No calendário chinês, o ano de 2025 começou no último dia 29 de janeiro. Esse ano, de acordo com o zodíaco chinês, representa o “Ano da Serpente” Segundo a cultura desse país, isso significa um ano de sabedoria e transformação, características também atribuídas a esses animais.
Atualmente são conhecidas 435 espécies de serpentes no Brasil. A professora e pesquisadora Annelise D’Angiolella, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), que desenvolve trabalhos relacionados á herpetologia (estudo de répteis e anfíbios), destaca que a região Norte está entre as mais ricas em espécies de répteis, onde trabalhos recentes catalogaram 247 espécies de serpentes. “Na Amazônia temos muitas espécies endêmicas de vertebrados e invertebrados. No caso das serpentes podemos destacar a Bothrops atrox, a jararaca da Amazônia”, diz.
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A professora destaca que esses animais acabam sendo mais conhecidos por serem peçonhentos e por poderem causar envenenamento. O que algumas pessoas não sabem é que além de terem um valioso papel na natureza, como controladoras de pragas, elas são importantes também para a saúde humana.
"O veneno da jararaca brasileira - Bothrops jararaca, é usado no mundo inteiro no tratamento de hipertensão e insuficiência cardíaca. Muitos anticoagulantes, usados no tratamento da trombose e coágulos sanguíneos são extraídos ou tem como base o veneno das serpentes. Um dos remédios mais usados em todo o mundo, é o captopril, usado para controle da pressão arterial e produzido a partir do veneno da jararaca", diz Annelise D’Angiolella.
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Outro exemplo de espécie endêmica na Amazônia, ou seja, que só existe na região, é a sucuri-malhada (Eunectes deschauenseei), que segundo a pesquisadora só ocorre no leste do estado do Pará (incluindo a ilha do Marajó) e na Guiana Francesa. Ela explica que o endemismo das espécies pode ser influenciado por diversos fatores, entre eles as condições ambientais, ecologia da espécie, fatores geográficos, história evolutiva e também pressões antrópicas. “A floresta Amazônica tem um alto grau de endemismo devido a sua complexidade ambiental, diversidade de micro-habitats e barreiras geográficas, como rios de grande porte. Espécies podem ser endêmicas de regiões específicas devido ao isolamento proporcionado por grandes rios, como Madeira, por exemplo”.
Processo de mudança de pele
A mudança de pele, chamada de “ecdise”, é um processo que ocorre ao longo de toda a vida da serpente. “Esse processo é essencial para para o crescimento e renovação da pele. A muda ocorre mais frequentemente em indivíduos juvenis, que estão em fase de crescimento. Geralmente se inicia alguns dias após a digestão completa do alimento”, diz a professora da Ufra
Veneno
Annelise Batista destaca que as serpentes são peçonhentas, e não venenosas, como muitos dizem. Isso se deve ao fato de possuírem glândula de veneno e apresentarem aparato inoculador desse veneno, o que, no caso delas, são os dentes modificados em presas. “Considerando toda a diversidade de espécies de serpentes do mundo, apenas cerca de 10% destas espécies são de importância médica, ou seja, capazes de causar acidentes graves que podem evoluir ao óbito em humanos. A maior parte das espécies peçonhentas não oferece perigo ao homem”, afirma a pesquisadora.
Entre as serpentes peçonhentas, as jararacas, cascaveis, surucucu-pico-de-jaca e corais verdadeiros são capazes de causar acidentes graves em humanos. A picada de uma cobra coral, por exemplo, pode chegar a matar um homem adulto em seis horas.
“Todas as corais verdadeiras tem veneno neurotóxico, ou seja, as toxinas agem diretamente no sistema nervoso. A maioria dos acidentes pode evoluir rapidamente para insuficiência respiratória aguda, principal causa de óbito neste tipo de acidente. Apesar disso, acidentes com essas serpentes não são frequentes, somente cerca de 0,5% dos acidentes ofídicos no Brasil são causados por corais. Isso porque são animais que se enterram (chamados de fossoriais) ou vivem no ambiente aquático, fazendo com que o encontro com eles seja mais difícil", afirma.
Segundo a pesquisadora, as jararacas costumam ser as responsáveis por cerca de 90% dos acidentes ofídicos no país. Acidentes com esses animais acometem principalmente homens, em zonas rurais, que tem seus membros inferiores, que são as pernas e pés, mais atingidos. "Apesar da elevada quantidade de acidentes envolvendo essas serpentes, a grande maioria evolui para cura, sem grandes complicações, se as recomendações do ministério da Saúde forem seguidas", adverte.
Alerta para os cuidados
Ao avistar uma serpente, a recomendação melhor é tentar manter a distância e pedir ajuda a profissionais capacitados no manejo. E não machucar o animal.
“A recomendação que eu costumo dar é que, na dúvida, não mexa. Existem órgãos devidamente capacitados para fazer o resgate de animais silvestres como o Corpo de Bombeiros e o Batalhão de Polícia Ambiental, que devem ser acionados caso esses animais sejam encontrados. É importante que o manejo de serpentes seja feito por pessoas treinadas para evitar o estresse do animal e principalmente, evitar que ocorra algum acidente em decorrência do manuseio errado do animal”, diz Annelise D'Angiolella.
Uma vez que a pessoa é picada por uma cobra, ela deve imediatamente procurar um posto de saúde. O tratamento é feito com o soro antiofídico específico para cada caso, que deve ser administrados em ambiente hospitalar e sob supervisão médica. O site do Ministério da Saúde disponibiliza uma lista de hospitais, por região e município, de locais aptos ao atendimento com serpentes.
E por que o recomendado é nunca realizar torniquete ou amarrar o local em que foi picado? A professora Annelise D'Angiolella explica. “O veneno das jararacas e surucucus tem propriedades proteolíticas e hemorrágicas, que levam ao sangramento e destruição dos tecidos, e ajudam na digestão de suas presas. Ao amarrarmos o local para evitar que o veneno circule, estamos concentrando-o no membro atingido, fazendo com que essas ações sejam potencializadas, provocando a necrose e muitas vezes, a amputação do membro em casos mais graves”, diz.
Segundo dados do último Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, em 2023 foram registrados 32.595 acidentes com serpentes no Brasil. Os dados fazem parte do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sisan). No boletim, o estado do Pará aparece como o que mais notificou acidentes com serpentes: 5.234 casos, com 17 óbitos.
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