Influenciada por ideias de liberdade e em favor de um Brasil independente da coroa portuguesa, a história da imprensa no Pará tem o seu marco inicial ainda no século XIX, com o nascimento do primeiro jornal a ser produzido e impresso na então Província do Grão-Pará, o jornal ‘O Paraense’. Lançado em 22 de maio de 1822, o jornal pioneiro da imprensa em toda a região Norte do Brasil foi impresso em uma tipografia trazida da Europa e foi dirigido por importantes nomes da história paraense, como o advogado e político Felipe Patroni e, mais tarde, o cônego Batista Campos. Era apenas o início de uma longa trajetória da imprensa paraense que, 160 anos mais tarde, vivenciaria o nascimento do DIÁRIO DO PARÁ.

Os desdobramentos da Revolução Liberal do Porto e da instituição da Lei de Liberdade de Imprensa em Portugal foram decisivos para que Felipe Patroni, de volta à Belém depois de um período estudando em Portugal, se empenhasse para dar vida ao ‘O Paraense’. Não foi à toa que a primeira edição do periódico publicou, na primeira página, parte da Lei de Liberdade de Imprensa, instituída no ano anterior, em 04 de julho de 1821. Durante o tempo em que se manteve em funcionamento, até a 70ª edição, a linha liberal foi a prevalente no jornal.

Impresso às escondidas, inicialmente, o periódico não se furtava em atacar o governo da então Província do Grão-Pará, o que acabou resultando na prisão e transferência de Felipe Patroni para Lisboa. É quando assume a direção do jornal o cônego Batista Campos, que mais tarde teve uma participação importante nos desdobramentos que resultaram na Cabanagem. Antes disso, enquanto ainda estava à frente do jornal, Batista Campos também foi preso e ‘O Paraense’, então, foi assumido pelo cônego Silvestre Antunes Pereira da Serra. Os esforços de manter o periódico, porém, não foram suficientes e o mesmo foi empastelado pelos militares em 1823, já depois de proclamada a Independência do Brasil.

A exemplo de ‘O Paraense’, vários outros periódicos foram surgindo ao longo do século XIX. Citando o levantamento feito pelo ‘Catálogo dos Jornaes Paraenses’, o historiador Aldrin Figueiredo aponta, no artigo ‘Páginas Antigas: Uma introdução à Leitura dos Jornais Paraenses, 1822 a 1922’, que no período de menos de um século, de 1822 a 1908, chegaram a circular no Pará cerca de 730 jornais, sendo 722 impressos em português, 4 em espanhol, 3 em italiano e um em francês.

Alguns desses periódicos tiveram curta duração, mas entre os mais longevos se destaca o ‘Diário do Gram-Pará’, fundado em 1853, o primeiro jornal de circulação diária do Estado. Mais tarde, em 1876, também tomou as ruas ‘A Província do Pará’, fundado por Joaquim José de Assis, Francisco de Souza Cerqueira e Antônio Lemos, sendo este último o conhecido intendente de Belém responsável por grandes mudanças urbanas na capital paraense. As disputas políticas da época levaram, inclusive, opositores de Antônio Lemos a incendiar a sede do periódico, localizado à Praça da República, já em 1912. Na no século XX, a imprensa paraense vivencia um período de mudanças não apenas no conteúdo produzido, mas também no uso de tecnologias empregadas.

DIÁRIO foi às ruas para se contrapor a Ditadura

Já na segunda metade do século XX, mais precisamente em 1982, o contexto vivenciado no Estado do Pará era outro. À época, a sociedade brasileira experimentava um período de mudanças, frente a expectativa da realização de eleições para governador nos Estados brasileiros, a sinalização de um caminho democrático depois de anos de Ditadura Militar. É justamente neste contexto de luta pelas liberdades democráticas que nasce, em 1982, o DIÁRIO.

Professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ana Lúcia Prado lembra que desde a fundação de ‘O Paraense’, ainda no século XIX, a imprensa surge muito interligada à política. “A imprensa nasceu com essa perspectiva inicial de ser um espaço de publicização e posicionamentos políticos. A gente vê isso quando analisa a história de Felipe Patroni, que lançou o ‘O Paraense’, o primeiro jornal oficial do Pará, e a partir daí o jornalismo paraense passou por várias fases”, contextualiza. “No caso do DIÁRIO, ele nasce em um contexto em que, em 1982, a disputa para a eleição se concentra basicamente em dois grupos”.

Na iminência da primeira eleição para governador, a disputa se dava entre a oposição e os partidos derivados da Ditadura Militar. “Lá atrás, no cenário político que se tinha em 1982, o surgimento do DIÁRIO foi importante porque precisava-se de um veículo que pudesse fazer contrapontos, mas, sobretudo, um veículo que nasceu como a possibilidade de dar voz ao outro lado. A disputa para governador era entre o Senador Jader Barbalho (MDB), que era oposição ao que naquele momento era o PDS, antiga ARENA, o partido dos militares”, lembra. “Destaco a importância do ponto de vista histórico do jornalismo no Pará, do surgimento de um jornal que claramente tinha um objetivo político de alavancar a eleição ao Governo, mas que foi muito importante no cenário ainda da Ditadura Militar, já que em 1982 ainda vivíamos a ditadura. O jornal surgiu neste contexto e se consolidou”.

Jornais paraenses nasceram em meio às disputas políticas
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