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Consumo de bebida alcoólica aumentou quase 16% em um ano

O alerta é ainda mais forte levando em consideração que nesta terça-feira é o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, para conscientizar a população sobre os males causados pelo consumo dessas substâncias

Imagem ilustrativa da notícia Consumo de bebida alcoólica aumentou quase 16% em um ano camera Apesar da média preocupante o Pará ficou a baixo da média nacional | Foto: Mariana Agunizi/ Folhapress

O paraense consumiu mais bebidas alcoólicas em 2023 do que em 2022, segundo levantamento do IPC Maps, especializado em potencial de consumo: os gastos foram de R$ 772,8 mil para R$ 895,1 mil, um aumento de 15,83% entre um ano e outro. A variação foi a quinta maior dentre os estados do Norte. Apesar do cenário preocupante, o Pará ficou abaixo da média nacional de crescimento de 18,7% - de R$ 28,1 bilhões para R$ 33,4 bilhões.

Os dados divulgados recentemente soam um alerta ainda mais forte levando em consideração que nesta terça-feira, dia 20, é o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, instituído para conscientizar a população sobre os males causados pelo consumo excessivo e/ou regular dessas substâncias. Estima-se que a dependência do álcool, que é uma doença crônica, atinja atualmente cerca de 10% da população, em sua maioria homens com idade entre 18 e 29 anos.

Especialista no trato do fígado, a médica hepatologista Deborah Crespo não titubeia quando o assunto é o impacto do consumo de álcool para um órgão absolutamente indispensável à vida: pode contar que as consequências negativas darão as caras em algum momento.

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“O fígado é silencioso, não dá evidências de sofrimento como dá o estômago ou intestino, por exemplo, que vem com uma náusea, um vômito, uma diarreia. Você só vai saber das consequências do uso abusivo ou regular da bebida alcoólica ao longo de muitos anos. E eu sempre digo: a fatura chega. Mesmo diminuindo o consumo, o histórico fica”, justifica a profissional de saúde.

Convidada a analisar os dados relacionados ao Pará, Deborah de imediato aponta a necessidade de se chegar às causas desse aumento no consumo, e faz uma inevitável conexão deste cenário com outro bastante discutido em todo o mundo: a saúde mental da população, principalmente com a pandemia.

A médica explica que, em diferentes faixas etárias e condições socioeconômicas, a ansiedade, a depressão, o isolamento promovido pela pandemia trouxeram impactos sentidos em escala global. Um dos reflexos está no uso de determinados medicamentos - antidepressivos, remédios para insônia - e no uso da bebida alcoólica, esta historicamente vista como um mecanismo de fuga.

Diante disso, é categórica em afirmar que é preciso diferenciar o beber socialmente do consumo abusivo esporádico - este último na literatura médica mundial conhecido como binge drinking. E essa diferenciação vale para todo tipo de bebida, sendo que o que pesa mesmo é a tríade regularidade-frequência-quantidade.

“O uso excessivo na sexta e no sábado, por exemplo, é tão danoso quanto o consumo regular diário em uma quantidade menor”, afirma. O teor alcoólico da bebida também pesa nesse combo.

“Você pode falar que a cerveja tem menor teor alcoólico se comparada a um vinho, ao absinto que chega a quase 40%. Mas novamente a cerveja, uma bebida altamente calórica consumida em altas quantidades em um país tropical como Brasil, está relacionada a obesidade, uma condição que vem adoecendo uma enorme quantidade de pessoas. E a obesidade está relacionada à diabetes, que por sua vez, está relacionada a doenças cardiovasculares”, relaciona.

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DOSES

Ela avalia que o consumo de três a quatro doses de bebida alcoólica por semana seria uma margem de segurança. Mas insiste que é preciso prestar atenção naquilo que leva a pessoa a ultrapassar esse quantitativo, novamente abordando a temática da saúde mental.

“Uma coisa é você de repente degustar uma taça de vinho ou um chopp. O problema é quando aquele hábito é frequente. Você não está usando o álcool como acompanhamento em uma degustação de um alimento, você vai ali para beber. O nível de impregnação, de intoxicação é muito maior, e a gente vê muito isso, e o que mais nos preocupa é o crescimento também entre as mulheres”, explana.

Ela reconhece o álcool como a droga licita de mais fácil alcance a todas as faixas etárias, e que embora exista uma legislação clara sobre comercialização para menores, a fiscalização ainda é dotada de um olhar muito flexível e tolerante.

“Você vê jovens em festas consumindo e por vezes, por conta de custar mais barato, bebidas baseadas em vodca, cachaça e que são misturadas com outras e assim você tem uma verdadeira bomba”, lamenta.

