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DIVERSIDADE

O relato de quem ocupa vaga diversa e inclusiva

Para muitos, mais do que um emprego as vagas de trabalho também são a garantia e o reconhecimento de um direito

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Imagem ilustrativa da notícia O relato de
quem ocupa vaga diversa e inclusiva camera Operador industrial Kaio Araújo, ao lado da noiva Sophia, precisou enfrentar preconceito até conquistar um posto de trabalho | Arquivo Pessoal

Quando a oportunidade de ingressar no mercado de trabalho surgiu para o operador industrial Kaio Araújo, 30 anos, o que estava em jogo era muito mais do que um emprego, mas também a garantia e o reconhecimento de um direito. Atuando há quase dois anos na empresa depois de ter acessado o emprego a partir de uma vaga de diversidade, ele aponta a diferença que a oportunidade pode fazer na vida de uma pessoa.

Kaio lembra que o processo que resultou na oportunidade que ele esperava iniciou com a participação de sua noiva em um evento na mesma empresa que, mais tarde, viria a se tornar o seu local de trabalho. Mulher trans e filiada à Rede Paraense de Pessoas Trans (REPPAT), a advogada Sophia Assunção foi convidada a ministrar uma palestra na empresa sobre pessoas trans no mercado de trabalho, além de contar um pouco da sua experiência de vida e profissional. Foi a partir deste contato que Sophia perguntou se não haveria uma oportunidade de trabalho para Kaio, seu noivo e um homem trans. “Durante a palestra ela falou sobre a experiência de vida dela. Ela explicou a situação de que, mesmo sendo uma pessoa que tem uma formação acadêmica e que estava dando os primeiros passos no mercado de trabalho com muito esforço dela, normalmente, para nós pessoas trans o mercado de trabalho ainda é muito hostil e excludente”, lembra Kaio. “Depois, conversando com a pessoa que faz esse processo seletivo na empresa, ela perguntou se não haveria uma oportunidade para o namorado dela, que já estava procurando emprego há bastante tempo e não conseguia”.

Kaio lembra que, antes do emprego atual, ele já havia tido uma experiência profissional em outra empresa, porém, quando ele ainda não havia feito a transição de gênero. Depois de precisar deixar esse emprego para cuidar da avó, ao tentar voltar para o mercado de trabalho ele sentiu a diferença de tratamento nos processos seletivos quando os entrevistadores identificavam que ele era um homem trans. “Eu passei por outros processos de entrevista, mas todos foram muito complicados, porque eu já tinha transicionado e as pessoas, quando me viam com a imagem que eu tinha e o nome que eu tinha – eu ainda não tinha retificado o nome também – era uma questão de exclusão. Eu ia para a entrevista e me deixavam de lado, me tratavam com repulsa”, lembra. “Eu percebia uma diferença no tratamento quando percebiam que eu era um homem trans e isso me entristecia até na hora da entrevista porque eu ia precisando do emprego, mas quando isso acontecia, eu pensava que era melhor não ficar com o emprego se fosse para eu ser tratado daquela maneira”.

Passado um ano da palestra feita por Sophia, ela e Kaio receberam a ligação que trazia a oportunidade que ele esperava. “A gente já tinha até esquecido, já estávamos morando juntos e ela recebeu uma mensagem da empresa perguntando se o namorado dela já estava trabalhando. Primeiro, agendaram uma entrevista comigo e foi assim que eu fiz todo o processo seletivo. Hoje eu vou fazer dois anos nessa empresa e dou tudo de mim”, conta o operador industrial. “Para mim, não quer dizer somente um trabalho na minha vida, quer dizer humanidade, dignidade. Foi o meu trabalho que me deu dignidade para, hoje, eu poder estar comprando a minha casa, para hoje ter tudo o que eu quero dentro da minha casa e poder contribuir com a pessoa que batalhou junto comigo”.

OPORTUNIDADES

Para Kaio, a inserção no mercado de trabalho formal traz oportunidades não apenas para ele, mas também para outras pessoas trans. “Quando uma pessoa vê isso em outra pessoa trans, tira aquele pensamento de que ela não consegue, de que ela não merece. Eu entrei também pela questão de ser um homem trans em uma empresa que tem nome e essa questão da inclusão é muito importante para salvar a vida das pessoas, abrir uma porta para uma pessoa que está precisando muito”, considera. “As empresas não sabem o quanto existem pessoas trans, travestis, LGBT em geral que são muito esforçadas e talentosas, que se dedicam muito e isso tinha que ser muito notório no mercado de trabalho”.

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