A Vila Jutaí, localizada no município de Moju (PA), abriga hoje uma população de 411 pessoas com um sentimento em comum: a esperança por um futuro melhor que alie o desenvolvimento socioeconômico à preservação da natureza e do meio ambiente. Fundada há quase 50 anos, tem em seus moradores lembranças de tempos de muitas dificuldades, com falta de infraestrutura e busca pelo pertencimento ao município.
“A história da nossa vila remete aos tempos em que as pessoas vinham de outros lugares para praticar a caça e a pesca para a sua sobrevivência”, lembra Raimundo Nonato Gonçalves Pompeu, presidente da Associação dos Agricultores de Jutaiteua.
Ao longo dos anos, a comunidade se dedicou à produção agrícola, especialmente de mandioca e pimenta-do-reino, mas ainda dentro de uma realidade de bastante dificuldade para estas pessoas. Até os anos 1990, era preciso andar quase 40 quilômetros a pé para poder vender o pouco que produziam e ter acesso aos serviços básicos de saúde. “Naquela época, o produtor tinha que produzir de 50 a 100 pacotes de farinha para poder ir na vila, fazer a feira e comprar os alimentos para o seu sustento”, recorda-se.
A realidade começou a mudar com uma maior conscientização ambiental. Um acordo com a participação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pôs fim à caça e à pesca na região e devolveu a água aos igarapés.
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Outro marco para a comunidade da Vila Jutaí foi a criação da associação, em 2005, o que, após muitas reivindicações, viabilizou o reconhecimento por parte do município de Moju. Começava então uma nova luta: a busca por uma infraestrutura de acesso à vila, com uma estrada inaugurada em 2010, e por políticas públicas, com a abertura de uma escola em 2015.
Com esse desenvolvimento veio o maior desafio dessa comunidade: combater uma tentativa de invasão violenta de grileiros que se diziam donos das terras. Com a atuação institucional da associação, conquistaram juridicamente o direito de permanecer nas terras onde sempre viveram.
Palma: uma nova esperança
Atualmente, os produtores da Vila Jutaí vivem das culturas de açaí, mandioca, pimenta-do-reino e cacau, que não possuem mercado garantido. “Hoje plantamos e não sabemos se vamos vender, pra quem vamos vender e por qual preço”, explica Nonato.
Uma realidade que começa a mudar graças à adesão da comunidade ao Programa de Agricultura Familiar da Agropalma. Desde o ano passado, 17 famílias iniciaram a plantação de 227 hectares de mudas de palma e devem começar a colheita a partir de 2026. Como parte da parceria, a Agropalma tem o compromisso de comprar 100% da produção das famílias inseridas no programa, independentemente da variação do mercado. A política justa de precificação é um dos principais diferenciais da Agropalma e garante a sustentabilidade da parceria no longo prazo aos agricultores.
A empresa viabiliza que os agricultores familiares tenham acesso aos melhores materiais de plantio e insumos agrícolas, inclusive mudas e adubos. Além disso, fornece a eles aconselhamento, treinamento e acompanhamento sobre as melhores práticas de produção, aliando técnicas de agricultura regenerativa, proteção ambiental e requisitos legais. O programa de Agricultura Familiar da Agropalma reforça o compromisso da empresa com o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais e a sustentabilidade em todo o ciclo de seu negócio, do cultivo à produção.
Investimento em agricultura regenerativa
Embora a palma seja a cultura mais rentável, não passa pelo planejamento dos produtores da Vila Jutaí abandonar os outros cultivos. Com a assistência da Agropalma, eles estão adotando técnicas baseadas em agricultura regenerativa em um consórcio composto por palma e mandioca. A Agropalma sempre considera a aptidão do agricultor para outras culturas e não há nenhuma imposição sobre essa decisão.
Essa é uma iniciativa, com grande potencial de expansão. A empresa iniciou, em parceria com a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) e a Universidade Federal de Viçosa, um estudo para desenvolvimento de sistemas agroflorestais (SAFs) como alternativa para cultivo da palma em escala comercial. A pesquisa considera aspectos mercadológicos, técnicos e econômicos e seus impactos para todas as partes interessadas (produtores e clientes).
Também será realizado um diagnóstico junto às instituições certificadoras e parceiras da Agropalma, visando compreender exigências e tendências relacionadas à adoção de práticas agroflorestais e de manejo da palma alinhadas ao sistema orgânico e aos conceitos de produção sustentável.
