O Brasil acumula o registro de 718 mil casos de hepatites virais no período de 2000 a 2021, sendo 16.222 apenas no Estado do Pará. O cenário apontado pela última edição do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, divulgado em 2022 pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, chama a atenção para essas infecções que são, hoje, as principais causas de doença hepática crônica, cirrose hepática e câncer hepático.
Para alertar para os riscos da não detecção e, consequentemente, do não tratamento das hepatites virais, neste mês de julho o país vivencia a campanha “Julho Amarelo”, instituída em 2019 como maneira de reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle das doenças.
Caracterizada por uma inflamação no fígado, a hepatite pode ter diferentes causas, que vão desde o contato com alguns vírus, até doenças autoimunes ou metabólicas, e ainda o uso de alguns medicamentos, álcool e outras drogas. No caso das hepatites virais, especificamente, as inflamações podem ser causadas por diferentes tipos de vírus, que são classificados como tipo A, B, C, D (Delta) e E.
O médico infectologista Herbert Cordeiro, aponta que dos 718.651 casos confirmados de hepatites virais no Brasil no período de 2000 a 2021, cerca de 23,4% são referentes aos casos de hepatite A, 36,8% aos de hepatite B e 38,9% aos de hepatite C.
“A região Norte responde por cerca de 25% dos casos de hepatites virais! No Pará a hepatite A responde por 5,3% dos casos nacionais, enquanto a hepatite pelo vírus B corresponde a 1.8% e a hepatite C a 0.9% dos casos”, detalha. “As hepatites B e C são as principais causas de doença hepática crônica, cirrose hepática e carcinoma hepatocelular (câncer). Dessa forma, a carga de doenças resultante das hepatites virais representa uma questão importante para o Sistema Único de Saúde (SUS)”.
RISCOS
O médico explica que as hepatites B e C são as de maior risco para o desenvolvimento de complicações como a cirrose e o câncer hepático. Já a hepatite A apresenta mais sintomas, porém costuma apresentar uma evolução benigna.
“A hepatite A é a que mais frequentemente apresenta sintomas tais como febre, náuseas, vômitos e icterícia. Já as hepatites B e C podem apresentar sintomas, porém, o mais comum é a sua apresentação assintomática”, explica, ao reforçar a importância do tratamento em todos os casos.
“Para os casos de hepatites pelo vírus A o tratamento é composto por medicamentos sintomáticos (antitérmicos, medicamento para náuseas, hidratação e repouso). Já as hepatites B e C possuem tratamentos específicos, mas eu destacaria o tratamento da hepatite C, que hoje em dia é simples e eficaz. Todo o paciente que possui o diagnóstico de hepatite C tem direito ao tratamento pelo SUS e deve ser tratado”.
Apesar dos tratamentos disponíveis, o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, elaborado a partir da consolidação de informações acerca das notificações de casos de hepatites no país, aponta que 82.169 óbitos por hepatites virais foram registrados no país entre os anos de 2000 e 2020, sendo 1.558 no Estado do Pará. Em todo o país, a hepatite C foi a que mais causou mortes no período, um total de 62.611 óbitos, considerando tanto os casos em que o óbito teve a hepatite C como causa básica, quanto os casos de causa associada.
PARA ENTENDER AS HEPATITES
Hepatite A
Incidência: De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, as regiões Nordeste e Norte reúnem 55,4% de todos os casos confirmados de hepatite A, no período de 2000 a 2021. De todo modo, em onze capitais do país não foi notificado nenhum caso no ano de 2021, entre elas Belém-PA.
Característica: está diretamente relacionada às condições de saneamento básico e de higiene. É uma infecção leve e se cura sozinha.
Sintomas: De acordo com o Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG), a hepatite A é geralmente assintomática ou os sintomas apresentados são inespecíficos, comuns aos de qualquer outra virose, como febre, dor de cabeça e perda de peso.
Tratamento: O Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG) lembra que não existe tratamento antiviral específico para a hepatite aguda A.
Prevenção: A vacina contra a hepatite A é altamente eficaz, segura e é a principal medida de prevenção. Além da vacina, deve-se:
l Lavar as mãos com frequência, especialmente após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos;
l Utilizar água tratada, clorada ou fervida, para lavar os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;
l Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;
l Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
l Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
Hepatite B
Incidência: No período de 2000 a 2021, foram notificados 264.640 casos confirmados de hepatite B no Brasil, sendo que em nove capitais as taxas de detecção de hepatite B foram inferiores às observadas em suas Unidades Federativas, incluindo Belém.
Característica: atinge maior proporção de transmissão por via sexual e contato sanguíneo.
Sintomas: De acordo com o Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG), na hepatite B aguda, os pacientes podem apresentar cansaço, perda de apetite, náuseas, mal-estar, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Já a hepatite crônica não costuma apresentar sintomas no início, porém, com o passar das décadas podem surgir complicações decorrentes do mau funcionamento do fígado.
