Durante o período de efervescência econômica oriunda da exploração da borracha, Belém viveu não apenas uma intensa transformação urbanística, mas também artística. O bom momento para a economia local atraiu artistas para a cidade considerada, à época, sinônimo de modernidade e parte das obras produzidas neste período podem ser contempladas até hoje.
O professor de História do Instituto Federal do Pará (IFPA), Nonato de Castro, lembra que vários artistas se deslocaram até Belém no período da chamada Belle Époque, alguns foram por iniciativa própria e outros foram levados para a capital paraense. Entre eles, estiveram nomes que ficaram marcados na história e na memória da cidade.
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“Carlos Gomes veio para dirigir o Conservatório de música, no Governo de Lauro Sodré. Além disso, pintores, escultores, músicos, estavam em circulação pela cidade, sendo contratados ou expondo os seus trabalhos, sempre buscando os melhores lugares para expor, como o foyer do Theatro da Paz. Mas havia outros espaços como o Palace Theatre (Grande Hotel), a Biblioteca Pública Arthur Vianna, entre outros”, destaca o professor. “Não se pode esquecer que o cenário econômico era favorável. O mecenato virou moda em Belém, em especial, pela administração pública, tanto municipal, quanto estadual”.
O professor aponta que o Governo de Antônio Lemos, conhecido pelas transformações urbanas e embelezamento da cidade naquele período, proporcionou a criação de uma pinacoteca municipal que reuniu obras de artistas plásticos que estiveram em Belém para expor suas obras, como Antônio Parreiras e Benedito Calixto. “Vale ressaltar que em 1901, Carlos Custódio de Azevedo realizou a primeira grande exposição de arte no foyer do Theatro da Paz”.
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A relação do Theatro da Paz com as artes plásticas não foi pontual. O professor Nonato de Castro aponta que a casa de espetáculos serviu de palco para várias exposições. Um registro deste momento está presente no álbum ‘Belém da Saudade: A memória de Belém no início do século em cartões-postais’, que registra que “o foyer do teatro foi muitas vezes utilizado para exposições dos mais significativos pintores do país”, ao publicar postal que ilustra uma exposição de Carlos Custódio de Azevedo no Theatro.
Além dele, também realizaram exposições no Foyer do Theatro da Paz o pintor Parreiras, Theodoro Braga, Aurélio de Figueiredo, Joseph Casse, Benedito Calixto e Fernandez Machado. “As obras desses artistas foram adquiridas, tanto pela administração, quanto por particulares. Boa parte dessas obras estão nos Museus do Estado do Pará, como a tela ‘Conquista do Amazonas’, que foi encomendada por Augusto Montenegro ao pintor Antônio Parreiras. Também podemos encontrar as obras ‘Doloroso Transe’ de João Batista da Costa. Na pinacoteca municipal vários trabalhos estão expostos para que o público possa conhecer um pouco da nossa história”.
Ainda no campo das artes, o professor de história do IFPA lembra que Belém também vivenciou um trânsito intenso de grandes nomes da fotografia, como é o caso de Felipe Augusto Fidanza, que chegou a Belém vindo de Portugal e foi responsável por belos registros da Belém do século XIX que até hoje preservam a memória do cotidiano da cidade naquele período.
“Outro aspecto relevante, está na presença dos cinemas, vários espaços exibiam filmes em Belém, como o ‘Bar Paraense’, o cinema Nazareth, o ‘Bar Americano’, o cinema Rio Branco, e o cinema Ouvidor que funcionou nas dependências do Theatro da Paz. No entanto, em 1912, Belém passou a contar com o luxuoso cinema Olympia, que contava com bandas durante a exibição, como os ‘Batutas Paraenses’, que tinha no violão de João Santa-Cruz a liderança do movimento musical”, relata Nonato de Castro. “Esse cenário todo está ligado às transformações vividas em Belém. Primeiro, em virtude da economia da borracha e segundo pela República recém-inaugurada, que buscava transformar o modo de pensar da população por meio do projeto gráfico de construção e valorização de símbolos republicanos”.
OBRAS
Entre as obras deixadas por artistas reconhecidos e que passaram por Belém no período da economia da borracha, estão a tela “A Fundação da Cidade de Belém”, de Theodoro Braga, datada de 1908 e que integra o acervo do Museu de Arte de Belém; a tela “Conquista do Amazonas”, de Antônio Parreiras, também de 1908, e que faz parte do acervo do Museu do Estado do Pará; e inúmeras fotografias deixadas por Felipe Augusto Fidanza e compõem publicações do acervo de obras raras da Biblioteca Pública Arthur Vianna, como é o caso do “Álbum do Pará em 1899”.
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