toque de carinho, com bibelôs e flores.
Para chegar até o barraco, é preciso caminhar por um trapiche e uma passarela feita com troncos de árvores sobre a lama de mangue. No que seria o quintal, Miriam fez uma horta suspensa e um galinheiro. O casal capta água da chuva para lavar roupa e tomar banho. Para beber e cozinhar, compram água mineral na cidade. O fogão é de barro. Até o gato de estimação eles levaram e o felino aprendeu a dormir nas árvores.
O casal dispõe de uma placa solar que alimenta uma bateria que garante iluminação à noite e o funcionamento de um telefone rural. “Quando as pessoas vêm almoçar, elas ligam avisando. É justamente para a gente se programar”, comentou Miriam.
A casa deles na cidade ainda existe. Ela vai toda semana limpar e verificar como está o imóvel. Questionada sobre esta experiência que oferece para o turismo, Míriam é enfática. “O que a gente pede é que conheçam a importância de tudo isso. Aqui a gente recolhe os plásticos que a maré traz e fica nas margens. Fala sobre o período de defeso, que é quando a gente não recebe ninguém, a menos que queiram um peixinho para almoçar”, concluiu.
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