plus
plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Edição do Dia
Previsão do Tempo 28°
cotação atual R$


home
ENTREVISTA

Secretário de Educação de Belém fala sobre nova gestão

O novo secretário de Educação de Belém fala sobre as prioridades da nova gestão, como a formação de professores e a avaliação educacional dos alunos, além da estrutura de trabalho, que nortearão projetos e investimentos. Confira!

twitter Google News
Imagem ilustrativa da notícia Secretário de Educação de Belém fala sobre nova gestão camera Patrick Tranjan, 32 foi anunciado como novo integrante da gestão municpal e atua como novo Secretário Muncipal de Educação de Belém. | Octávio Cardoso

Anunciado como novo integrante da gestão municipal pelo prefeito de Belém Igor Normando no dia 27 de novembro do ano passado, o Secretário Municipal de Educação Patrick Tranjan, 32, tem diferentes experiências no currículo, em especial na área da educação. Paulista, o secretário é formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), com pós-graduações pelo Insper e pelo Centro de Liderança Pública (CLP) nas áreas de liderança e gestão pública.

Patrick Tranjan atuou na Secretaria de Educação do Espírito Santo, foi coordenador do Programa de Ensino em Tempo Integral do Ministério da Educação e Secretário Executivo de Educação do Estado de São Paulo. No Pará, exerceu a função de Secretário Adjunto de Educação Básica e Secretário Adjunto de Planejamento e Finanças, na Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc).

Em entrevista concedida ao DIÁRIO, o secretário conversou sobre temas fundamentais para a educação municipal, como formação continuada de professores, educação inclusiva e uso da tecnologia na educação básica. Também falou dos desafios da pasta nos próximos anos, como a melhoria da infraestrutura das escolas e as metas das políticas educacionais dos próximos anos, assim como fez críticas à gestão municipal anterior por descaso com a educação. Confira os destaques da entrevista a seguir.

Como o senhor avalia a qualidade da educação nas escolas municipais de Belém atualmente?

A gente tem uma dificuldade. Estamos falando de uma rede de 204 escolas, cerca de 60 mil a 65 mil alunos na rede, entre educação infantil e ensino fundamental. Na educação infantil são bebês e crianças de 0 a 6 anos. Nesta etapa não existe avaliação, não existe uma prova para aferir conhecimento. Então, a avaliação se dá pelas condições basicamente de infraestrutura do espaço, disponibilidade de equipamentos para os professores trabalharem e demais itens que apoiam na alfabetização, como brinquedos. A gente pode medir algumas outras coisas nessas crianças e bebês que conseguem nos dar uma pista se o desenvolvimento deles é adequado para a idade, como reação a alguns estímulos e o desenvolvimento linguístico. A Semec não fez esse processo. Então eu não consigo aferir a qualidade do que foi desenvolvido do ponto de vista qualitativo nessa etapa. Belém é a terceira pior capital do Brasil do ponto de vista de aprendizagem de português e matemática no quinto ano. Não sou eu que estou falando, é o governo federal que aplica essa avaliação. Vamos ter praticamente metade das crianças em níveis inadequados de alfabetização. Ou seja, existe um problema pedagógico, de diretriz pedagógica, muito sério aqui na rede. Esse problema, a meu ver, está relacionado à falta de monitoramento constante da aprendizagem. Monitorar ao longo do tempo exige gestão. Você precisa ter os instrumentos de avaliação apropriados dentro de uma escala, e quando eu digo escala é aplicar as questões de provas para diversos alunos para entender se o grau de dificuldade está adequado ou não, o que gera uma escala. Isso só é possível fazer com gestão, que não pode sobrepor ao pedagógico. Só que o pedagógico para acontecer precisa ter indicador que vai produzir a gestão.

Quais os desafios enfrentados pelas escolas municipais de Belém?

No monitoramento da aprendizagem, existe um primeiro desafio o qual crianças com idades de 0 a 3 anos não é obrigatória a matrícula; já 4 e 5 anos, a matrícula é exigida. As famílias não podem optar por não colocar os filhos nas escolas, se a Constituição Federal exige que a matrícula seja feita. O ponto é que a prefeitura não oferece a matrícula, não existe vaga para todo mundo. Esse é um primeiro ponto que quando a gente discute, a prefeitura não tinha avançado nessas etapas, já que ela não cumpriu nem o básico que é atender os alunos na pré-escola com creches. O primeiro desafio que a Semec tem para o ano de 2025 é garantir que todas as crianças de 4 a 5 anos tenham atendimento dentro da rede. Atualmente, a Secretaria trabalha basicamente com três formatos: ou o prédio da escola é alugado, ou é próprio, ou o prédio é de uma entidade que recebe per capita um valor por aluno matriculado. A Semec precisa começar a pensar em outros jeitos de atender esses alunos, inclusive utilizando a estrutura que o estado tem. A gente tem que começar a entender que o desafio é trabalhar a rede pública. Já começamos uma conversa com o governo do estado no sentido de utilizar parte da estrutura para atender os alunos que estão sem vaga hoje na rede municipal. Um segundo desafio é que precisa ter critério na educação infantil. Precisamos ter um indicador de trabalho desenvolvido, porque senão o professor fica perdido e não sabe qual o resultado do trabalho dele. Se não sabemos o que estamos gerando, não conseguimos corrigir falhas.

O senhor falou em prédios escolares. Como você avalia a infraestrutura das escolas municipais de Belém?

