Para a socióloga e mestra em ciência política Karen Santos, o feminismo como movimento vem articulando há tempos projetos inclusivos de sociedade, que tiram a mulher da presença coadjuvante e a coloca num patamar de destaque, em um cenário igualitário.
“O machismo não é tão somente estrutural, mas organizacional. Se ele é “onipresente” em todos os espaços de interação, o enfrentamento precisa ser multidimensional, partindo do Estado, das empresas privadas, do associativismo, das entidades de classe, das relações formais e informais. Ações efetivas que compreendam punição, mas também ações educativas que possibilitem o diálogo e a superação das desigualdades de gênero”, reforça.
Em termos históricos, a ocupação das mulheres esteve vinculada ao ambiente doméstico familiar, e para estatística a “economia do cuidado” não conta como valor de mercado. Mas, para a professora e pesquisadora, é justamente a reprodução social do cuidado, a responsável por formar a mão de obra trabalhadora.
“No campo específico do trabalho externo houve uma mudança significativa nas ocupações femininas. De 1872 a 2010 temos uma forte divisão sexual do trabalho, as mulheres maciçamente ocupando o serviço doméstico, enquanto que os homens dominavam o setor da construção civil. O que altera essa dinâmica ao longo do tempo é o acesso das mulheres à escola, ensino básico, médio e universidades. Contudo, a vantagem educacional não rompe completamente a desigualdade profissional, principalmente quando comparamos rendimentos entre os gêneros e as barreiras aos cargos de gerência e direção. Além do que é necessário pensar uma cartografia que localiza essa mulher, já que não é uma categoria homogênea. Mulheres pretas têm mais dificuldade em se inserir no mercado formal do que mulheres brancas, por exemplo”, destaca Karen.
A especialista enfatiza que ainda são muitos os campos de atuação que necessitam da presença de mulheres de forma igualitária, respeitosa e condizente com a sua capacidade de produção, como por exemplo, a presença de mulheres liderando. Para Karen, essa é uma das formas de construção e efetivação de agendas significativas, seja no espaço público ou no âmbito privado.
“Quando se fala de presença vai muito mais além da presença coadjuvante. Para que o ciclo da desigualdade seja quebrado é necessário que o cenário onde isso ocorre seja transformado. O direito e a dignidade no mundo moderno são construções políticas, que por sua vez se transformam em direitos individuais e coletivos. Mais que o discurso de “minoria”, já que as mulheres correspondem a mais de 52% do eleitorado brasileiro, é necessário observar essa agenda como uma discussão da própria ideia de democracia. Não existe igualdade política sem condições de exercício da autonomia subjetiva”, conclui Karen Santos.
Reportagem: Andressa Ferreira
Edição: Kleberson Santos
Edição de vídeos e multimídia: Emerson Coe
Coordenação Sênior: Ronald Sales
Coordenação Executiva: Mauro Neto
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar