O número de entregadores e motoristas de aplicativo tem aumentado de maneira rápida no Brasil, nos últimos tempos. Segundo pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), junto às principais plataformas destes serviços, já são contabilizados cerca de 1,6 milhão de trabalhadores informais nesse serviço no país.
A pesquisa das duas instituições apontou ainda alguns dados detalhados sobre as atividades. Em relação aos motoristas de aplicativos, foi percebido que a idade média destes trabalhadores é de 39 anos, 60% deles têm o ensino médio completo, 62% são pretos ou pardos, enquanto que 35% são brancos, 3% são amarelos, 1% é indígena. E, na questão de gênero, 95% são homens, enquanto que apenas 5% são mulheres.
Já em relação aos entregadores dos aplicativos de comida em motocicleta, a pesquisa apontou que a idade média deles é de 33 anos, sendo que 59% deles possuem o ensino médio completo, 68% são pretos ou pardos, enquanto que 29% são brancos, 2% são amarelos e 1% é indígena. Na questão de gênero, 97% são homens e o percentual de mulheres é ainda menor, com apenas 3% do número de trabalhadores.
Relacionado aos ganhos com as atividades, a pesquisa do Cebrap e Amobitec apontou que os motoristas recebem entre R$ 2.925 a R$ 4.756. Já em relação aos entregadores de delivery, os ganhos variam entre R$ 1.980 a R$ 3.039.
Na realidade, em ambos os casos, os dados apresentados são apenas uma média, uma vez que a própria pesquisa reconhece que a situação dos trabalhadores das duas categorias é variável, com alguns trabalhando de maneira integral, outros apenas como complementação de renda. Realidades dispersas, que podem apresentar situações ainda mais difíceis e complexas destes profissionais, sobretudo relacionadas à precariedade e falta de garantia trabalhistas.
Nesse contexto, em Belém é facilmente observado o grande número de motoristas e entregadores de aplicativo pelas ruas, de dia ou de noite. Na porta de uma lanchonete da cidade, localizada na avenida Nazaré, o jovem Gabriel Silva, 24 anos, aguarda um chamado para realizar a entrega de um pedido. O motivo de ter ingressado na atividade se deve à falta de emprego, e que para conseguir o ganho médio de R$ 2.400 por mês, precisa trabalhar pelo menos 6 horas por dia.
“Concluí o ensino médio e não consegui emprego, foi então que decidi virar entregador de aplicativo. Nesse trabalho, passo umas 6 horas do dia para ganhar uns R$ 2.400, com entregas perto e outras bem longe. É suado, e se eu quiser ganhar mais dinheiro, vai levar mais tempo, mais desgaste, que é algo que não quero e espero não passar muito tempo porque quero seguir nos estudos”, diz Gabriel.
VALORIZAÇÃO
É de maneira intensa no número de entregas, com jornada que às vezes chega a 10 horas por dia, que o entregador de aplicativo Igor Cardoso, 22, se esforça para conseguir a renda mensal que se aproxima dos R$ 3 mil. “É preciso ser assim, porque é desse trabalho que tenho pagado minha moto e mantido outras coisas da minha vida. É trabalhoso, mas lembro que eu poderia estar trabalhando de carteira assinada, umas 8 horas por dia, e ganhar um salário mínimo. Então, vou seguindo sendo entregador de aplicativo”, garante.
Realidade ainda mais cansativa vive o motorista de aplicativo Manuel Nunes, que precisa trabalhar cerca de 12 horas por dia para conseguir renda, que é destinada ao sustento da família, combustível e outras despesas do carro. “Queria eu que tivesse que trabalhar apenas 31 horas semanais para ganhar mensalmente mais de R$ 4 mil, conforme essa pesquisa. Eu preciso trabalhar 12 horas por dia, que na semana equivale a 72h, para conseguir esse valor. Essa é a realidade de quem trabalha com aplicativo, mas se é de onde é tirado o sustento, então tenho que valorizar”, disse o motorista.
Mas, a grande realidade das duas categorias é viver o descaso ou precariedade, uma vez que não possuem a devida renumeração e a garantia trabalhista. “A gente poderia ganhar mais se as corridas fossem pagas com um preço mais justo. Além disso, não temos nenhuma forma de garantia, nem de assistência, porque se acontecer algo a responsabilidade é nossa. Ouvi falar de uma regulamentação dessa atividade que, se vier mesmo, espero que melhore esse trabalho, pois assim tenho certeza que teremos mais prazer em trabalhar, talvez até mesmo tendo esse trabalho como principal fonte de renda”, concluiu Flávio Jacinto, 34, motorista de aplicativo.
INFORMAÇÃO:
Mais detalhes da pesquisa sobre as atividades de entregador e motorista de aplicativos podem ser acessadas no site.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar