O empresário paraense que tentou explodir um caminhão de combustível no Aeroporto Internacional de Brasília pode ser um dos financiadores do acampamento bolsonarista montado há 58 dias em frente ao Quartel General do Exército na capital da República. O nome de George Washington de Oliveira Sousa aparece em registro societário ligado ao comércio de combustíveis.
O filho dele, de 33 anos, que leva o mesmo nome do pai, tem participação em uma empresa também ligada ao comércio de combustíveis cuja sócia aparece atrelada a uma extensa rede de postos em pelo menos 11 municípios do Pará, além de Belém, e em cidades do Maranhão, Amapá e Roraima.
O trabalho de investigação, que identificou essa rede familiar de comércio de combustíveis, foi feito pelo escritor e jornalista, fundador da plataforma “De Olho nos Ruralistas”. As investigações realizadas por Alceu Luís Castilho – que assina matérias na linha investigativa no site The Intercept Brasil – começaram em Belém, com a descoberta de que o terrorista, que está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, foi proprietário da empresa G W de O Sousa & CIA Ltda, ou GW Petróleo, aberta em 2005, na capital paraense.
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A empresa, que não está mais no nome George Sousa, mas mantém o mesmo CNPJ, pertence agora a Paulo Sergio da Silva Lopes e Sebastião José de Souza e chama-se Petróleos Miramar. Paulo Sérgio é o elo de ligação com a família de George Washington Sousa, preso preventivamente com base na Lei do Terrorismo.
George Washington de Oliveira Sousa, o Filho, abriu, no município de Xinguara, a empresa Cavalo de Aço Empório Gourmet, registrada como G W De O Sousa Filho Restaurante, que fica em um posto de combustíveis cujo nome é Cavalo de Aço. Essa empresa está registrada com a razão social Posto Cavalo de Aço Ltda. As sócias têm, por coincidência, o mesmo sobrenome do agora presidiário e de seu filho. São elas: Francisca Alice de Sousa Reis e Michelle Tatianne Ribeiro de Sousa.
Acontece que Francisca Sousa, por coincidência ou não, é sócia de Paulo Sérgio em uma transportadora, aquele mesmo Paulo Sérgio que sucedeu a George Washington de Oliveira Sousa, o pai, na empresa em Belém que hoje tem o nome de Petróleos Miramar.
Francisca e Paulo Sérgio aparecem como sócios em CNPJs na Transportadora Patriarca Ltda, a Transpal, que mantém unidades em Belém, Marabá e Marituba, no Pará, em Açailândia, no Maranhão e em Santana, no Amapá. Francisca e Paulo Sérgio também aparecem como sócios em uma empresa autorizada a transportar cargas perigosas.
Francisca Sousa aparece como sócia em postos de combustíveis em 11 municípios do Pará. São eles os postos: Goiabeira, em Aurora do Pará; Super Posto Pioneiro e Auto Posto Tourão, em Tucumã; Posto Vitória, em Ananindeua; Auto Posto Goianésia, em Goianésia do Pará; Posto São Miguel, em São Miguel do Guamá; Posto Gol, em Marabá e em Ourilândia do Norte; Auto Posto Pará Sul, em São Félix do Xingu; Super Posto Dois Mil, em Marituba; Auto Posto Parasão, em Redenção; e Posto Santa Clara do Rio Araguaia, em Palestina do Pará. É também proprietária do Auto Posto Vila Nova e Posto Bernardo Sayão, em Imperatriz, no Maranhão; Super Posto Dimalice, em Alto Alegre, em Roraima; e Auto Posto Serra do Norte, em Axixá do Tocantins.
Os elos se ligam ainda em empresas de comércio de combustíveis e em consultorias em agropecuária em nome de Paulo Sérgio da Silva Lopes, que tem como sócia outra integrante da família Sousa, Sinelvanda de Sousa Silva. Michelle Tatianne Ribeiro de Sousa, que é sócia de Francisca Alice de Sousa Reis no posto de combustíveis Cavalo de Aço, onde funciona o restaurante de George Washington de Oliveira Sousa Filho, tem sociedade com Francisca e Sinelvanda em vários outros postos de combustíveis no Pará e em quase todos os estados da Amazônia Legal.
Polícia caça segundo envolvido na tentativa de atentado
A Polícia Civil do Distrito Federal procura o parceiro de George Washington de Oliveira Sousa, segundo suspeito de planejar um atentado terrorista com a explosão de um caminhão de combustíveis no Aeroporto Internacional de Brasília. O envolvido é o bolsonarista Alan Diego dos Santos Rodrigues, de 32 anos, citado em depoimento pelo empresário paraense que confessou participação na tentativa de explodir um caminhão. O suspeito está sendo procurado no Distrito Federal e em outros estados do Centro Oeste. Nas últimas eleições municipais, em 2020, ele foi candidato a vereador pelo PSD em Comodoro, cidade que fica a 640 quilômetros de Cuiabá, no Mato Grosso, mas não conseguiu se eleger.
Alan Rodrigues mantém em suas redes sociais várias fotos tiradas em Brasília com apoiadores de Jair Bolsonaro, que deixa o cargo no próximo domingo, dia 1º de janeiro. Entre os que aparecem nas fotos ao lado do foragido estão: Magno Malta, senador eleito (PL-ES); Hélio Lopes, deputado federal (PL-RJ); José Medeiros, deputado federal (PL-MT); Daniel Silveira, deputado federal (PTB-RJ); Zé Trovão, deputado eleito (PL-SC).
Algumas fotos foram tiradas quando os dois envolvidos em atos terroristas, George Sousa e Alan Rodrigues, participaram de audiência pública no Senado, em novembro deste ano. A Polícia do Senado já identificou quem autorizou os dois investigados por cometer ato terrorista a entrar na Casa Legislativa, onde a entrada só é possível mediante autorização de um senador.
A audiência foi convocada por um grupo de parlamentares bolsonaristas para discutir “anomalias” no processo eleitoral. Os participantes criticaram o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por descartar questionamentos sobre a segurança das urnas e atacaram a atuação do ministro Alexandre de Moraes.
O paraense George Sousa ficará preso por tempo indeterminado. A decisão foi tomada pela juíza Acácia Regina Soares de Sá, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, durante audiência de custódia do acusado. Em seu depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, Sousa apontou Alan como um dos manifestantes acampados no Quartel-General do Exército que teria ajudado no atentado. “Eu entreguei o artefato a Alan e insisti que ele instalasse em um poste de energia para interromper o fornecimento de eletricidade, porque eu não concordei com a ideia de explodi-lo no estacionamento do aeroporto. Porém, eu soube pela TV que a polícia tinha apreendido a bomba no aeroporto e que o Alan não tinha seguido o plano original”, disse o paraense.
George Sousa viajou do Pará ao Distrito Federal em uma camionete de sua propriedade no início de novembro e frequentou o acampamento em frente ao quartel-general do Exército, onde acontecem atos antidemocráticos. Em paralelo, ele manteve alugado um apartamento no setor Sudoeste de Brasília, onde acabou sendo preso ao tentar fugir.
Ele será autuado por porte e posse ilegal de arma de fogo e pode ser enquadrado nas penas da Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016, que regulamentou o crime de terrorismo.
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