A hepatologista cita que, a curto prazo, o consumo de álcool pode levar as intoxicações, que são as hepatites alcoólicas agudas, caracterizadas pelo alto consumo que gera uma lesão, um processo inflamatório agudo ao fígado, mas passível de recuperação plena.

“Só que existe o comprometimento daquelas pessoas que hoje já têm outras comorbidades ligadas à questão metabólica. Muitas pessoas hoje já sofrem de um problema chamado gordura no fígado, que é a esteatose hepática, que permeia entre o comprometimento metabólico e o consumo regular da bebida alcoólica. Você não só soma como agrava essa condição que é cada vez mais frequente”, pontua.

Outra preocupação de Deborah Crespo é a inserção do álcool na juventude, e na possibilidade de uma geração de doentes daqui mais algumas décadas em função da cirrose hepática.

“Já temos observado estatisticamente inclusive o paciente que vai ao transplante de fígado. Durante muitas décadas, as hepatites virais, especialmente a de tipo C, sempre foram a principal causa de transplante. Mas com o advento do tratamento e da cura, vemos essa curva declinar e crescer o número de pacientes de doença metabólica ligadas à obesidade e gordura no fígado candidatas a transplante. E aí fica muito tênue a linha entre o álcool e o não álcool como causa, porque é comum o paciente não fazer mais o consumo nos dias atuais, mas ter histórico prévio de consumo regular”, relata.

Para ela, este é o maior alerta a ser disparado neste momento: evitar agora que daqui a poucos anos a cirrose hepática volte à cena com força, bem como o câncer de fígado.

“Os danos são irreversíveis, do menor ao maior. Uma vez instituído um quadro de cirrose hepática, você pode estacionar e regredir, mas não reverte ao fígado normal. É um dano que vai realmente ficar permanente pela fibrose, sem falar que você aumenta a possibilidade de câncer no fígado e esse é um dos mais agressivos. E se o câncer for associado a uma questão metabólica ele pode existir independente da cirrose. Temos visto pessoas sem a cirrose mas que desenvolvem o câncer”, conclui.

saiba mais

l Deborah Crespo desfaz o mito de que mulher é fraca para bebida, e elucida que o jargão na verdade desvirtua um fundamento biológico. “Mulheres são capazes de uma concentração intracelular maior do álcool, ou seja, uma quantidade menor do que aquela administrada por um homem é suficiente para intoxicá-la e promover os prejuízos e os danos da bebida alcoólica”, detalha.

l As maiores dificuldades enfrentadas pelo paciente em reabilitação incluem lidar com os desejos e gatilhos para o consumo de álcool, enfrentar situações sociais que envolvam álcool, lidar com possíveis recaídas e enfrentar mudanças de estilo de vida necessárias para manter a sobriedade. “Buscar apoio pode ajudar o indivíduo a melhorar sua qualidade de vida e estabelecer relações mais saudáveis com a família, amigos e comunidade longe do uso do álcool”, estimula Jully Reis.

É preciso buscar ajuda

Estudante do último ano de Medicina, Jully Reis atua como diretora na clínica médica Voo de Liberdade, que funciona 24 horas no bairro de Batista Campos, em Belém, tratando pacientes psiquiátricos e pessoas com diferentes tipos de dependências. Assim como Deborah, ela concorda que os dados sobre consumo de álcool no Brasil e no Pará sugerem a necessidade de políticas de saúde pública e intervenções para prevenir e tratar o abuso e suas consequências.

A gestora conta que o processo de desmame para quem entra em tratamento geralmente envolve um acompanhamento médico especializado, apoio psicológico e, em alguns casos, medicamentos para minimizar os sintomas de abstinência, assim como mudança de hábitos familiares. “A parte mais difícil é o afastamento de parentes que não veem problema no consumo e o fazem perto do alcoolista, o que facilita as recaídas”, conta.

Jully revela ainda que, ao procurar ajuda, a pessoa geralmente está em um estado de reconhecimento de que o uso de álcool está causando problemas em sua vida. E que justamente por isso a família deve sempre estar presente no processo terapêutico.

Ela reforça que procurar ajuda é importante porque o abuso de álcool está relacionado a graves consequências para a saúde física, mental e emocional.

“Muitas vezes o nível de comprometimento com a saúde pode variar, incluindo desde problemas de saúde física até questões mentais e emocionais relacionadas ao consumo de álcool. Além da síndrome do alcoolismo, a pessoa pode ter várias comorbidades como: problemas no pâncreas, fígado, rins, assim como problemas de depressão, bipolaridade e outros. Se o alcoolista não quiser se tratar e oferecer riscos a si ou a terceiros a internação involuntária faz-se necessária”, explica.

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