Para muitos paraenses, as manhãs de céu azul e ensolarado que tanto caracterizam o verão amazônico são um convite a aproveitar as belas praias do interior do Estado. Porém, para uma parcela da população, as férias de julho são a oportunidade de garantir um faturamento melhor durante o ano. Aproveitando a boa movimentação de banhistas nas praias e balneários, trabalhadores autônomos se desdobram para conquistar os clientes e oferecer os mais variados produtos.
Veranistas lotam as praias no último fim de semana de julho
A longa faixa de areia branca que se estende pela praia de Ajuruteua, no município de Bragança, Nordeste do Estado, é o local de trabalho do artesão Waldir de Souza Lima, 61 anos. Há 15 anos, quando ele ainda morava em Belém, antes de se mudar definitivamente para Bragança, ele aprendeu a confeccionar as marionetes que garantem o seu sustento, hoje.
Para aproveitar a melhor época do ano para quem depende do movimento de visitantes, todos os finais de semana de julho ele se desloca até a praia de Ajuruteua para oferecer as marionetes fabricadas por ele, com direito a uma divertida demonstração do que é possível fazer com a espécie de fantoche. “É uma maneira da gente se livrar do desemprego”.
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Neste ano, em especial, Waldir contou com a ajuda da internet para oferecer uma novidade aos veranistas que visitaram a praia: um chapéu trançado à mão com folhas de coco babaçu. “Eu já fazia outros trabalhos, mas a gente sempre tem que trazer uma novidade para oferecer para os turistas. Então, eu vi na internet como fazia e resolvi tentar também. Deu certo!”, contou, enquanto preparava mais um chapéu que seria oferecido aos banhistas ao preço de R$30.
Contando também com a presença dos veranistas na praia, o autônomo Luan Azevedo, 22, aposta nas boias de plástico. Há quatro anos a rotina é a mesma. À medida que se aproxima o mês de julho, o jovem reforça o estoque para atender ao aumento de demanda proporcionado pelas férias. “Todo final de semana eu trabalho com a venda de boias, mas em julho dá para fazer uma grana melhor porque vem mais gente”, considera, ele que é nascido em Bragança, mas que em julho se muda para a vila de pescadores que abriga a praia de Ajuruteua. “Antes de chegar julho eu compro o material todo pra deixar preparado para as férias”.
Entre as inúmeras opções de cores e formatos de boias cuidadosamente arrumadas no carrinho que Luan empurra por toda a extensão de areia, as pranchas são os itens que mais chamam a atenção dos clientes, hoje. Para atender a toda a demanda, e ainda lidar com a concorrência, o autônomo não desvia a atenção do trabalho, mesmo que em sua frente as águas refrescantes da praia banhada pelo Oceano Atlântico sejam uma tentação e tanto. “Pra gente que depende do verão para trabalhar, praia é só depois de julho. Depois de julho é que a gente aproveita as nossas férias”.
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A busca por aproveitar a oportunidade levou o autônomo Kauê Fonseca, 18 anos, até a praia de Ajuruteua nas férias de julho deste ano. Apesar de ter nascido e de ainda morar em outro município paraense que está entre os mais visitados durante o veraneio, Salinópolis, neste ano ele e o tio decidiram adotar uma estratégia diferente para garantir uma boa venda. “Eu vim de Salinas para passar o mês de julho aqui porque a gente consegue uma melhor venda aqui. Lá em Salinas tem muita gente que trabalha com isso e aqui nós somos os únicos”.
Chamando a atenção de longe, as peças de artesanato vendidas por Kauê são fabricadas por seu tio, que é artesão. Muitas são feitas de conchas colhidas por pescadores em alto mar e são justamente essas que mais atraem a curiosidade dos clientes. “O que as pessoas mais gostam são das conchas. Querem pegar, ver se é de verdade, fazem foto. Isso até ajuda a divulgar a nossa venda porque eles vão, colocam a foto na internet”, considera. “Esse é o primeiro ano que a gente decidiu vir para Ajuruteua e as vendas estão sendo melhores. Acabando julho eu volto para Salinas”.
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Antes que o esperado mês de julho se encerre de vez, a autônoma Ângela Maria, 44, espera conseguir mais uma renda extra com a venda de caranguejo. Natural do Acarajó, vila caracterizada por uma extensa área de manguezal localizada entre o centro de Bragança e Ajuruteua, durante o mês de julho ela e parte da família se mudam para a praia para garantir uma renda extra com a venda do crustáceo aos veranistas. “Eu esperava uma venda melhor esse ano, mas mesmo assim a gente conseguiu tirar um pouquinho. Julho é onde a gente consegue tirar um pouco mais pra ter uma folga o resto do ano todo”, conta. “Depois de julho a gente só conta com os feriados, mas é menos gente. O próximo é Sete de Setembro e tem também o Círio de Bragança no final do ano”.
Ocupada com a higienização dos caranguejos que alimentariam a família, depois de já terem acabado os colocados à venda naquele dia, Ângela Maria via da varanda a grande movimentação de veículos e visitantes que se deslocavam pelas estreitas ruas de areia da vila de pescadores de Ajuruteua. Entre as certezas que a trabalhadora tinha, estava a de que aquele movimento todo, que é sinônimo de boas vendas, não duraria para sempre. “Fora de julho não tem tanto movimento. Sempre tem gente na praia, visitando, mas nunca é igual. Julho é o melhor período pra gente”.
O melhor período do ano não só tem rendido bons frutos, como também estimulado a criatividade do autônomo Tom Wellington, 55. É vestido com um blusão branco de mangas compridas e com um lenço branco amarrado na cabeça que ele sai rumo à praia oferecendo os pacotes de batatas chips produzidas por ele mesmo. Durante a abordagem aos clientes, ele logo avisa, em tom de brincadeira. “Se vocês virem outro árabe que não seja eu vendendo batatinhas por aqui, pode me avisar que é fraude!”.
Diante do riso da família que se preparava para aproveitar mais um dia de praia, Tom vendeu mais alguns pacotes do salgadinho. “Eu moro em Belém, mas temos uma casa que fazemos locação aqui em Ajuruteua em julho. Até como uma forma de complementar essa renda que vai entrar, esse ano eu decidi vender as batatinhas chips. É mais uma forma de aproveitar as férias para levar algo a mais para casa”, comentou, sem deixar de explicar o curioso figurino que escolheu para vender. “É uma forma de unir o marketing à proteção solar. As pessoas já me avistam de longe e, como eu vendo todo final de semana, já ficou marcado que é o cara das batatas chips, então as pessoas já conhecem. Ao mesmo tempo eu me protejo do sol que está brabo”.
PARA ENTENDER OS VENDEDORES
De peças de artesanato a batatas chips, vendedores autônomos que dependem do verão amazônico não medem esforços para aproveitar a boa movimentação das férias de julho.
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