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Mercado deve se abrir para quem tem mais de 50 anos

A população brasileira está envelhecendo e a realidade é que as empresas devem se preparar para absorver os profissionais mais experientes. Especialistas comentam essa mudança social e etária no trabalho

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Imagem ilustrativa da notícia Mercado deve se abrir para quem tem mais de 50 anos camera Mórris Litvak | ( Divulgação )

Os dados oficiais sobre as características gerais apontam um cenário que não é exatamente novo, mas que cada vez mais vem refletindo no mercado e na força de trabalho: a população brasileira está ficando cada vez mais madura. A última edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que a faixa etária de pessoas com 60 anos ou mais foi a que apresentou maior aumento em relação ao total da população brasileira em um período de dez anos, passando de 11,3% da população em 2012, para 15,1% em 2022.

Ao mesmo tempo em que a participação das pessoas com idade acima de 60 anos no total da população cresceu significativamente no país, todos os grupos de idade até os 29 anos apresentaram redução percentual no mesmo período, entre 2012 e 2022. Não é difícil perceber que, diante disso, torna-se cada vez mais comum identificar pessoas mais maduras vivendo nas cidades, acessando os serviços, consumindo e, naturalmente, trabalhando. Para quem depende da força de trabalho, tal cenário demanda atenção para que se garanta a participação desses profissionais acima de 50 anos nas corporações, com todas as vantagens que eles podem vir a oferecer.

Fundador e CEO da Maturi, plataforma que reúne oportunidades de trabalho e capacitação profissional e empreendedora a pessoas com 50 anos ou mais, Mórris Litvak acredita que o Brasil está, sim, vivenciando um aumento na participação dos profissionais maduros na força de trabalho, porém, ele considera que ainda há muitos desafios a serem superados. As empresas precisam se preparar para essa nova realidade com a consciência de que não adianta apenas criar mais oportunidades para trabalhadores 50+, é preciso fazer mudanças na cultura corporativa da empresa. “A gente está passando por um processo de envelhecimento da população de forma acelerada no Brasil, o que tende a acelerar também o olhar sobre as pessoas mais velhas no mercado de trabalho. Um mercado que historicamente tem um olhar muito voltado para os jovens, mas que temos visto apresentar um pouco mais de abertura para os profissionais mais maduros”.

De forma geral, Mórris considera que as empresas ainda estão começando a se preparar para essa realidade, mas elas ainda precisam se aprofundar mais no assunto para entender que existe uma importância estratégica e não só social quando se fala de equipes multigeracionais. “Quando a gente fala do social é muito pela diversidade e pela representatividade que isso traz, já que 27% da população, hoje, é 50+ e a gente vê que em grandes empresas, normalmente, o percentual de colaboradores com 50+ é de apenas 5%, até menos”, contextualiza. “Só que, além disso, essas pessoas agregam muito com a experiência, com o comprometimento, de forma complementar aos jovens. E essa experiência não é só profissional, mas de vida, envolve toda a questão da inteligência emocional, de relacionamento e também o olhar para esse consumidor 50+ que já é muito representativo e que vai ser cada vez maior”.

Diante da necessidade de um compromisso a ser assumido pelas empresas, Mórris lembra que a Maturi lançou no Brasil, neste ano, uma certificação internacional que já é utilizada nos Estados Unidos da América (EUA) e que atesta as empresas que proporcionam um ambiente ‘amigável’ para os profissionais mais maduros, o selo Age Friendly. “A certificação vem para incentivar, impulsionar e reconhecer, então, as empresas que conseguem se certificar nesse selo de Age Friendly são empresas que já estão olhando para esse tema, com iniciativas tanto de contratação, como de retenção e integração de colaboradores 50+”.

Mórris Litvak explica que, uma vez concedida, a certificação precisa ser renovada a cada dois anos, portanto, nessa recertificação, a empresa precisa de fato mostrar avanços, não pode ficar no mesmo patamar. “É analisado o percentual de colaboradores 50+, não só a retenção, mas se ela contrata também, se ela sabe integrar com os jovens, questões relacionadas a flexibilidade, remuneração, atualização, preparação para aposentadoria, etc. Sendo que na primeira vez que ela certifica tem que já estar fazendo alguma coisa, mas o principal é o comprometimento e aí, sim, evoluir no tema”.

Ainda que as empresas tenham um papel fundamental no combate ao etarismo no mercado de trabalho, também é preciso considerar a necessidade de capacitação ou de recapacitação dos profissionais 50+ para que estejam aptos a se manter ou a ingressar na força de trabalho.

