O Tapanã é o segundo bairro mais populoso de Belém, atrás apenas do Guamá, conforme o levantamento do Censo 2022. Diferentemente de outros bairros do centro da capital, que perderam população, o Tapanã foi um dos que ganharam mais densidade populacional, passando de 66.669 residentes em 2010 para 69.295 em 2022, o que o fez sair da quarta para a segunda posição do ranking.
A tendência de crescimento populacional também foi observada em bairros localizados entre o início da avenida Augusto Montenegro e o distrito de Icoaraci, como Paracuri, Tenoné e Águas Negras. De acordo com o coordenador técnico do Censo 2022, Luiz Cláudio Martins, o aumento de moradores pode estar relacionado a fatores como valor do metro quadrado e a expansão da área do bairro.
“Há algumas hipóteses relacionadas a esse crescimento. Tem a ver com a questão do valor do metro quadrado, já que morar no centro é um valor altíssimo e as pessoas buscam locais que elas consigam pagar pelas residências, seja aluguel ou um imóvel. Tem também a questão da possibilidade de expansão territorial do bairro, no centro de Belém há somente o crescimento vertical”, aponta o técnico do IBGE em Belém.
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Ao todo, são 26.452 domicílios presentes no bairro. Dos residentes do Tapanã, 28% tinham entre 0 a 14 anos de idade, enquanto 11% tinham 60 anos ou mais, o que revela ser um bairro com população jovem. Dentre os moradores, 52% eram mulheres e 48% eram homens. Com isso, o número da média de moradores era de 3,2 por moradia. Segundo Luiz Cláudio Martins, o bairro ainda tem a forte presença do chamado “aglomerados subnormais”, que diz respeito à presença de comunidades urbanas ou favelas.
“São áreas caracterizadas pela ausência de posse, de título de propriedade e associado a isso tem a ausência de alguns equipamentos públicos que oferecem serviços básicos, como saneamento. Então, parte do bairro ainda é constituído por essas comunidades urbanas ou favelas, como o Novo Tapanã I e o Novo Tapanã II”, revelou um dos responsáveis pelo levantamento estatístico do Censo 2022.
Moradores do Tapanã garantem que o bairro é um bom lugar para se viver já que, atualmente, o bairro conta com praças, supermercados, grandes feiras, escolas, igrejas e unidade de atendimento básico de saúde. A busca por oportunidade de trabalho, qualidade de vida e proximidade com o centro da capital foi a motivação para que moradores do interior do estado e localidades mais afastadas de Belém optassem pela vida no bairro.
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A vida adulta de Benedito da Silva, de 72 anos, está entrelaçada à história do bairro. Natural do Marajó, ele se mudou para o Tapanã aos 21 anos à procura de um emprego. Na chegada, em 1952, trabalhou em uma antiga granja que existia próximo à Terceira Rua, que marcou o início da sua vida laboral, finalizada muitos anos depois, com o trabalho de vigilante da Escola Estadual Nossa Senhora do Carmo.
Devido aos anos de vivência no bairro, ele viu o Tapanã mudar, passando de uma localidade sem infraestrutura urbana para um processo acelerado de urbanização. “Eu gosto muito de morar no Tapanã,na minha terra natal eu só vou a passeio. Quando eu cheguei, o Tapanã era só mato, não tinham ruas, eram só caminhos, não tinha nem luz elétrica, era tudo na lamparina. Hoje em dia o bairro tem crescido, mudou muito, já tem muitas ruas asfaltadas e com muitas casas e famílias morando aqui”, relatou o aposentado.
OPORTUNIDADE
Sendo uma das principais vias do bairro, a Rodovia do Tapanã reúne fábricas, empresas de médio e grande porte e condomínios residenciais que estabeleceram polo no seu entorno. A rua também sedia a Delegacia de Polícia do Tapanã, a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dr. José Márcio Ayres e Hospital Veterinário Municipal Dr. Vahia, o primeiro hospital público voltado para cães e gatos da região Norte com atendimentos de baixa e média complexidade.
