Belas e grandiosas. As Samaumeiras são árvores centenárias, donas de uma estrutura robusta e responsáveis por acolher todas as formas de vida — visíveis ou invisíveis aos olhos das pessoas. O verde vibrante das folhas, somado à raiz (chamada de “sapopemas”) e ao extenso tronco de cor cinzenta tornam essa espécie tão atrativa que é quase impossível não admirá-la, especialmente em áreas urbanas, onde residem e resistem.
Belém possui atualmente 18 espécimes de pé, além de 14 mudas que foram plantadas no início do mês de junho ao redor do elevado Daniel Berg. Cada uma delas é dona de um ecossistema único e exerce com fidelidade a função de guardiãs da Amazônia, como são conhecidas.
“Quando uma árvore dessas cai ou quando você é obrigado a retirar por um determinado motivo, junto com ela vai uma quantidade imensa de outras formas de vida que estavam todas dependentes dela”, explica José Amir, engenheiro agrônomo e mestre em biologia vegetal.
A perda de uma anciã
A observação feita pelo especialista faz referência também a uma triste despedida: a samaumeira mais antiga de Belém precisou ser suprimida da praça Santuário no bairro de Nazaré. Parte de sua copa desabou em fevereiro desse ano e, após acompanhamento e estudos, um laudo emitido em maio último apontou que a centenária estava viva, mas sem condições de se restabelecer, apresentando risco iminente de queda de galhos e tombamento.
Quando a artista plástica Celeste Heitmann tomou conhecimento da retirada da samaumeira do CAN, expressou o pesar em uma singela aquarela. O quadro, outrora branco, foi preenchido por dois grandes símbolos que guarda no coração: a imponente árvore e a Nossa Senhora de Nazaré.
“Resolvi pintar ela e a Nossa Senhora juntas porque, para mim, elas são únicas e partilham da mesma caridade. Elas são majestosas, acompanham e aconchegam, especialmente no Círio de Nazaré. Quantos romeiros ela não acolheu com as suas sombras? Quantas lágrimas e vivências ela não presenciou?”, reflete Heitmann.
A retirada da samaumeira na Praça Santuário durou dias. No lugar dessa centenária, capaz de atingir até 70 metros de altura, serão plantadas mudas de ipê-rosa, espécimes que atingem tímidos 12 metros de altura. Embora a estrutura de um ipê-rosa não se equipare à de uma samaumeira, a mudança foi necessária para se adequar ao novo calçamento onde a supressão aconteceu.
Essa escolha para o novo plantio foi pautada também na Lei Ordinária Nº 8.489/2005, que obriga o plantio de, pelo menos, uma nova árvore para cada uma suprimida em terreno ou via pública no município.
Outra lei que as rege é a Lei Ordinária nº 7.709/1994 que torna a espécie patrimônio histórico e ambiental da cidade, motivo pelo qual uma nova samaúma será plantada e o lugar já foi escolhido: o Portal da Amazônia.
Cuidados e preservação
Estima-se que a samaumeira do CAN tenha atingido seus estágios finais de vida, tendo por volta de 150 a 200 anos de idade. Na avaliação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), a expectativa média de vida nos centros urbanos é de 120 anos. Ainda que se reconheça a sobrevida que aquela árvore conquistou, entende-se que é um tempo curto quando comparado às condições ideais em natureza, onde são capazes de viver até 500 anos.
“As árvores que são plantadas nesse sistema viário de praças são manejadas de forma um pouco diferente do que uma árvore que é plantada no Museu Emílio Goeldi porque aqui é basicamente uma floresta, ainda que seja uma floresta plantada, mas ela se comporta próximo de uma floresta natural. Por outro lado, as que estão fora passam por um ambiente com muitas perturbações, elas sofrem mais pela interferência humana”, salienta José Amir, que também integra o setor responsável pela Flora do Museu Emílio Goeldi (MPEG).
+ Veja as fotos da samaumeira centenária que foi retirada do CAN
Práticas como poda irregular, retirar as cascas dos troncos, pregar objetos ou despejar resíduos podem reduzir a qualidade de vida já muito precária. As árvores nos centros urbanos resistem como podem, por isso cabe a todos nós, do poder público à sociedade civil, a responsabilidade de garantir dignidade a esses seres que, mesmo nas adversidades, abrigam e protegem.
Consciência ambiental
Assim como todo ser vivo, o homem está intimamente ligado à natureza. Compartilhar do mesmo espaço não deveria ser uma tarefa difícil, porém atingir uma relação harmoniosa exige esforço coletivo, além da consciência ambiental exercitada diariamente por meio de pequenos cuidados.
Com a escolha de Belém para sediar a COP-30 — um dos maiores eventos climáticos do mundo — as atenções estão voltadas à cidade e suas práticas sustentáveis, da mesma forma como levanta a questão: estamos preparados para mudar a nossa mentalidade até lá?
“O ser humano é uma espécie que está em constante evolução. Quando você pergunta se acha que é possível mudar essa consciência [ambiental], eu acredito que sim. A resposta é essa. Agora, eu não acredito que seja possível dentro de um curto espaço de tempo. Tem que existir um trabalho de conscientização que envolva os poderes públicos e vontade política”, enfatiza o especialista.
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