"Quem não tinha dívida, agora tem”, é o que diz um dos feirantes do Mercado do Icuí-Guajará. Inaugurado em agosto de 2023, a nova feira foi um projeto para tirar os feirantes da rua Jovelina Carneiro, onde funcionava a antiga feira do bairro. Apesar de ter uma boa estrutura para os trabalhadores, o atual mercado recebe pouquíssimos frequentadores, deixando os feirantes em uma situação financeira complicada, já que o baixo movimento raramente garante o sustento mensal.
Orçada em aproximadamente R$ 1 milhão, a construção do Mercado do Icuí-Guajará foi uma obra conveniada entre a Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop) e a Prefeitura de Ananindeua, que passou a ser responsável pelo local após a inauguração do mesmo. Porém, o escasso movimento no novo espaço fez com que a maioria dos feirantes abandonasse a banca e alugasse pontos próximo ao antigo local de trabalho. A existência de duas feiras simultâneas enfraqueceu ainda mais as vendas no Mercado do Icuí.
Os 15 permissionários restantes enfrentam dificuldade em conseguir o básico para se manter durante o mês. Esse é o caso da autônoma Ana Silveira, 36, que tem na venda de cosméticos a principal fonte de renda. A sogra dela era responsável pelo ponto, mas como vivia exclusivamente da venda no mercado, ela precisou abandonar o espaço para alugar um ponto na feira e garantir o sustento da família.
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Hoje é Ana quem utiliza o espaço para expor os seus produtos, mas vender mesmo é coisa rara pelo local. “Na verdade, não tem venda aqui. É como se fosse uma troca de mercadorias. Quem trabalha com alimento praticamente só vende pra quem trabalha aqui, assim como eu também, que ainda vendo pela internet e é até melhor que aqui. Eu acho que tinham que divulgar que aqui tem uma feira com produtos de qualidade, senão a população não vai vir pra cá”, afirmou a feirante.
PREOCUPAÇÃO
Natural de Mocajuba, Dineia Gaia, 40, se mudou para Ananindeua em busca de uma melhora de vida. Ao chegar no município, ela conseguiu um box para trabalhar com venda de café da manhã e refeições no Mercado do Icuí. Um mês de trabalho foi o suficiente para encarar a falta de movimento e a escassez de dinheiro no bolso.
“A gente investe, mas não tem retorno. Eu tô há um mês aqui, mas o movimento é fraquíssimo, não consegui tirar lucro nenhum. Assim que eu conseguir recurso vou investir em trabalhar em casa porque moro aqui perto, mas acho que pode ser até melhor do que ficar indo e voltando e não ter ganho nenhum”, disse a lancheira.
Logo quando chegou, ela preparava sopa e mingau de milho para vender durante o dia, mas a ausência dos clientes fez com que o investimento se tornasse um gasto pesado no orçamento. Sendo o único meio de renda, ela apelou apenas para o café da manhã e, mesmo assim, tem dias que não faz nenhuma venda durante as cinco horas que trabalha na feira. Agora teme a falta de condições financeiras para pagar as contas do mês.
“Eu chego aqui às sete da manhã e saio ao meio-dia e vendo muito pouco, hoje (ontem) eu não vendi nem um café. Tá pra chegar a minha conta de energia, eu vou pagar com o que? Se for esperar pra tirar o dinheiro daqui a gente não consegue”, contou Dineia.
O feirante Aderidon Pereira, 40 anos, viu na nova feira uma possibilidade de ganhar mais dinheiro do que quando trabalhava na rua. Ele relata que nos dias seguintes à inauguração o local realmente recebeu muitos clientes e chegou a vender mais de R$ 200 em hortaliças em apenas um dia. Mas, a abundância foi momentânea e depois de alguns meses o movimento começou a baixar até quase desaparecer, como está atualmente.
“Todo mundo foi abandonando os boxes porque pra lá fica mais perto de outras vendas e isso facilita pro freguês. O cliente não vai querer comprar um frango pra lá e descer pra cá pra comprar só os temperos”, avaliou o feirante.
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Prejuízo
Devido ao baixo movimento e falta de expectativa de novos clientes, o feirante teve que reduzir a quantidade de mercadoria para não ter prejuízo ainda maior. “Antes eu comprava de duas ou três sacas para vender em até três dias. Aqui eu compro uma sacolinha para vender em uma semana e olhe lá. A minha sorte é que eu moro só e ainda consigo tirar um dinheiro para pagar as minhas contas, mas não tenho um dinheirinho pra dar uma volta. Desde de manhã cedo, eu ainda não fiz quinze reais hoje”, revelou o vendedor de hortaliças.
Feirante há 40 anos, Domingos de Lima, 70, vende peixe no Mercado do Icuí-Guajará desde a inauguração do novo espaço, há pouco mais de um ano. Devido a ser um alimento altamente perecível, o feirante compra no máximo 40 quilos para vender aos poucos no mercado, o que representa cerca de uma parte do que vendia na antiga feira. Ainda assim, ele precisa baixar bastante o valor do quilo do peixe, que chega até R$ 10, só para chamar a atenção do cliente.
“O movimento tá bem devagar, a gente vai levando até ver se melhora. A gente não pode se afobar e comprar muita mercadoria porque senão perde dinheiro. Tem que vender o que tem devagar e quando for acabando a gente repõe. Antigamente, a minha venda era muito boa, eu vendia cinquenta quilos de peixe num dia só. Hoje a minha venda caiu muito, às vezes não dá ninguém. Ontem [quarta] mesmo eu não vendi nadinha”, disse o peixeiro.
Procurada pelo DIÁRIO, a Prefeitura de Ananindeua não havia respondido aos questionamentos até o fechamento desta edição.
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