A liderança do governador Helder Barbalho em defesa da Amazônia é considerada crucial para que ações efetivas transformem a região por meio de uma economia sustentável com respeito e apoio dos demais países. A atuação do gestor, um dos responsáveis pela realização da COP 30 em Belém, no mês de novembro de 2025, é vista com bons olhos por especialistas como o professor associado da Universidade Federal do Pará e consultor na área de Finanças Corporativas, Economia Ambiental e Finanças Climáticas, Mário Ramos Ribeiro.
Com a experiência de quem já foi Secretário-Executivo do Ministério da Integração Nacional (hoje Ministério de Desenvolvimento Regional); presidente do Banpará, diretor e conselheiro da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e presidente da Fapespa, Mário Ramos destaca a coerência da palestra do governador Helder em Nova York, na reunião da Semana do Clima, no evento “Transformação Ecológica no Brasil e na Amazônia”, diante do enviado especial do presidente Joe Biden para a Questão do Clima, John Kerry.
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“A fala do governador foi tecnicamente corretíssima. Pelo que li nos jornais, ele defendeu na sua fala que os países do Norte Global, os mais desenvolvidos, financiem a agenda climática de preservação ambiental nos países do hemisfério sul, os países em desenvolvimento e os países vulneráveis”, recorda.
“Corretíssima porque não pediu caridade. Fez uma reivindicação. Entendo como uma cobrança para o cumprimento integral do Acordo de Paris. Até então a cobrança era apenas para os países mais pobres. Acontece que no Acordo de Paris, nos seus artigos 09,10,11 e 12, coube aos países ricos: (1) financiar os países em desenvolvimento e vulneráveis para arcar com as despesas de mitigação e adaptação para desacelerar o aquecimento global; (2) desenvolver e transferir as tecnologias adequadas a cada país do Sul Global para que eles possam fazer a transição energética e sair da economia marrom para a economia verde; (3) e financiar os programas de capacitação do capital humano”, lista.
Sobre os custos disso para os países ricos, o docente ressalta que as estimativas variam conforme a metodologia. “Mas as Nações Unidos trabalham com algo em torno de 6 a 7 trilhões de dólares por ano, somente para os países em desenvolvimento. É um custo descomunal. E para os ricos como mais ou menos 4 a 5 trilhões de dólares por ano. Veja que estamos de gastos de cerca de 10 trilhões de dólares por ano até 2030. Daí em diante, esse valor pode cair, desde que se descubra uma fonte de energia limpa, que tenha uma escala de mercado do tamanho do planeta”, explica.
“Esse é o ‘Tripé Mágico’ para o combate à mudança climática. A nós, do Sul Global, caberia o que os juristas chamam de ‘obrigação de fazer’. O Tripé Mágico é a obrigação dos mais afortunados. Esse seria o aspecto jurídico. Do ponto de vista econômico, as razões são diversas. A equidade é um requisito importante no desenvolvimento econômico”.
A justificativa para que os países ricos tenham essa responsabilidade pode ser expressa nos números. “Os 1% mais ricos da população mundial são responsáveis por 66% das emissões de CO2 e outros gases de efeito-estufa. É fácil falar da redução da produção de carbono como prioridade mundial quando se vive na fartura, mas a nossa prioridade agora não é a mudança climática, a nossa prioridade é mais básica: 84% da população mundial não vive nos países ricos. Vive nos países mais pobres”, lembra Ramos.
“Aqui temos de priorizar o ataque à pobreza, à fome, à penúria etc. O custo desse combate calculado pelo Copenhagen Consensus Center é de U$35 bilhões por ano. Comparado com o custo das ações contra o valor anual dos custos do enfrentamento da mudança climática, aqueles de aproximadamente U$10 trilhões por ano, estes U$35 bilhões viram tostão”, analisa.
Ajudar nas necessidades básicas equivale a 0,35% do valor dado ao combate ao aquecimento global, prossegue o professor. “Isso mesmo: 0,35 %. Não dá para discutir isso? É muito confortável fazer esse tipo de cobrança dos pobres enquanto se vive num padrão de consumo elevado. Além disso, não há sentido econômico em se desacelerar as economias mais pobres”, antecipa.
“Esse tradeoff, essa troca onerosa, não é nossa pelo Acordo de Paris. Essa troca onerosa entre meio-ambiente e economia é dos países ricos. Os ricos colocaram nos 100, 150 anos a maior parte da camada de CO2 que permanece na atmosfera por esse período. Os maiores emissores foram os EUA e a Europa. Essa camada de gases de CO2 começou a se formar nos últimos 100 ou 150 anos”, lembra.
