A estudante de engenharia química da UFPA, Luise Lima, de 22 anos, é uma entre os 24 jovens que compõem o time da Enactus UFPA, do qual é vice-presidente. A Enactus é uma organização social mundial que promove a liderança jovem por meio de negócios de impacto, visando atenuar problemas ambientais, sociais e manter a sustentabilidade econômica.
“Na UFPA, essa iniciativa começou em 2014, onde diversos jovens se reuniram através de um mesmo propósito, desenvolver de forma benéfica a Amazônia e tentar atenuar os problemas aqui existentes através da inovação”, contou a estudante.
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JOVENS LÍDERES
De acordo com a vice-presidente do time, atualmente essa missão se traduz em quatro projetos sociais desenvolvidos e tocados por estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) para mitigar problemas locais. Ainda segundo Luise Lima, fazer parte de uma iniciativa que aposta no empreendedorismo jovem é um divisor de águas na vida de quem ainda está começando a trilhar o próprio caminho.
“Com certeza é transformador. Todos que entram na Enactus saem de alguma forma transformados e com uma visão mais ampla da realidade ao seu entorno. Assim como motiva os jovens a pensarem em inovação junto com as diferentes comunidades da região”, pontuou.
Referente aos projetos, são eles o “Costuraê”, que possibilita a geração de renda e empoderamento às mulheres por meio do movimento slow fashion, da economia criativa e circular; “Minerva”, que conecta mulheres com experiência no setor da construção civil a mulheres que necessitam de serviços de reparos domésticos; o “Aruanas”, com a fabricação de barras de cereal a partir de resíduos da indústria cervejeira e, por último, o projeto “Gira Sol” que promove tecnologias de energia limpa para o processamento sustentável de alimentos.
Este último é promovido atualmente junto à comunidade ribeirinha da Ilha das Onças, em Barcarena.
“O projeto Gira Sol surgiu em dezembro de 2020, durante a pandemia de Covid-19, quando membros do time identificaram os desafios enfrentados pelas comunidades próximas. Alguns deles estavam relacionados à dificuldade de acesso ao gás de cozinha, devido ao alto custo e à distância dos centros urbanos. Também percebemos que, nessas comunidades, eram utilizadas grandes quantidades de lenha e carvão como alternativa ao gás de cozinha. Infelizmente, o uso excessivo desses materiais não apenas contribui para o aquecimento global, liberando grandes quantidades de gás carbônico no meio ambiente, mas também representava uma ameaça à saúde dos que estavam expostos à fumaça diretamente”, explicou.
Além de encontrar soluções para problemas do cotidiano e fomentar o empreendedorismo nas comunidades, já que muitos moradores acabam se interessando pela proposta e se envolvendo nos projetos, para Luisa, participar de uma organização que acredita na liderança de jovens universitários, foi determinante para encontrar o seu propósito profissional.
“Me orgulho de fazer parte desse time tão especial, que fez com que eu me encontrasse enquanto profissional pois, a partir desta experiência, sei que quero seguir na área de empreendedorismo sustentável”, revelou.
APOSTA
O belenense Raphael Medeiros, diretor-executivo do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, também foi um jovem ambicioso, como ele mesmo diz, sem perder a ética e a moral. Em 1999, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde ficou por quase 20 anos, para fazer MBA em Administração e Marketing na PUC-RJ.
No entanto, afirma: “Costumo dizer que se o Centro de Empreendedorismo da Amazônia existisse em 1998, eu jamais teria saído da minha terra, pois as oportunidades aqui são incríveis, mas não tinha ninguém para me mostrar e conduzir. Este é o papel que o Centro desempenha hoje”, ressaltou.
O Centro é uma associação da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na promoção e articulação de negócios sustentáveis com foco na floresta e em soluções baseada na natureza na Amazônia e, também aposta na força do empreendedorismo da juventude amazônida.
Atualmente, seis projetos estão em atividade: “Juruti UP”, “Belo Monte Empreende”, “Floresta 360º”, “Amazônia UP”, “Embarca Amazônia” e “Amazônia 2030”. Todos os programas são gratuitos, com direito a transporte e alimentação aos jovens participantes. Desde 2015, aproximadamente mais 15 mil jovens foram inscritos nos programas, 5 mil participaram dos projetos e mais de 200 empreendimentos foram desenvolvidos com o apoio do Centro e das instituições parceiras.
"Eu durmo e acordo pensando em como ajudar os jovens da Amazônia a realizarem seus sonhos e viverem de forma digna nesse território que é cobiçado pelo mundo inteiro”, conta.
Para a concretização dos negócios, são cinco etapas que perpassam pelo entendimento da capacidade individual de empreender, estágio de pré-aceleração – que transforma ideias de negócios em modelos validados com protótipo (MVP), até a conexão com especialistas, empreendedores e financiadores e monitoramento nos primeiros passos de vida do negócio.
De acordo com Raphael Medeiros, os projetos são desenvolvidos com base na realidade e necessidade de cada localidade, já que o Centro também tem esse cuidado de descentralizar as oportunidades da capital paraense, chegando ao interior do Estado.
“O compromisso com as cidades do interior, as comunidades, os territórios mais afastados e carentes sempre foi muito claro para nós. Temos muita gente boa e de enorme potencial nestas localidades e que são carentes de apoio ao empreendedorismo com foco na sociobioeconomia. Isso para mim é uma contradição, pois é exatamente nesses lugares que a riqueza da Amazônia se expressa de forma gigantesca”, destacou.
No programa Juruti UP, segunda edição, que ocorreu em outubro deste ano nos municípios de Juriti/ Juruti Velho, Curumucuri, Prudente e Monte Sinai, do interior do Pará, foram mais de 700 jovens inscritos, 462 participantes que realizaram oficinas de despertar e ideação que resultaram em 28 modelos de negócios sustentáveis.
“Isto mostra o quanto estas pessoas acreditam e querem empreender de forma sustentável em seus territórios. No começo de dezembro apresentaremos 20 modelos de negócios com produtos e serviços desenvolvidos por estes jovens empreendedores”, frisou.
“Em paralelo, aceleramos 3 iniciativas da primeira edição do Juruti UP. Foram consultorias e apoio financeiro para desenvolver uma agência de ecoturismo, uma startup de assistência técnica para agricultores e uma lanchonete e padaria com iguarias da Amazônia”, disse.
Para Medeiros, este já não é mais um trabalho e sim um propósito de vida. Ele completa que as pretensões são grandes mas não tão quanto a urgência de ajudar no futuro dos jovens da região.
“Nossa meta é estar em todos os municípios prioritários do desmatamento e em comunidades afastadas. Temos trabalhado duramente para conseguir apoio para realizar essa grande jornada”, finalizou.
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