A autônoma Marilene dos Santos, 48, trabalha bem em frente à instituição de saúde animal com a venda de produtos para pets, como coleiras, fraldas e até algumas roupas. Antes moradora de Icoaraci, ela relata que residia no Tapanã desde quando as ruas ainda eram de piçarra e na frente de uma panificadora, situada em uma das feiras, por volta do ano de 2001. Depois de uma temporada fora do bairro, ela retornou em 2019, onde mora e trabalha desde então.
Segundo a moradora, o bairro mudou muito e tem crescido cada vez mais. “Morar aqui é muito bom, tem tudo, supermercado, alguns condomínios, têm feiras grandes, aqui cresceu muito nos últimos anos e está crescendo cada vez mais. Aqui tudo é próximo, principalmente das feiras, panificadora, farmácia, é ótimo. Só o que faltava era uma pracinha igual como tem a do Cordeiro, mas não tem outra para as crianças brincarem e para os adultos conversarem”, disse Marilene.
COMÉRCIO
Na questão da religiosidade, o bairro possui duas grandes igrejas: Paróquia São Francisco de Assis e Paróquia Jesus Bom Samaritano. Já no comércio, o Tapanã se destaca por grandes feiras, sendo duas as principais: Feira do Tapanã, onde está situada a Casa de Saúde da Família Tapanã I; e a Feira do Capucho, entre as ruas Piçarreira e Maria de Nazaré, onde ficava o antigo fim da linha do ônibus “Tapanã - Ver-o-Peso”.
Assim como a primeira, esta última é onde gira a economia do bairro e vários moradores garantem o sustento diário com a venda de alimentos, que vão desde farinha a carnes, além de peças de vestuário e dispositivos eletrônicos. O feirante Jhonatan Cunha, 22 anos, é morador do Tapanã desde criança e, hoje, trabalha na Feira do Capucho. Segundo ele, o bairro tem mudado bastante, principalmente na questão do asfaltamento das ruas. Porém, a questão do lixo e espaços de lazer ainda precisam de atenção do poder público municipal.
“O bairro tá melhorando, as ruas agora estão asfaltadas, mas ainda falta melhorar a questão do lixo. De diversão, aqui nós temos a praça do Cordeiro que o pessoal vai passear à noite, mas também tem que melhorar, fazer uma limpeza. Aqui no centro é uma área boa pra se morar porque tem a parte do comércio e fica tudo perto”, avaliou o feirante.
ENTRETENIMENTO
Como opção de divertimento, os populares contam com a “Praça do Cordeiro” que possui várias opções de lanches, além de parque para crianças e a famosa “Rampa do Rap”. Infelizmente, o local não se encontra em boas condições estruturais, já que o mato toma conta do pequeno espaço de passagem dos pedestres e algumas áreas está com a estrutura de calçamento danificada. Embaixo da rampa de skate é descartado dejetos de todos os tipos, trazendo insegurança sanitária para os moradores.
HISTÓRIA
Construído em 1942, o bairro foi criado pelo Serviço de Mobilização de Trabalhadores para Amazônia (SEMTA) para abrigar trabalhadores imigrantes da “Batalha da Borracha” durante a Segunda Guerra Mundial, que tinham o objetivo de suprir os Estados Unidos com a matéria-prima. O governo brasileiro, então, fez um recrutamento de pessoas para trabalhar na lida nos seringais amazônicos.
Ocupado principalmente por nordestinos, que vinham para Belém em busca de melhores condições de vida, os trabalhadores ficavam hospedados em um galpão chamado “Pouso do Tapanã”, popularmente conhecido como “Hospedaria do Inferno” ou “Hospedaria do Diabo”. Até 1953, a instalação tinha péssimas condições estruturais e sanitárias. Com o tempo, a população, que já não cabia em um único galpão, começou o processo de ocupação do bairro.
De acordo com o artigo “O bairro do Tapanã: da metropolização ao modo de vida de uma periferia da Amazônia”, do doutorando Raimundo Victor Santos, o bairro carrega marcas de um passado socialmente desigual, “onde ocupações irregulares e moradias precárias convivem lado a lado com condomínios de classe média alta”. Ele ainda é cortado pela Bacia do Mata-Fome e demarcado pelos bairros do Coqueiro, Parque Verde, Val-de-Cães e Tenoné. Mesmo com o atual desenvolvimento, uma parcela da população ainda convive com a falta de saneamento básico, acúmulo de lixo e alagamentos.
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