O antigo ditado popular “filho de peixe, peixinho é” carrega diversos significados quando é falado. Além dos valores familiares, muitos crescem e acabam seguindo o caminho de trabalho que foi percorrido por alguém que o inspira, seja pelo pai, ou seja pela mãe.
Emanuel Cassiano era um apaixonado por música, tanto que quando ainda estava vivo acabou montando uma aparelhagem, mas com o passar do tempo escolheu outra atividade: venda de discos de vinil. Entre um cliente e outro, as negociações eram acompanhadas de perto pelo filho, que descreve o pai como “herói e grande influenciador da profissão”.
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Com o passar dos anos, o menino cresceu e se tornou dono de uma das lojas mais antigas e conhecidas de Belém quando o assunto é venda ou compra de vinil. “Já trabalho com esses tipos de produtos há 37 anos, ou seja, desde os meus 16 anos estou aqui no bairro de São Brás e pretendo levar essa profissão pelo resto da minha vida”, explica Nando Vinil, como prefere ser chamado.
Aos 53 anos, o empresário lembra com carinho do pai que está eternizado em uma fotografia exposta no estabelecimento. “Quem passa por aqui tem essa curiosidade para saber como eu comecei e eu tenho o prazer de contar do meu pai, uma pessoa que eu tenho muita saudade e que mesmo depois de falecido eu tenho muito orgulho. Foi ele que me ensinou tudo e hoje sinto prazer de estar aqui”, conta.
“Na minha infância e adolescência, ao mesmo tempo em que era uma responsabilidade grande em estar ao lado dele acompanhando as vendas, era também uma oportunidade de extrair ao máximo de toda a experiência que meu pai tinha com os negócios, e claro, eu transformei tudo o que observei em aprendizado e que vou levar até o fim da minha vida, que nem ele”, conclui Nando.
VER-O-PESO
Foi da barraca caprichosamente arrumada com os ingredientes que compõem os famosos banhos de cheiros do Pará que a Edineia Barros, 57, tirou o sustento de todos os filhos. Com poucas palavras, a erveira ressaltou que atua no ramo desde 1984, no Ver-o-Peso, maior feira aberta da América Latina. “Aqui está a minha vida e daqui eu coloquei comida na mesa da minha casa”, disse.
Tanto esforço rendeu a Edineia muita admiração por parte dos filhos e causou inspiração na família. Agora, Joseane Silva, 41, segue os mesmos passos da mãe. “Ela é o nosso orgulho e tudo que somos e que temos é com base no esforço dedicado para nos criar. O que me chama mais atenção é o amor pelo que faz, pois mesmo com os filhos grandes ela vem todos os dias”, detalhou a também erveira.
“Agora é seguir o maior legado que ela poderia nos dar e fazer a diferença para que sejamos cada vez melhor. Essas são virtudes que minha mãe tirou do dia a dia, da luta e da vontade de vencer e ver os seus bem, criados e protegidos. Eu só tenho muito que agradecer pela mãe que eu tenho, pois estamos aqui juntas e continuo aprendendo com suas habilidades de muitos anos”, completou Joseane.
Quem também seguiu os passos do pai foi Denilson Marques, 30, que há 20 anos trabalha no Veropa, como é popularmente conhecido o espaço. De acordo com o feirante, todos os dias, às 5h da manhã, é sempre a mesma coisa: “O despertador toca e começa mais um dia de correria ao lado do meu velho. Então preparamos o material e juntos passamos o dia todo oferecendo hortifrúti”, pontuou.
Denilson revelou que é raro o pai faltar ao trabalho, a não ser em casos especiais. “Como você pode ver, hoje (o dia que o DIÁRIO esteve na feira) eu estou sozinho, mas sempre ele está aqui, com a mesma energia como se fosse mais jovem e é isto que me chama atenção, o amor pelo que faz e eu acabei amando em fazer o que o meu herói faz”, finalizou
TRADIÇÃO
Max Pompeu, 60, é outro apaixonado pela mãe, e a história do comerciante começa na cozinha da própria, que segundo ele, era uma cozinheira de mão cheia e que o inspirou a trabalhar com a venda de comidas típicas pelas ruas de Belém. Dono de um carrinho na avenida Nazaré, próximo a travessa Quintino Bocaiúva, Pompeu lembrou que até hoje, o cheiro do tucupi e da maniva é de saudade.
O comerciante recorda, que o gosto pela culinária paraense começou ainda na adolescência e já dura 49 anos. “Minha mãe acordava cedo para deixar tudo pronto e oferecer o que há de melhor no nosso Pará. Com a partida dela, quem faz tudo sou eu agora… acordo 4 horas da manhã e só fecho no final da tarde, quando o movimento começa a enfraquecer”, afirmou Max.
Apesar de ter escolhido o mesmo caminho do tio, Francisco Ribeiro, 83, afirma que nunca pensou que um dia se tornaria um batedor de açaí. Nascido na Ilha do Marajó, precisamente em Ponta de Pedra, o microempreendedor contou que apanhava o fruto na região e trazia para Belém, onde era vendido na Feira do Açaí, no Ver-o-Peso. foi quando o irmão de sua mãe resolveu começar na empreitada.
“Quando comecei aqui na avenida Alcindo Cacela era apenas um espaço de madeira onde montei o meu ponto. Neste momento, o meu tio desistiu dessa vida, mas como eu havia criado uma expectativa nesse trabalho, então decidi continuar. Agradeço a ele por ter despertado esse desejo em mim e hoje eu tenho um ponto próprio, de alvenaria, e ouso em falar que é o melhor açaí de Belém”, declarou.
Francisco enxerga esse ato, do filho seguir os mesmos passos do pai ou da mãe, como algo emocionante. “Acho que todos os pais queriam, de certa forma, que a prole tivesse a mesma profissão, dependendo da área, claro. Mas vejo que isso é mais raro hoje em dia e acaba que a expectativa se torna outra, que os pequenos cresçam, se formem na área de desejo e sejam bem sucedidos”, finalizou.
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