A administradora, mestra em gestão empresarial, e diretora de educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Pará (ABRH-PA), Silvia Pires, destaca que, segundo as pesquisas, um dos motivos que as empresas alegam para não contratar profissionais com mais de 40 ou 50 anos é a desatualização. “Essa geração, geralmente, vem da Geração X, que é uma geração que contribuiu muito com a evolução do mundo, mas que hoje, em relação à Geração Y e a Geração Z, ainda estão se adaptando a toda essa tecnologia”, considera. “A gente lida, hoje, com muita Inteligência Artificial, robótica, e as pessoas que estão nessa faixa etária devem antecipar-se, buscar se atualizar fazendo cursos na sua área de atuação que estejam alinhados ao uso da tecnologia e que podem ajudar a desenvolver o seu potencial”.

Silvia Pires
📷 Silvia Pires |( Divulgação )

Silvia considera que é sempre bom manter um equilíbrio entre a Geração Baby Boomers (1945-1964) e a Geração X (1965-1984) com às Gerações Y (1985-1999) e Z (2000-atual) porque as gerações mais maduras carregam experiências e uma maturidade maior que deve ser valorizada dentro da organização. “Hoje, dentro da tecnologia existe uma expressão muito forte chamada Lifelong learning, que significa uma vida inteira para aprender. Dentro desse aprendizado vai ser dividido em dois pontos importantes, os Soft Skills, que é o aprendizado para o autoconhecimento do indivíduo, para a melhoria do comportamento dele, já que 90% das demissões nas organizações ainda são por problemas de comportamento. Esse autoconhecimento, a geração mais antiga já possui”, considera. “Dentro dessa mesma perspectiva também existe outra ferramenta que se chama Hard Skills, que já é o conhecimento técnico, onde todas as gerações devem buscar uma atualização, realmente, tecnológica”.

A diretora de educação da ABRH-PA lembra que hoje existem muitas plataformas online, gratuitas, que os profissionais podem buscar para se atualizar, estudar e investir, se for da sua vontade, no estudo de outros idiomas e de tecnologia, começando pelo simples. “O cenário é muito positivo. De acordo com a pesquisa da Gupy, houve um aumento de 217% na contratação de profissionais entre 40 e 50 anos em 2021, em comparação aos outros anos. Para a tendência de 2022 e 2023, a prospecção ainda foi maior”, avalia. “E o cenário atual para esse profissional com 50 anos é uma tendência que veio para ficar, é uma geração que está mais consciente e que está buscando direcionar, se sentindo mais jovem”.

A gente está passando por um processo de envelhecimento da população de forma acelerada no Brasil, o que tende a acelerar também o olhar sobre as pessoas mais velhas no mercado de trabalho. Um mercado que historicamente tem um olhar muito voltado para os jovens, mas que temos visto apresentar um pouco mais de abertura para os profissionais mais maduros”. Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi.

Essa geração, geralmente, vem da Geração X, que é uma geração que contribuiu muito com a evolução do mundo, mas que hoje, em relação à Geração Y e a Geração Z, ainda estão se adaptando a toda essa tecnologia”. Silvia Pires, administradora, mestra em gestão empresarial, e diretora de educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Pará (ABRH-PA).

CENÁRIO

Amadurecimento da população

Brasil

Em 2012, o grupo de idade que detinha o maior percentual da população brasileira era o de 30 a 39 anos, o equivalente a 15,8% do total. Dez anos depois, em 2022, o grupo continua a ser o mais representativo da população brasileira, representando 15,9%.

Porém, outro grupo de idade se aproxima em termos de participação no total da população, o de pessoas com 60 anos ou mais, que passou de 11,3% em 2012, para 15,1% da população em 2022.

Apresentando um aumento de 3,8 pontos percentuais entre 2012 e 2022, o grupo das pessoas com 60 anos ou mais foi o que apresentou maior aumento percentual em relação ao total da população, no país.

Até a faixa etária de 25 a 29 anos, todos os grupos de idade apresentaram redução na participação percentual em relação ao total da população.

Já a partir da faixa etária de 30 a 39 anos em diante, todos os grupos de idade apresentaram aumento percentual entre 2012 e 2022.

Pará

No Estado do Pará o cenário segue a tendência nacional: entre 2012 e 2022, todos os grupos abaixo de 30 anos apresentaram redução percentual em relação ao total da população, enquanto houve aumento em todos os grupos acima dessa faixa etária no período.

No ano de 2022, a maior parcela da população paraense está inserida na faixa etária de 30 a 39 anos, o equivalente a 15,7%. O segundo maior grupo (14,5%) é o de pessoas com idade entre 5 a 13 anos e, em seguida, o grupo com 40 a 49 anos (13,1%).

De todo modo, o grupo de 60 anos ou mais foi o que apresentou maior aumento no período entre 2012 e 2022 no Pará, passando de 7,4%, para 10,3%, um crescimento de 2,9 pontos percentuais.

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2022 – Características Gerais dos Moradores. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Último acesso em: 03/07/2023.

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