Existem muitos trabalhadores que batem ponto no horário em que a maioria da população já está dormindo. Nem sempre é por gosto e, na verdade, geralmente é por necessidade. Ainda assim, é possível se acostumar e levar uma vida normal com o relógio invertido.
É esse o caso de Lourival Araújo, 55 anos, que trabalha como descarregador portuário no Terminal Rodoviário de Belém. A escala dele é 12h por 36h, ou seja, a cada dia trabalhado, ele tem um e meio de folga para compensar. “A gente trabalha das seis da tarde até umas três da manhã, depois a gente vai descansar um pouco e segue até por volta das cinco e meia, seis horas. À noite é melhor, eu descanso mais e não é quente. De dia é muito quente”, afirma.
O taxista Cássio Pantoja, 34, também concorda que o período noturno é bom para quem está na praça. “A partir das oito da noite é bandeira dois. A gente ganha um dinheirinho a mais”. Pantoja, que trabalha há oito anos como taxista, conta que desde o início sempre preferiu pegar no batente até de madrugada. “Nós fazemos corridas rápidas porque não tem muito trânsito. Deixamos os nossos clientes no local e voltamos para o nosso ponto de apoio. Essa é a flexibilidade que nós temos, por isso que se torna melhor. De dia não é assim, é quentura, é sol, é trânsito”.
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Porém, toda modificação de horários precisa ser feita com muito cuidado, afinal, o ser humano é uma espécie que costumeiramente tem hábitos diurnos. “Nós temos uma rotina, inclusive metabólica, endócrina, de alguns hormônios que, quando anoitece, induzem o sono. Infelizmente, várias profissões precisam fugir do que fomos biologicamente feitos para acontecer, que é dormir à noite”, explica a neurologista Stephani Martins.
A médica também diz que é fundamental manter o ciclo correto do sono mesmo de dia, evitando o consumo de cafeína ou energéticos e atividades paralelas que possam gerar a desconcentração do ato de dormir. “O corpo precisa descansar, o cérebro precisa de um tempo para poder organizar as coisas. É durante o sono que a gente fixa nossas memórias. Mesmo que seja durante o dia, deve-se produzir um ambiente escuro, calmo, tranquilo, para que a pessoa consiga ter um sono repositor, minimizando os danos dessa rotina noturna”, pontua Stephani, que orienta qualquer pessoa a dormir entre 7 e 8 horas por dia para se manter saudável.
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EFEITOS
Os efeitos da rotina puxada são sentidos pelo comerciante José Roberto Veloso, 59, dono de um bar no bairro da Cremação. “Eu trabalho só à noite, começo às cinco da tarde, vou até às três da manhã. A vida inteira trabalhando assim, mais de 40 anos”. Como consequência de trocar o dia pela noite, Veloso suspeita ter adquirido hipertensão.
“Eu não tinha medo de pressão alta, eu tive medo de uns anos para cá. Fui num médico e ele constatou. E o médico falou que é devido ao meu trabalho noturno, porque ele afeta o sono”. O comerciante conta que, mesmo sendo autônomo, paga a previdência social e não vê a hora de se aposentar e curtir a vida. “Hoje em dia não tem como viajar. Se você passar uma semana viajando, quando você voltar, a dívida vai estar lá em cima. Se eu pudesse, eu já estaria me aposentando hoje”.
O vendedor de churrasco Wellington Abreu, 49, afirma sentir prazer no trabalho que faz, porém a rotina dele não envolve apenas a hora de vender. “É o horário que deu para mim. É cansativo porque a gente trabalha à noite aqui e o dia todo também. A gente está preparando em casa as coisas para trazer aqui. É prazeroso, mas é cansativo”. Abreu dorme entre três e quatro horas por dia para poder dar conta de comprar os produtos necessários e fazer os alimentos. “A gente sai daqui meia-noite, chega em casa e até arrumar tudo, vai dormir às duas, duas e meia, três horas. Seis, seis e meia, sete horas, já tem que estar de pé. É uma rotina puxada”, comenta o vendedor.
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