A Unimed Belém está sem direção geral desde a noite de ontem, 19. A médica pediatra Liane Rodrigues apresentou carta de renúncia ao cargo de diretora geral, que ocupava há um ano e oito meses, sob alegação de não haver viabilidade de “uma gestão sem confiança em seus gestores, pelos riscos que esta diretoria teria que assumir”. A reportagem do DIÁRIO buscou um posicionamento da gestora, mas ela não deu retorno.
A saída de Liane Rodrigues se dá logo após o envio de um ofício, datado de 11 de setembro e assinado por Omar Abujamra Junior, presidente da Unimed do Brasil, sobre “anormalidades econômico-financeiras e administrativas na Unimed Belém”.
O documento informa sobre o risco iminente da 4ª decretação de direção fiscal e técnica (uma espécie de auditoria) por parte da Agência Nacional de Saúde (ANS) contra a Unimed Belém, com automático bloqueio dos bens de todos os membros do conselho de administração e diretoria executiva bem como do risco de perda da utilização da marca Unimed, caso não sejam tomadas medidas urgentes - e o prazo para isso é de 30 dias a contar de 11 de setembro, sob pena de providências administrativas mais severas a serem executadas pela Unimed Brasil.
Na carta de demissão, a médica relata ter trabalhado todo esse tempo lidando com “fluxo de caixa comprometido com compromissos diários para honrar e muitas obrigações de pagamentos vencidos”.
Também reconhece que, durante sua gestão, identificou necessidade de revisão e correção de diversos fluxos internos buscando aumentar a eficiência operacional, assim como a necessidade de reestruturação de setores estratégicos à cooperativa.
“Tudo isso, somando-se a um cenário de ampliação do rol da ANS, relativos a terapias, medicamentos de alto custo e ainda enfrentando um aumento nas judicializações para garantir tratamentos fora do rol, o que impacta diretamente nos nossos recursos financeiros e operações”.
GESTÃO
O ofício assinado por Abujamra cita diversas problemáticas ligadas à gestão do presidente do Conselho de Administração da Unimed Belém, Wilson Niwa, no cargo há onze anos, ou seja, desde 2013. É posto inclusive que ele ocupa ilegalmente, visto que também é o presidente da Fama, a Federação das Unimeds da Amazônia, o que juridicamente lhe impediria de administrar a Unimed Belém. E sua manutenção no cargo é o que põe em risco a continuidade do uso da marca.
Diz ainda que em 2021 e 2022 o setor de saúde suplementar apresentou resultados positivos, já que muitos procedimentos deixaram de ser realizados pelos beneficiários em razão do distanciamento social exigido pela pandemia. Mas a Unimed Belém foi no caminho inverso, iniciando um processo de deterioração do seu caixa no período, com a contração de diversos empréstimos bancários dentre outras anormalidades econômico-financeiras.
“Para se ter uma ideia da temerária gestão da Unimed Belém nesse ano, em novembro de 2021 chegou a ter apenas três pontos, dos 100 possíveis, na avaliação econômico-financeira realizada pela Unimed do Brasil”, complementa, informando a seguir que em 2022 foram apenas dois pontos, e em 2023 e 2024 a nota chegou a zero em alguns meses.
Ainda no documento assinado por Otto, é exposto que a Fama já se encontra em direção fiscal e tenta “legalizar o calote (via recuperação judicial) que ofereceu aos prestadores de serviços da região Norte e no sistema Unimed Nacional, a quem deve mais de R$ 6,5 milhões, sem contabilização de juros moratórios”.
Ainda diretora geral, Liane Rodrigues orientou a elaboração de uma nota técnica via controladoria da Unimed Belém de um plano de contingência enviado à Unimed do Brasil no ano passado. A iniciativa tinha como objetivo assegurar a governança sistêmica, direcionamento estratégico, a identidade cultural e valores da marca.
A reunião para elaboração da nota foi realizada em 2 de junho de 2023, com a participação de representantes da Unimed Brasil, Niwa, Liane e outros membros da cooperativa. Informações obtidas pelo DIÁRIO dão conta de que Wilson Niwa teria paralisado o andamento dessa proposta de contingenciamento, e inclusive demitido envolvidos na elaboração da nota.
Uma fonte repassou à reportagem que a diretoria estava conduzindo o plano de contingência mas para permanecer no cargo, o presidente do Conselho de Administração da Unimed Belém não aceitou as orientações dos técnicos no acompanhamento econômico e financeiro da Unimed do Brasil e descartou as orientações dadas em 2023, deixando que o prejuízo aumentasse.
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