Tratamento: O Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG) explica que nos casos de hepatite B aguda, a infecção é curada espontaneamente e sem deixar sequelas, na maioria dos casos.
Prevenção: A vacina é a principal medida de prevenção contra a hepatite B, sendo extremamente eficaz e segura. Além dela, deve-se:
l Usar preservativo em todas as relações sexuais;
l Não compartilhar objetos de uso pessoal, tais como lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, material de manicure e pedicure, equipamentos para uso de drogas, confecção de tatuagem e colocação de piercings.
l A testagem das mulheres grávidas ou com intenção de engravidar também é fundamental para prevenir a transmissão de mãe para o bebê. A profilaxia para a criança após o nascimento reduz drasticamente o risco de transmissão vertical.
Hepatite C
Incidência: De 2000 a 2021, foram notificados no Brasil 279.872 casos confirmados de hepatite C, sendo 58,4% no Sudeste, 27,4% no Sul, 6,9% no Nordeste, 3,7% no Centro-Oeste e 3,6% no Norte.
Característica: tem como principal forma de transmissão o contato com sangue. É considerada uma grande epidemia da humanidade, hoje, sendo a hepatite C a principal causa de transplantes de fígado. A doença pode causar cirrose, câncer de fígado e morte.
Sintomas: De acordo com o Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG), a hepatite C costuma ser silenciosa, sendo detectada, na grande maioria das vezes, apenas por testagem ou alterações de enzimas hepáticas em exames de rotina. Já na fase mais avançada da doença, quando já se configura uma cirrose, os sintomas podem incluir inchaço nas pernas, aumento do abdômen e olhos amarelos (icterícia).
Tratamento: O Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG) alerta que o tratamento para a Hepatite C, realizado com drogas antivirais, é oferecido de forma gratuita pelo SUS. O tratamento pode durar de 8 a 24 semanas, com altas taxas de cura acima de 90% na maioria dos casos.
Prevenção: Não existe vacina contra a hepatite C, portanto, para evitar a infecção é importante:
l Não compartilhar com outras pessoas qualquer objeto que possa ter entrado em contato com sangue (seringas, agulhas, alicates, escova de dente, etc);
l Usar preservativo nas relações sexuais;
l Não compartilhar quaisquer objetos utilizados para o uso de drogas;
l Toda mulher grávida precisa fazer no pré-natal os exames para detectar as hepatites B e C, HIV e sífilis. Em caso de resultado positivo, é necessário seguir todas as recomendações médicas.
Hepatite D
Incidência: No período de 2000 a 2021, foram notificados no Brasil 4.259 casos confirmados de hepatite D. A maior ocorrência se deu na região Norte, com 73,7% dos casos notificados
Característica: causada pelo vírus da hepatite D (VHD) ocorre apenas em pacientes infectados pelo vírus da hepatite B. A vacinação contra a hepatite B também protege de uma infecção com a hepatite D.
Prevenção: A hepatite D ocorre em pacientes infectados com o tipo B, portanto, a vacina contra a hepatite B, protege contra o tipo D, também.
Hepatite E
Incidência: No período de 2000 a 2021 foram notificados 1.705 casos de Hepatite E no país, sendo 70 casos no Estado do Pará, o equivalente a apenas 4,1% dos casos registrados no Brasil.
Característica: causada pelo vírus da hepatite E (VHE) e transmitida por via digestiva (transmissão fecal-oral), provocando grandes epidemias em certas regiões. A hepatite E não se torna crônica, porém, mulheres grávidas que forem infectadas podem apresentar formas mais graves da doença.
Prevenção: A melhor forma de evitar a doença é melhorando as condições de saneamento básico e de higiene, tais como as medidas para prevenir a hepatite do tipo A.
EM NÚMEROS
Casos notificados de hepatites virais segundo tipo no período de 2000 a 2021.
Pará
Hepatite A – 8.895
Hepatite B – 4.743
Hepatite C – 2.443
Hepatite D - 71
Hepatite E - 70
Total – 16.222
Total de casos de hepatites virais entre os Estados da Região Norte no período de 2000 a 2021.
1º Amazonas – 29.328
2º Acre – 16.244
3º Pará – 16.222
4º Rondônia – 13.460
5º Tocantins – 7.658
6º Roraima – 6.093
7º Amapá – 5.354
Total – Região Norte – 94.359
Total Brasil – 71.8651
Fontes: Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2022 - Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/ boletins/epidemiologicos/especiais; Biblioteca Virtual de Saúde, Ministério da Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/julho-amarelo-mes-de-luta-contra-as-hepatites-virais/; Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG). Disponível em: https://ibrafig.org.br/.
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