Apesar do título de Cidade das Mangueiras, Belém tem apenas 22,3% de arborização das vias públicas, de acordo com a pesquisa do Censo de 2010. Concentradas nas áreas centrais da cidade, como nas avenidas Presidente Vargas e Nazaré, as árvores símbolo da cidade foram plantadas na época da Belle Époque e promovem um corredor verde numa pequena parte da capital. Porém, longe do centro, duas principais vias de escoamento da cidade - avenidas Almirante Barroso e Augusto Montenegro -, são bem menos arborizadas.
Em uma cidade onde a temperatura alcança a temperatura máxima de 33 graus ao meio dia e o índice Ultravioleta é 13, o extremo na escala de medição da Organização Mundial da Saúde, conforme com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE), a ausência das árvores impacta diretamente na sensação térmica e, consequentemente, no conforto da população.
De acordo com o professor André Farias, do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (UFPA), a arborização das áreas urbanas está relacionada a benefícios de pequeno, médio e grande impacto para o ecossistema da cidade e o bem-estar populacional. Novas mudas precisam ser plantas não somente nas áreas centrais da cidade, mas também na periferia, já que muitos moradores dessa última vivem uma realidade de falta de políticas públicas para a manutenção de boas condições ao meio ambiente.
“A arborização é importante para todo o município. Os benefícios são uma melhor infiltração da água da chuva, diminuindo as enchentes. Na medida que você tem uma arborização, você tem áreas que permitem uma melhor infiltração, inclusive com proteção das nascentes, nós temos várias na Região Metropolitana de Belém. Outro benefício é para o microclima, porque a copa das árvores gera uma diminuição das ondas de calor. Se você não tem arborização, você vai usar mais ar condicionado e, consequentemente, destinar mais dinheiro para pagar conta de energia”, explica o professor.
BIODIVERSIDADE
Para pensar na arborização do meio urbano é preciso levar em consideração a manutenção e conservação das áreas verdes remanescentes, fontes da biodiversidade e sustento. “O terceiro benefício é o auxílio na manutenção da biodiversidade. Temos uma fauna riquíssima na Amazônia que flutua nas árvores das ruas e as áreas verdes remanescentes, como o Bosque Rodrigues Alves, Parque Estadual do Utinga e as próprias ilhas. É importante porque a biodiversidade circula das áreas verdes para a arborização urbana. O quarto fato tem muito a ver com a nossa cultura na Amazônia. Nós temos uma relação com a arborização de alimentação, um fator de segurança alimentar, com as mangueiras, os açaizeiros, que acabam matando a fome de muita gente”, afirma André Farias, professor da UFPA.
Em contrapartida, a retirada constante de áreas verdes na Região Metropolitana de Belém, relacionada ao processo de urbanização e verticalização da cidade, com a construção das grandes avenidas, prédios e condomínios de luxo, ocasiona mudanças climáticas tanto globais como locais. Um exemplo dos impactos da ausência dos vegetais são as recentes chuvas e ventanias fortes na capital, que causam prejuízos em bairros afastados do centro.
“Se você não tem uma rede de proteção a partir do vegetal, porque as árvores protegem tanto pelas raízes e pelas copas, está mais suscetível de acontecer essas situações. Se você segrega o vegetal, deixa só um, ele enfraquece”, disse André Farias.
PLANEJAMENTO
Para o professor, um planejamento que promova a arborização da cidade é a principal ferramenta para dirimir os impactos ambientais. “Você não pode tirar uma arborização de uma avenida e não repor essa arborização. Para cada árvore tirada, teriam que ser plantadas duas ou três, tanto nas laterais quanto nas ruas adjacentes. Se você não repõe esse vegetal, a natureza vai cobrar”, afirma.
Segundo ele, ao plantar uma muda, o impacto é imediato para a o meio ambiente urbano. “Na medida que um vegetal começa a crescer, vai absorver gases tóxicos e liberar oxigênio, porque a arborização é como filtro ambiental, a cidade é menos poluída se tem mais arborização. Depois tem os benefícios imediatos, já que uma árvore de pequeno porte é depositório de microrganismos, tem animais que depositam ovos naqueles locais. Ao atingir o porte ideal, ela tem um serviço mais amplo. Imediato ou de longo prazo, a arborização traz benefícios”, conclui o professor do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA.
Você não pode tirar uma arborização de uma avenida e não repor essa arborização. Para cada árvore tirada, teriam que ser plantadas duas ou três. Se você não repõe esse vegetal, a natureza vai cobrar”.
Sol é adversário implacável quando faltam proteções
A população tem observado mudanças profundas na paisagem natural da cidade, principalmente em relação à presença das árvores. Para quem sai todo dia de casa para trabalhar e pegar ônibus, por exemplo, o sol é o principal adversário, já que cada vez mais a cidade é concretada, o que contribui para uma temperatura maior.
Josilene Pereira, 36 anos, trabalha o dia todo caminhando pela cidade e sente na pele a falta dos vegetais. “No Conjunto Maguari, falta muitas árvores. Algumas áreas do Cordeiro também são muito quentes e acho que falta mais árvores. Aqui também, na Augusto Montenegro, tinha bastante e hoje em dia não tem mais. Ainda tem a BR. Se tivesse um incentivo para arborização, melhoraria essa questão do calor porque, quando a gente está em uma área com bastante árvores, é completamente diferente o ar”, disse a auxiliar de produção.
Para o biólogo Leon Pereira, de 29 anos, o poder público deve fazer um planejamento para definir o tipo ideal do vegetal a ser plantados nas vias da capital. “Aqui em Belém sempre foi assim. A gente não tem espaço adequado para não ficar no sol, não temos arborização adequada. Aqui na Augusto Montenegro a gente percebe que ainda tem alguma coisa, mas tem lugares que não tem nem parada de ônibus e nem árvores onde a gente consiga ter esse suporte contra o sol. Mas aí tem outra questão, tem que ver a espécie que vai ser florestada porque tem algumas que não são compatíveis aqui. Acho que teria que ter todo um planejamento para escolher a espécie ideal para ser plantada em área urbana”, finalizou.
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