Os SAFs representam uma abordagem inovadora e sustentável para o manejo da terra, que integra a agricultura com a preservação ambiental. Diferentemente dos métodos convencionais, os sistemas agroflorestais, por exemplo, visam otimizar o uso da terra ao longo do ano, maximizando a produção agrícola enquanto promovem a regeneração e preservação da vegetação existente.
Esse conceito é bastante aderente à produção de palma, uma cultura considerada bastante sustentável, principalmente pela sua capacidade de resgate significativo de carbono e eficiência na utilização da terra. Ao absorver grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera durante seu crescimento, as plantações de palma contribuem ativamente para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Além disso, sua alta produtividade por hectare permite alcançar rendimentos substanciais em áreas relativamente pequenas, comparadas a outras culturas agrícolas. Essa eficiência no uso da terra é fundamental para a conservação de ecossistemas naturais e a preservação da biodiversidade, tornando a palma uma escolha promissora para promover práticas agrícolas mais sustentáveis.
José Maria: um elo entre a Agropalma e a Vila Jutaí
Além de auxiliar os produtores a conseguir financiamentos bancários, a Agropalma também tem buscado aproximá-los de indústrias, potenciais compradoras das matérias-primas que produzem.
Uma das pessoas à frente dessa assistência à comunidade é Jose Maria Pompeu Leão. Nascido e criado na Vila Jutaí, hoje faz parte da equipe da Agropalma, atuando na prospecção de novas áreas para plantio de palma. “Durante minha vida sempre vivi um dilema muito grande entre o amor por este lugar e a vontade de ir embora em busca de uma vida melhor. Mas decidi ficar e tenho buscado ajudar no desenvolvimento da comunidade, primeiro como um dos fundadores da associação e, agora, fazendo o elo com a Agropalma”, conta.
Mesmo antes de entrar na Agropalma, ele teve uma participação ativa no desenvolvimento da agricultura local. Após concluir um curso técnico de agronegócio no Senai, passou a disseminar o conhecimento adquirido para os outros produtores. Foi o primeiro passo para a criação do sistema agroflorestal na Vila Jutaí. “Todas as culturas são importantes e geram renda para os produtores, mas a parceria com a Agropalma representa uma segurança para essas famílias”, completa.
Além dos sistemas agroflorestais, a comunidade também iniciou há pouco mais de um ano uma nova atividade econômica, a apicultura, com o objetivo de comercializar mel e própolis. “Nossos produtores estão muito empolgados com mais essa fonte de renda”, conta José Maria.
Sobre a Agropalma
A Agropalma é a maior produtora de óleo de palma sustentável das Américas. Sua atuação perfaz toda a cadeia produtiva, da produção de mudas ao óleo refinado e gorduras especiais às soluções de alto valor agregado, incluindo produtos orgânicos. Sua trajetória começou em 1982, no município de Tailândia, no Pará. Hoje a empresa conta com seis indústrias de extração de óleo bruto, um terminal de exportação alfandegado, duas refinarias e emprega cerca de 5 mil colaboradores. A Agropalma tem como propósito tornar a palma sustentável uma referência brasileira. Para mais informações, acesse: www.agropalma.com.br.
Cultivo de palma transforma vidas de famílias no Pará
O Programa de Agricultura Familiar implantado pela Agropalma já tirou da extrema pobreza 272 famílias no Pará. Nos últimos dois anos, com o cultivo do dendê, as famílias faturaram, em média, R$ 15 mil por mês. Esse valor representa um aumento de aproximadamente 475% na renda média dos agricultores familiares nos últimos 15 anos.
“A Agropalma é pioneira na palma para a agricultura familiar. O projeto, que começou com 50 famílias, já ficou cinco vezes maior e estamos trabalhando para sua ampliação. Ele é extremamente estratégico para a Agropalma, uma vez que 25% da nossa produção vem do trabalho da agricultura familiar e dos produtores integrados”, explica Antonio Jorge Brandão, gerente do Programa de Integração Agricultura Familiar e Produtores Integrados da Agropalma. “Mas o objetivo do projeto vai muito além de sua contribuição para o negócio. Nos orgulha imensamente a forma como mudamos as histórias de muitas famílias e disseminamos as melhores práticas de cultivo e preservação ambiental”, completa o executivo.
