No início do mês de junho, a influenciadora Clara Maia compartilhou nas redes sociais um vídeo do momento em que salvou a vida de seu filho José, de apenas um mês. O recém-nascido se engasgou após mamar e ela fez a manobra de Heimlich.
O engasgo em crianças é uma das principais causas de mortalidade infantil no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), cerca de 15 bebês de até 1 ano morrem por engasgo todos os dias, colocando o Brasil em terceiro lugar no ranking de mortes por esse tipo de acidente.
Dados da Universidade Veiga de Almeida, referentes ao período de 2020 a 2022, mostram que os alimentos são os principais responsáveis por essas mortes. Somente em 2023, foram registrados 223 casos, representando um aumento de 40% no número de óbitos por engasgo em crianças de até nove anos no Brasil. Diante desse cenário, os especialistas recomendam manter uma supervisão constante.
A SBP alerta, ainda, que alguns alimentos, como pipoca, nozes, amendoim, milho, feijão, salsichas e ossos ou fragmentos de ossos, são os que mais causam engasgo. Porém, o leite materno ou fórmula também podem causar engasgo e os primeiros cuidados de emergência são fundamentais para salvar essas vidas. Esses cuidados iniciais devem ser prestados imediatamente até que a assistência qualificada chegue, o que destaca a importância dos pais, responsáveis e cuidadores redobrarem a atenção aos pequenos.
SITUAÇÕES DE ENGASGOS
Quando esse tipo de situação pega os pais de surpresa e eles não sabem como agir, os agentes públicos podem surgir como um anjo na vida da família. Foi o que aconteceu com o sargento da Polícia Militar, Glauber Silva, e o soldado Assunção, que pertencem ao 1º CIA, durante uma ronda no município de Castanhal, nordeste paraense. Eles foram abordados por uma família que pedia ajuda para salvar um bebê de oito meses que engasgou após tomar açaí com farinha. Com uma ação rápida, os militares executaram a Manobra de Heimlich e conseguiram salvar a criança, que já estava com o corpo mole e roxo.
A professora de educação física, Raquel Tavares, de 38 anos, é mãe de duas crianças e lembra que também já passou por uma situação desesperadora quando seu filho primogênito, hoje com 10 anos, se engasgou quando ainda era um bebê.
“Estávamos indo para mosqueiro, no caminho eu tive que dar de mamar pra ele, quando a gente chegou lá na casa da minha sogra, já era noite e eu fui ao banheiro lavar ele, eu olhei pelo reflexo do espelho e vi que ele estava com a boquinha roxa, os lábios e em torno do rosto roxo, e ele estava começando a ficar desacordado, foi quando percebi que alguma coisa estava acontecendo com meu bebê", lembra Raquel.
Após perceber que o bebê não estava bem, ela correu para pedir ajuda ao Corpo de Bombeiro da Ilha do Mosqueiro. “Eu não tinha esse conhecimento da manobra. No meio do caminho, a única coisa que eu pensava em fazer era só respiração boca a boca, puxar o ar e apertar o peito. Quando chegou no Bombeiro, ele já estava voltando. Os bombeiros fizeram essa manobra e ele voltou e começou a chorar”, relata.
Porém, essa não foi a única vez que Raquel passou por essa situação de engasgo com o filho. “A outra vez ele já estava maiorzinho, já sentava e estava na sala de casa brincando e, do nada, ele começou de novo, acho que ele se engasgou com a saliva. Ele foi desfalecendo, eu corri com ele para emergência e, no meio do caminho, eu ia fazendo a mesma coisa, apertando no peito e puxando o ar pela boca. Chegando na emergência ele já estava melhorando, lá eles fizeram de novo a manobra.”
Preocupada e sempre em estado de alerta, Raquel revelou que chegou a fazer diversos exames para tentar descobrir o motivo do filho ter tantas recorrências de engasgo, chegou a fazer exame do coração, exames complementares para diagnóstico da epilepsia como eletroencefalograma, tomografia de crânio e a ressonância magnética do cérebro, porém, ela conta que não chegou a nenhum diagnóstico.
LEIA TAMBÉM
Manobra de Heimlich
Descrita em 1974, a Manobra de Heimlich foi idealizada pelo Dr. Henry J. Heimlich, médico cirurgião torácico americano. O objetivo da manobra é simular uma tosse, por meio da elevação do diafragma e aumento da pressão intratorácica, a pressão faz com que o corpo estranho seja expulso pelas vias aéreas. Mas atenção, a manobra só é válida se a criança ou o adulto engasgado estiverem conscientes. Vítimas inconscientes precisam ser encaminhadas imediatamente à emergência.
