A interação entre humanos e animais selvagens muitas vezes não é pacífica, gerando consequências negativas para um ou ambos os lados. Quando os rumos das diferentes espécies se misturam, diversos problemas podem surgir, como a caça, desmatamento, perda do habitat natural, danos a colheitas, perda de gado ou até mesmo perda de vidas humanas.
Para evitar que um desses encontros entre a sociedade e a fauna acabe com um resultado adverso, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) decidiu realizar, nesta terça-feira (24), uma ação de conscientização com os moradores da Comunidade Quilombola do Abacatal, localizada na zona rural de Ananindeua, na Grande Belém.
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A ação foi motivada pela aparição rara de uma onça preta, que passou a ser avistada passeando pela área onde vivem cerca de 500 pessoas desde meados de dezembro do ano passado. A quilombola Joana Seabra, de 73 anos, disse ter visto o felino na última sexta-feira (20), por volta das 11h30, em uma área próxima de sua residência.
Diante de mais esse relato, a comunidade solicitou que a Semas tomasse alguma providência a respeito da situação. Então, o órgão decidiu mobilizar uma equipe para realizar a ação de conscientização com os moradores da região para que não matem a onça caso a vejam, uma vez que se trata de um animal ameaçado de extinção.
"Nós entramos em contato com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que é especialista no caso e eles nos repassaram algumas orientações para que iniciássemos o diálogo com a comunidade. Então, estamos aqui hoje fazendo essa conversa com a comunidade sobre algumas ações que vamos fazer daqui pra frente, a começar pelo afugentamento dessa onça", ressalta Luciano Lousada, diretor da Semas, que conta com o apoio de especialistas em felinos do Museu Emílio Goeldi para definir uma estratégia para afugentar o animal da área habitada.
Segundo Lousada, caso a estratégia de afugentamento não alcance o resultado esperado, um possível plano para a captura da onça preta poderá ser colocado em prática. "Nesse primeiro momento, no entanto, nossa intenção é mostrar para a comunidade que a interação entre o homem e a natureza pode ocorrer da melhor forma possível", explicou.
DESMATAMENTO PODE EXPLICAR APARIÇÕES
A Comunidade Quilombola do Abacatal fica distante apenas 8 quilômetros da Rodovia BR-316, em Ananindeua, e possui 138 casas. Por isso, a presença de um felino como a onça preta em áreas próximas a uma escola e à Unidade de Saúde do Abacatal, tem assustado os moradores e intrigado os especialistas na vida selvagem.
Para a quilombola Jéssica Silva não há dúvidas sobre o que teria provocado a inédita presença do felino na região. "Nós notamos que a aparição desse animal só veio à tona depois desse desmatamento desenfreado na região", apontou a moradora.
"Antes disso, nunca tivemos problemas com a fauna ou com a flora. Nós estamos aqui há 312 anos e sempre convivemos em harmonia. Logo depois que começou esse desmaramento, a rota das capivaras se mudou para próximo da comunidade e nós sabemos que a capivara é o principal alimento do felino", argumentou Jessica.
"Então, nós atribuímos essas aparições dentro do território a essa vinda e esse desmatamento desordenado que está acontecendo ao redor", concluiu.
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