Transformando a natureza em produtos de beleza
Quando ainda trabalhava mapeando a região das ilhas de Belém, a pedagoga Danielly Leite jamais imaginou que, em 2024, seria a empreendedora responsável por comandar uma fábrica de cosméticos naturais instalada no distrito de Icoaraci, a Bioilha. A partir da oportunidade observada no contato próximo com os saberes das populações ribeirinhas, ela encontrou uma maneira de transformar não apenas a sua realidade, mas de dezenas de outras pessoas nas ilhas e na cidade.
Danielly conta que durante os 10 anos em que atuou nas ilhas de Belém, em projetos ligados à educação, conheceu muitas famílias ribeirinhas que extraíam óleos vegetais e, naturalmente, começou a levar essa produção para vender no Ver-o-Peso. Ao compartilhar parte da sua rotina nas redes sociais, viu surgir a demanda por produtos feitos a partir dessa matéria prima natural. “Eu comecei a mostrar o meu dia a dia na internet e, organicamente, em 2019, as pessoas começaram a pedir óleo de Andiroba, o óleo de copaíba e nisso eu percebi que tinha um potencial, que os nossos óleos naturais da Amazônia são muito bem vistos por quem é de fora”, lembra.
“Então, no final do ano de 2019 eu tomei uma decisão de pedir demissão para me dedicar somente à venda de óleos vegetais, de produtos naturais que que eram das ilhas de Belém. Até então eu não fabricava, eu só trabalhava na venda desses produtos que os meus amigos ribeirinhos produziam de forma bem artesanal, bem extrativista mesmo. Eu nunca imaginei que, por exemplo, em 2024 a gente estaria com uma fábrica”.
Quando pediu demissão para se dedicar ao novo projeto, os clientes começaram a perguntar se Danielly trabalhava com sabonetes e alguns cosméticos feitos a partir de óleos vegetais da Amazônia. Foi quando ela começou a estudar o assunto e a fabricar os sabonetes ainda em casa, no início de 2020. “Com isso, os clientes começaram a pedir outros cosméticos, como cremes e esfoliantes e eu continuei a estudar e a me dedicar cada vez mais à manipulação de cosméticos naturais e a fabricar os meus próprios cosméticos com a matéria prima da Amazônia, sempre com a preocupação de utilizar óleos vegetais das comunidades ribeirinhas”.
Um princípio que acompanha Danielly desde o início dessa jornada até hoje é o de não fazer uso de ingredientes derivados do petróleo, priorizando sempre produtos naturais e locais. “Diferente de outras fábricas, a gente não utiliza BHT, por exemplo, um ingrediente que é derivado do petróleo e que é muito utilizado na indústria cosmética como conservante. Então, nossos produtos são feitos o máximo possível com ingredientes naturais e sempre valorizando a produção extrativista, principalmente das comunidades ribeirinhas”, explica. “Com isso, os clientes abraçaram o projeto da Bioilha, gostaram dos produtos, viram resultados e a gente foi crescendo gradativamente”.
Com a boa aceitação dos clientes, em 2021 a empreendedora tomou a decisão de formalizar a fábrica junto à Anvisa. Hoje, a fábrica emprega uma equipe de mais de 10 pessoas, sendo a maioria mulheres, apenas um homem compõe a equipe. Com o trabalho em rede, não apenas a vida da Danielly se transformou, mas também as das mulheres empregadas na fábrica e das comunidades ribeirinhas que tiveram uma fonte de renda a partir da extração dos óleos naturais da floresta.
“E a gente segue crescendo sem mudar aquilo que a gente iniciou, que é a preocupação de criar produtos que não agridam nem o ser humano e nem a natureza. Então, a gente continua trabalhando com comunidades ribeirinhas, comprando as produções locais como o óleo de andiroba e a copaíba, para criar os nossos cosméticos. Todos os nossos produtos são veganos e naturais”, comenta a empreendedora. “Acaba sendo um movimento porque a gente compra do produtor local, transforma essa matéria prima em cosmético, repassa para o nosso cliente final que recompra da gente e a gente faz a recompra do nosso fornecedor que está lá na ponta. Então, começa lá na ilha e chega até a cidade, na casa do cliente”.
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