O censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente a 2022 divulgado em outubro, traz novos números que diferem da realidade verificada no censo de 2010 e que ajudam a entender a nova composição familiar dos lares brasileiros. O DIÁRIO destacou três levantamentos importantes – mulheres que chefiam famílias, casais do mesmo sexo e domicílios unipessoais (pessoas que moram sozinhas) - e foi buscar histórias que ilustrem essa nova realidade aqui no Estado.
O censo revelou que 355 mil domicílios (14,53%) paraenses são chefiados por mães solteiras, enquanto apenas 67 mil (2,7%) dos domicílios possuem homens na mesma condição. A diferença do último dado é de 11,83%, refletindo um cenário de desigualdade de gênero, onde as mulheres são frequentemente as únicas responsáveis pelo sustento e cuidados dos filhos.
Leia mais:
- Empreendedorismo e maternidade: veja histórias inspiradoras
- Atriz da globo não se identifica com o termo "pãe"
Maria de Nazaré Barbosa Barros, 47, é um exemplo clássico do que mostra o levantamento do IBGE. Ela não possui nível superior. Tem três filhas resultado de relacionamentos que não deram certo. Chega a trabalha até 10 horas por dia como diarista em 3 casas diferentes, de segunda a sábado, para garantir uma renda mensal de R$ 1,5 mil, pouco mais de um salário mínimo “Fui amigada por duas vezes e tive duas filhas com um companheiro e uma com outro. Os relacionamentos não deram certo por causa do ciúme possessivo deles... Hoje moro sozinha com as duas mais novas e pago todas as despesas da casa”, conta.
Ele recebe uma pequena ajuda em alimentação de um ex-companheiro e, de resto, arca com tudo. “É bem complicado ser mãe solteira. Uma delas tem apenas 13 anos e só estuda. A outra tem 23 e faz faculdade. Não quero que ela trabalhe e me ajude. Ela precisa apenas estudar e ser alguém na vida porque educação é tudo! Quando ela vencer na vida me ajuda...”, aposta. Além das despesas do dia-a-dia, a maior dificuldade de Nazaré hoje é pagar aluguel de R$ 650 todo mês, já que não possui casa própria. O valor leva quase metade do que ganha com seu trabalho.
Quer ler mais notícias do Pará? Acesse o nosso canal no WhatsApp!
PERFIL
O levantamento mostra que no Brasil existem 391 mil domicílios onde vivem casais do mesmo sexo, o que representa 0,54% do total. No Pará, esse número é de 10 mil unidades, o que corresponde a 0,43% dos lares, aumento expressivo em comparação a 2010, quando foram registradas apenas 1.782 unidades (0,02%).
Encaixa-se nesse perfil o casal formado pelo cenotécnico e estudante de arquitetura José Jairo Santos Benício, 46, e pelo gari Arley Carlos da Silva Vieira, 42 anos, que possui o Ensino Médio completo. Eles se conheceram em 2015 e decidiram morar juntos em 2018.
José e Arley - que não oficializaram a relação em cartório - dividem todas as tarefas e despesas da casa. A rotina do casal é regida pelo trabalho: Arley sai mais cedo, às 6h; e José ás 7h, mas antes é preciso cuidar das três cachorras: Kara, Musa e Katarina.
Às 17h Arley chega em casa e começa a preparar o jantar para todos da casa. “Geralmente ele me espera chegar da faculdade para jantarmos juntos, e depois falamos como foi o dia um do outro. Enquanto o cansaço não nos derruba, assistimos uma série”
José tem um filho de 19 anos e Arley tem vontade de adotar mais uma criança para o casal, mas são planos futuros. Ele diz que os dois tiveram muita sorte por nunca terem passado por nenhum tipo de preconceito. “Nunca escondemos nossa relação tanto na casa antiga do Guamá, quanto nessa onde moramos agora, no Tenoné. Deixamos claro para os donos das casas que éramos um casal e nunca houve problemas. Nem com vizinhos”, revela.
Cada vez mais morando sozinhos
A pesquisa mostra que os domicílios unipessoais aumentaram bastante em relação ao último Censo: em 2022, havia 331.119 pessoas vivendo sozinhas no Estado, o que representa 13,53% dos lares no Pará. Em 2010 eram apenas 154 mil domicílios unipessoais (8,3%). A maioria dos que vivem sozinhos são homens (203 mil). Já as mulheres são 127 mil.
É o caso da engenheira de produção e servidora pública Livia Almeida, 35, que sempre morou com seus pais e irmão até 2015. Em 2017 ela conheceu sua ex-esposa. Em 2019 passou a trabalhar no município de Tailândia, onde passava a semana. “Na sexta eu voltava para casa e passava o final de semana e fui testando a relação. Ainda em 2019 nos casamos no cartório e voltei a morar em Belém. Ficamos morando juntas até 2022, quando nos divorciamos”, relembra.
Lívia tinha a opção de morar com a mãe, mas optou por alugar um apartamento e morar sozinha para ter mais liberdade e evitar possíveis conflitos. “Morar sozinha liberta e me dá a opção de não ter que dar satisfação da minha vida a absolutamente ninguém. Organizo minha casa do jeito que eu quero sem ter a preocupação de ter que atender aos anseios e desejos de outra pessoa...”, argumenta.
No começo a servidora pública disse que se sentia muito só em casa, mas aprendeu a conviver consigo mesma, período em que passou a se conhecer muito mais. “Mas às vezes num domingo à noite quando estou assistindo à televisão, bate uma solidão... Com o tempo isso foi diminuindo, mas muitas vezes queremos ter uma pessoa ali, ao lado da gente, mas essa sensação não compensa o prazer da minha liberdade”.
Uma outra desvantagem é que muitas vezes precisa estender sua jornada na rua por quase todo o dia e tem que deixar seu cachorrinho “Drogo” sozinho no apartamento. “Muitas vezes tenho que ir ao supermercado, não tenho tempo e não tenho ninguém para me dar suporte...Para fugir disso desenvolvi algumas habilidades que me ajudam a superar isso. Não penso em voltar a viver com família, amigos e nem ter uma nova relação. Se arranjar outra pessoa de forma mais séria, será cada um no seu quadrado. Tenho minhas manias e costumes e não pretendo abrir mão da minha liberdade”, assegura.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar