Principal palestrante do segundo dia da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, o democrata norte americano John Kerry, ex-senador e secretário de estado dos Estados Unidos no governo Barack Obama, participou ontem (7), de forma remota da programação. O evento encerra hoje (8), no Hangar Convenções & Feiras da Amazônia.
Ele, que até o início de 2024 era “enviado especial para o clima” do governo do atual presidente dos Estados Unidos, o também democrata Joe Biden, foi categórico desde o início de sua fala, reforçando que ninguém tem força suficiente para desfazer os compromissos globais para o enfrentamento das mudanças climáticas - nem mesmo um ferrenho negacionista como o presidente recém eleito, Donald Trump. “Ninguém, nem mesmo o presidente dos Estados Unidos, pode nos tirar dos trilhos que estamos percorrendo. Nos EUA todos os governadores, sejam democratas ou republicanos, têm as questões jurídicas a serem obedecidas e terão de avaliar questões sobre energia renovável e tudo o mais”, avaliou.
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“Vimos que negócios em todo o mundo fizeram compromissos em relação à redução de emissões e combate às mudanças climáticas. Os EUA continuarão com os compromissos assumidos anteriormente. Todas as maiores economias do mundo são responsáveis por emissões de carbono e precisam cumprir compromissos em relação a compensações, efeitos. Minha esperança é que não aconteça nada contra isso. Mas se acontecer, não haverá uma disrupção”, avaliou.
Em seguida, Kerry fez questão de enfatizar avanços como o Acordo de Paris, “porque estimulou que cada nação fizesse seu próprio plano contra os efeitos climáticos”, e o Acordo do Clima da COP28, de Dubai, quando mais de 200 países firmaram acordo sobre a transição dos combustíveis fósseis para renováveis “de forma justa, ordenada e efetiva”.
“E vamos seguir as definições científicas. Fazer isso de forma constante, fazer jus ao caminho trilhado até agora. Há demandas a serem atendidas em relação a isso, precisamos de mais usinas de gás natural, olhar com cuidado a questão de suprimentos de água, reduzir usinas de carvão como fonte de energia. Ajudar países em desenvolvimento a usar suas fontes de energia sem destruir o país com fontes não renováveis, que poluem, que trazem novos desafios”, pontuou.
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IMPACTOS
Em seguida, condenou o profundo impacto que o desmatamento tem causado inclusive nos lucros das empresas. “A Agência Internacional de Energia (IEA) diz que o aquecimento pode chegar a de 2,5 graus, mas com empenho podemos baixar para 1,7. Temos como vencer essa batalha, mas só se houver a implementação de tecnologias para reduzir emissões. Se chegar a 2,5 vai ser catastrófico”, alerta.
O ex-secretário de estado norte americano afirma que o mundo está desafiando seus próprios limites promovendo destruição em massa. “Temos florestas úmidas sem chuva, secas absurdas, 39 milhões de pessoas hoje são reféns do clima. O derretimento de calotas é uma ameaça ao mundo. Empresas de todo o planeta estão colocando muito dinheiro em biotecnologia. Temos soluções, o problema é que as pessoas estão sendo indiferentes, casuais e às vezes até gananciosas ao não fazerem as escolhas necessárias”, condenou.
Para Kerry, o que a humanidade vive hoje é o que viveu há algumas dezenas de décadas, quando foi preciso criar linhões de transmissão de energia e estradas para ligar cidades e estados. “Isso é investimento para garantir a vida. E traz benefícios econômicos, traz mais emprego, tem muitos ganhos se perseguirmos as tecnologias que já existem a fim de um futuro possível”, justificou.
Kerry fez questão de reconhecer que nenhum governo no mundo tem o dinheiro que se precisa para todas essas transições, e que por isso o melhor que o setor público pode fazer é criar políticas com incentivos corretos. “A iniciativa privada já começou a se dar conta que isso também é lucrativo e vão investir nisso. A Alemanha está usando 50% de recursos renováveis para energia. A China é o maior emissor do mundo, três vezes mais que os EUA. Mas a China está produzindo, criando e implementando mais fontes de energia renovável do que o resto do mundo, em conjunto. Pensem nisso”, sugeriu.
“A chave para o Brasil é trabalhar pela bioeconomia, pela razão óbvia de ter essa riqueza que é a floresta. O presidente Lula fez grandes esforços para reduzir o desmatamento, mas ainda tem muito a ser feito. Por exemplo, o país tem uma forte produção agropecuária, mas pode reduzir emissões mudando as dietas dos animais, em espaço menor. Estamos indo em direção a uma nova revolução, com muitas tecnologias, para um mundo mais saudável e limpo”, completou o ex-senador.
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