Em entrevista ao DOL, a médica pediatra Mariena Souza Pedroza de Freitas explicou o que é um engasgo, a importância de saber reconhecer quando alguém está engasgada e o que fazer de forma imediata para salvar a vítima. Veja o vídeo!
- Principais causas de engasgo em bebês e crianças: o leite materno, prendedor de chupeta e comida na introdução alimentar são as principais causas de engasgo em bebês. Já a criança maior é mais comum o engasgo por grãos, moedas, joias e brinquedos.
- Quais são os sinais que o bebê apresenta quando está engasgado: Vômito, dor para engolir, salivação em excesso, rouquidão, chiado no peito, tosse persistente, respiração irregular, ausência de emissão sons (choro e fala), palidez, cianose (boca de cor azulada/roxa), são alguns sinais que o bebê apresenta quando está engasgado. Caso seja percebido, enquanto o socorro não chega, a criança deve ser submetida a manobra de Heimlich.
Identifique sinais de engasgo
Técnica para bebês menores de um ano
A Manobra de Heimlich consiste em colocar o bebê de bruços em cima do antebraço e fazer cinco compressões entre as escápulas (no meio das costas). Vire o bebê de barriga para cima em seu antebraço e efetue mais cinco compressões sobre o esterno (osso que divide o peito ao meio), na altura dos mamilos.
Se após todas as tentativas o bebê continuar engasgado, o recomendado pela profissional é ligar para o socorro médico e continuar realizando a manobra de Heimlich até o bebê expelir o corpo estranho ou até o socorro chegar. O contato com o socorro médico deve ser feito imediatamente ao notar que o bebê se encontra engasgado, pois manobras mal sucedidas podem levar a criança a sofrer uma parada respiratória e cardíaca.
Se a criança perder a consciência, deve se iniciar manobras de ressuscitação cardiopulmonar, conjunto de manobras destinadas para garantir a oxigenação dos órgãos quando a circulação do sangue de uma pessoa para.
Técnica para crianças maiores de um ano
O adulto deve se posicionar atrás da criança, sendo que ela fica de pé e o adulto ajoelhado. Então, com a criança de costas, ela é abraçada até que uma das mãos do adulto esteja fechada na altura do estômago e a outra mão esteja aberta, apoiada sobre essa mão fechada. Então, deve-se pressionar com força moderada a barriga da criança para dentro e para cima ao mesmo tempo.
Confira o vídeo
Técnica em adultos
Em crianças maiores ou no adulto, posicione-se atrás e apoie a mão fechada em punho, encoberta pela outra, entre o umbigo e a extremidade inferior do osso do peito. Realizar compressões para dentro e para cima.
5 dicas para prevenir engasgos
- Nunca deixe objetos pequenos espalhados pela casa como moedas, brincos, bolinhas de gude, balas entre outros;
- Respeitar o tempo da criança é essencial. Não tente antecipar as coisas. A introdução alimentar deve ser iniciada após os seis meses diante de todos os sinais de prontidão, como sentar-se sem apoio ou com o mínimo possível, ter perdido o reflexo de protrusão da língua, que é quando ele empurra o alimento para fora da boca com a língua, mostrar interesse em agarrar o alimento, colocá-lo na boca e mastigar mesmo sem dentes;
- Se o seu filho estiver com muita fome, procure amamentá-lo por alguns segundos. Assim que ele acalmar, reinicie o processo para que ele retome a mamada em um ritmo mais tranquilo;
- Após amamentar, procure deixar o bebê na vertical por 15 minutos mesmo que ele não arrote. Caso não ouça, não tem problema. O ar sai por gravidade;
- Nunca entregue na mão da criança um alimento que possa se desprender em pedaços grandes na boca, como salsichas, cachos de uvas, pães, bolachas;
- A criança precisa se alimentar sentada. Não dá para brincar, correr ou andar ao mesmo tempo em que se mastiga ou se bebe alguma coisa.
Repórter: Brenda Hayashi
"Paraense e formada em Comunicação Social - Jornalismo, Brenda Hayashi é uma pessoa antiquaria colecionadora de discos de vinil, apaixonada por antiguidade e apreciadora de músicas das décadas de 60, 70, 80 e 90. Repórter do DOL desde janeiro de 2022, ela gosta de escrever sobre assuntos relacionados à moda, beleza, entretenimento e cultura".
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar