Nesta quinta-feira, 15 de agosto, são comemorados os 201 anos da adesão do Pará à Independência do Brasil, ato que marca a assinatura protocolar do documento que colocava fim à hegemonia portuguesa na então província. Com fortes influências da elite lusitana, o Grão-Pará, como era conhecido na época, foi a última província a reconhecer o Império Brasileiro, quase um ano depois da Declaração da Independência. Para a professora e historiadora Edilza Fontes, a data remete a um período também violento e de mortes de pessoas que lutaram por uma outra identidade nacional.
“Na verdade, a adesão do Pará é um ato cheio de imposições, cheio de processos que demonstram que foi forçada. Trouxe no seu bojo todo um processo de violência que eu diria, na leitura de hoje, de mortandades que culminaram na tragédia do Brigue Palhaço”, detalha Edilza, referindo-se ao massacre ocorrido em outubro daquele mesmo ano, com a morte de 256 pessoas dentro da embarcação São José Diligente, que estava atracado na baía do Guajará.
Fato é que os generais, cardeais e comerciantes do Pará à época eram todos de origem portuguesa e não queriam que o Pará aderisse à Independência do Brasil, porque este ato significava perder os privilégios políticos. Enviado por Dom Pedro I, o comandante inglês John Grenfell então desembarca trazendo aos governantes do Grão-Pará um documento afirmando que havia uma esquadra em Salinas, região litorânea do nordeste paraense, pronta para bloquear o acesso ao porto da capital, isolando o Pará do resto do Brasil, caso a adesão não fosse aceita. Era um blefe, mas acabou funcionando por algum tempo.
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Como a esquadra nunca chegava, os portugueses reiniciaram as perseguições aos rebeldes simpatizantes da independência. A violência iniciada pelos portugueses foi revidada com mais violência pelos brasileiros. Tendo sido eleita uma Junta Governativa em 17 de agosto, explodiu uma violenta reação popular, que obrigou Grenfell a desembarcar tropas e efetuar prisões em massa, visando restabelecer a ordem pública.
A população tinha a expectativa de que a independência representasse mudanças radicais na estrutura econômica e sociopolítica da região, mas não foi o que ocorreu: a adesão manteve o mesmo grupo que já estava no poder, a maioria de portugueses, além da escravidão ainda permanecer forte. As vítimas mortas asfixiadas no porão do Brigue Palhaço estavam ali presas após ataques a estabelecimentos comerciais portugueses como forma de protesto pela inalteração do estado das coisas.
“Hoje se diz que a forma como se deu implantação do império de Dom Pedro I no Brasil garantiu a extensão territorial do nosso país, mas não devemos apagar ou tentar esquecer os movimentos que lutaram por uma outra identidade nacional que incorporasse mais aquilo que se identificava como vontade de parcela da população”, atenta Edilza Fontes. “O movimento aqui no Pará foi muito forte - queria adesão mas com o controle por brasileiros natos e isso não ocorreu. E daí houve as lutas e devemos lembrar daqueles que brigaram por independência mais ampla, garantindo a liberdade”, finaliza a historiadora.
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