“Os ricos respondem por essa maior parte da camada que retém o calor. Ok, hoje a China e outros emergentes já ultrapassaram os EUA. Isso é fluxo. Mas a maior parte do estoque que forma essa camada hoje está na conta dos países ricos. E eles deram o calote na gente e no Acordo de Paris. Eles, e não nós, é que estão inadimplentes no Acordo”, critica.
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“A COP 30 tem tudo para dar certo e transformar a economia amazônica”
Confira a seguir outros pontos abordados junto ao professor Mário Ramos Ribeiro:
DESAFIOS DA REGIÃO PARA EXPLORAR A FLORESTA EM PÉ
“Os ricos dizem que a floresta em pé vale ouro, que ela é ‘o grande ativo’ da economia mundial. Ora, os economistas sabem, pelo menos, desde 1902, com a publicação da Teoria da Taxa de Juros pelo economista Irving Fisher, que onde existe um ativo existe uma renda! Mas se a floresta em pé é um ativo - e de fato ela economicamente é um ativo - onde está a renda desse ativo? — perguntaria o Irving Fisher se estivesse vivo. Aqui na Amazônia a renda do ativo não está. Mas ela está no Norte Global . E lá ela foi monetizada, e como? Ora um ativo necessariamente é um bem que fora da atividade produtiva nos dá benefícios no futuro ao longo de um tempo.Essa é a definição econômica de ativo. É o que acontece , por exemplo, com imóveis, com poços de petróleo, com minas, com saldos de aplicação em banco, e também com a moeda que está no cofrinho da poupança, e por aí vai”.
COMO OS PAÍSES RICOS SE BENEFICIAM?
“Com a absorção de carbono feita pela floresta. Se a floresta amazônica absorve 1,5 a 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (fora o estoque de carbono que já está na floresta), os serviços ambientais da floresta amazônica em pé beneficiam toda a humanidade. São 2 bilhões de toneladas a menos de esforço de redução no PIB dos ricos do planeta que são monetizados lá no Norte. Ou seja: em vez de reduzirem o PIB em U$100 mil dólares por unidade de tempo gerando perdas de bem estar e desemprego nesse valor monetário, os ricos - graças aos serviços ambientais da Floresta em pé na Amazônia, agora poderão reduzir, digamos, U$70 mil por unidade de tempo. Há claramente uma transferência ou melhor, uma captura de renda nossa pelos afortunados do Norte. E isso nos é devido”.
COMO ISSO SE APLICA À FLORESTA AMAZÔNICA?
“Como as rendas da floresta são os seus serviços ambientais, o valor presente dos serviços ambientais é o valor do ativo florestal em pé. Se parte desse serviço é usada pelos países ricos, então eles estão se beneficiando de rendas que são nossas sem autorização nossa e devem nos pagar. É por isso que o Governador tem razão quando diz, ‘vocês querem a floresta em pé? Querem? Então paguem pelo serviço dela’”.
COP 30 NO PARÁ
“Tem tudo para dar certo e transformar a economia amazônica e de modo especial o Pará. Podemos fazer de Belém um ‘case’, um ‘standard’, um padrão de referência de cidade verde, gerando um efeito-demonstração de alto valor para todos. Tudo indo certinho, bem feito, Belém pode ser a porta de entrada da Amazônia. E se conseguirmos investir em educação e saúde, podemos virar um caminho natural de investimentos verdes para o Pará. Isso pode gerar um externalidades positivas para a população paraense”.
QUANTO VALE A AMAZÔNIA?
“O valor da Amazônia é praticamente infinito. É como uma debênture perpétua cujo número colocado no denominador é bem próximo de zero. Então vai para as nuvens. A Amazônia não é somente um ativo. É um ativo especialíssimo, é um ativo radical, sem ela não haverá vida. É um ativo que pode dar paz, vida e felicidade, ou se usado de forma errada provoca uma calamidade planetária. Muitos colegas meus quando precificam a Amazônia, não levam isso em consideração. Tratam esse ativo como um ativo ordinário. Eu creio que isso é um equívoco inadmissível para um economista. O estudo do Banco Mundial por exemplo, quando atribui o valor de cerca de U$300 bilhões para a Amazônia cai nesse equívoco. O valor de um ativo radical não pode ser calculado como fez o Banco Mundial. Obviamente não seremos pagos com valor infinito. Mas é importante saber disso na hora da barganha, na hora de sentar na mesa para a barganha”.
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