Uma operação de guerra foi montada perto da Usina do Gasômetro, na orla do rio Guaíba, em Porto Alegre. Tendas separavam áreas de recém-resgatados e roupas para doações. Ao chegar, os quem estava ilhado passava por triagem, recebia alimento e era encaminhado para um destino.
Os olhares atônitos misturavam-se com choro e até tranquilidade de alguns que pareciam ainda não entender o que estava acontecendo, mesmo após seis dias de enchentes no Rio Grande do Sul, em uma das piores enchentes que atingiram o estado. Já são 83 mortes confirmadas desde a semana passada em decorrência das fortes chuvas, segundo último boletim.
O governo federal reconheceu neste domingo (5) estado de calamidade pública em 336 municípios gaúchos. O status de estado de calamidade permite a transferência facilitada, em caráter emergencial, de recursos federais para atender necessidades de localidades golpeadas por desastres.
Em viagem ao Rio Grande do Sul pela segunda vez em uma semana, o presidente Lula prometeu neste domingo, após sobrevoo de áreas afetadas, a criação de um "plano de prevenção de acidente climático".
Na tenda, voluntários apoiavam pessoas que saíam dos barcos. A maioria não apresentava feridas físicas, mas caminhava lentamente até a primeira renda, mais próxima da água, onde recebiam café e um lanche.
Cachorros também chegavam no resgate e passam por triagem antes de voltar para os tutores. Havia quem chegasse e perguntava, chorando, pelo seu pet, que não veio junto.
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A maioria dos resgatados nesta segunda-feira (6) vinham de Eldorado do Sul. Todos os bairros do município foram atingidos pelas águas. No grupo estava o motorista Vitor Santos de Lima, 44.
Ele chegou a Porto Alegre junto da mulher, Dieze de Souza Gomes de Lima, 33, do filho Conrado, 5, e das gêmeas Gabriela e Vitória, de 3 meses.
O casal saiu de casa com água na barriga e as crianças no colo até a casa em que Dieze trabalha, na sexta-feira. Antes, Vitor tirou parte da mobília para o segundo piso de onde moram.
"Vamos ver quando voltar. Compramos coisas para as gurias. Precisamos ver se não roubaram", disse. As filhas nasceram com 24 semanas de gestação, mas já estão "fortes", contou Lima.
O motorista alternava a serenidade com lágrimas para contar, com orgulho, o que o casal comprou nos últimos dez anos para a casa que ainda é paga em financiamento. "Foi difícil conquistar o que tínhamos, mas não vai ser impossível voltar", concluiu. Otimista, Vitor reconheceu a "sorte" em poder ir para a casa da mãe, que vive na capital, mas confessou que a ferida que fica é psicológica.
Quando a família chegou à tenda, a fisioterapeuta Cássia Fortunato Rodrigues, 36, reconheceu Dieze. Elas eram conhecidas em Eldorado do Sul, que tem 40 mil habitantes.
A fisioterapeuta não acreditava que a água fosse avançar tão rapidamente como foi no começo do final de semana. Quando ela saiu de casa, contudo, precisou abaixar a cabeça no barco para não atingir os fios de luz dos postes. "Não sobrou nada da cidade sem água", começou falando e alternou do tom ameno para o choro, "vai ser pior a hora que se deparar com o que ficou".
Junto de Cássia, foi resgatada Camila Duarte Loreto, 36. Grávida de 36 semanas, ela veio com o filho de oito anos. Ela lamentou a perda do enxoval recém feito para a bebê Helen. Parte da mobília e roupas puderam ser levadas ao segundo piso. O marido ficou em Eldorado, ilhado. "Meu marido ficou para cuidar o que ainda tem", disse sobre receio dos furtos a casas inundadas.
A Defesa Civil gaúcha emitiu alerta vermelho para fortes chuvas para o extremo sul do estado até a noite desta segunda-feira (6). O órgão prevê risco de alagamentos, vento forte, descargas elétricas e queda de granizo.
A área em risco abrange as cidades de Bagé, Pelotas, Rio Grande e Santana do Livramento.
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