Do ponto de vista da infraestrutura, eu já visitei diversas unidades e é ruim em muitas escolas. Elas carecem não só da estrutura física do prédio adequada, como também do conjunto de equipamentos que permitam o desenvolvimento do trabalho pelos professores, porque não dá para querer cobrar que a rede tenha um desempenho bom se não há o suporte necessário do órgão central, falando da educação infantil. E não é só a infraestrutura, principalmente falando de educação infantil. A realidade hoje é que temos uma rede e um número considerável de escolas que passou por reforma nos últimos anos, e isso é positivo. É importante a gente fazer isso. Só que de nada adianta ter infraestrutura se não existirem equipamentos para os professores e que eles saibam como utilizá-los. Quando eu digo equipamentos, eu vou desde o equipamento tecnológico até brinquedos que vão ser utilizados na educação infantil para começar um processo de letramento matemático. Então, é importante dar mais autonomia para as escolas para que elas tenham um processo de aquisição de equipamentos de acordo com a realidade deles. Não adianta comprar o mesmo equipamento para a escola no bairro do Marco e também para a escola em Cotijuba. A realidade do professor é diferente, a cultura do local é distinta, os alunos aprendem de jeitos variados. O segundo vem sobre a discussão de formação continuada dos professores. É preciso garantir isso, porque independentemente do material que o professor vai usar, tem coisas que são padronizadas para toda a rede.

Quer mais notícias sobre Pará? Acesse nosso canal no WhatsApp

Como a Semec tem analisado essa formação?

Quando não se faz monitoramento de aprendizagem, é sempre um sinal de que há um problema instalado. Quando você não tem monitoramento, a política de formação continuada é uma discussão sem fim. A questão é que precisa ter avaliação, o que não necessariamente precisa ser por meio de provas, mas precisa ter algum jeito de avaliar o aprendizado dos estudantes, porque se um aluno não consegue aprender as quatro operações básicas da matemática, talvez o professor não esteja conseguindo ensinar. Eu preciso apoiar e dar suporte para esse professor. É frustrante quando você está dando o seu melhor na sala de aula e o resultado não vem. E muitas vezes não vem porque você não tem um conjunto de informações que precisa para poder mudar sua prática. A formação continuada é para ajudar o professor a resolver o problema dele dentro da sala de aula. Então, a formação agora na Secretaria passa a ter um teor mais prático para ajudar o professor com os desafios que ele tem diariamente dentro da sala de aula.

Quais projetos o senhor considera prioritários para a educação de Belém em 2025?

O primeiro ponto são os serviços suplementares. Eles não são o foco da escola, mas são fundamentais: alimentação e transporte escolar. A alimentação escolar foi uma crise na última gestão, a qual diversas escolas ficaram sem merenda nos últimos seis meses. Isso não pode acontecer porque atrapalha o desenvolvimento da criança, principalmente aquela de 0 a 6 anos, como também afasta as crianças da escola, porque muitas vão na expectativa de ter uma alimentação. Quando não tem, elas ficam em casa. Então, esses dois serviços (alimentação e transporte escolar) a gente já tem trabalhado fortemente. Esse ano de 2025, o cardápio na rede atual já é diferente do cardápio que funcionava na rede do ano passado, pois tivemos uma melhoria. Mas não podemos esquecer que o objetivo da escola é garantir a aprendizagem. Não me adianta ter a melhor merenda, transporte e as crianças saírem da escola sem saber ler e escrever. Aí são crianças com 12 anos, 13 anos que não foram alfabetizadas, que é uma realidade na rede. Precisamos entender qual é o conjunto de políticas pedagógicas para garantirmos o direito ao aprendizado na idade correta. É fechar a torneira do problema e garantir que a rede tenha ferramentas para fazer um processo de monitoramento constante da alfabetização. Paralelamente a isso, a gente tem um problema de gerações que estão hoje na escola e que não aprenderam o básico. A quantidade de crianças assim é enorme na rede municipal. Este não é um problema específico de Belém, isso é uma realidade a nível de Brasil, mas aqui a gente tem um problema grande porque a alfabetização não se dá no nível correto e esse problema se estende por muito tempo. Então, fechar a torneira dos problemas é garantir um processo que vamos chamar de recomposição da aprendizagem.

Como a Semec está lidando com a implementação de tecnologias no processo educacional?

Tecnologia você tem duas frentes: equipamento e quem usa o equipamento. Vou citar um caso concreto. Salas de informática. A portaria de lotação pega um professor e coloca ele dentro de uma turma que foi formada. Isso é um processo de lotação que gera carga horária. A Secretaria vinha trabalhando com o que chamava de salas de informática, projeto de informática. A portaria falava que deveria haver um curso para quem é lotado na sala de informática. Você acha que o curso foi realizado? Nunca foi realizado. As pessoas estavam lotadas na sala de informática sem o treinamento para trabalhar. Além disso, diversas escolas nem computadores possuem ou têm equipamentos velhos ou sucateados que pouco contribuem para o processo pedagógico. Sem contar que a área pedagógica da Secretaria não tinha nenhuma relação com o projeto de informática que as escolas faziam. Ou seja, não tem diretriz. Não é porque elas não queriam, não é porque as pessoas não tinham vontade de fazer um bom projeto de informática na escola, mas é porque a Secretaria não dava o suporte. Se a tecnologia não estiver a favor da aprendizagem e regulada por um adulto, as crianças passam o dia no TikTok, Instagram e Facebook. Não estou falando que esse tipo de acesso não é importante, mas não dentro da sala de aula. Um outro tema importante de discutir enquanto rede é o conceito de sala de informática, que já é ultrapassado também. O ideal é que qualquer sala possa ser uma sala de informática. A gente precisa ter equipamento dentro da sala para que qualquer professor possa usar. Você acha que todas as 204 escolas da rede tem o mesmo nível de maturidade de tecnologia? Existem escolas que estão lá em cima e há outras que estão engatinhando.

Como o engajamento de pais, mães e responsáveis contribuem para a comunidade escolar?

Escolas que têm envolvimento da família têm melhores resultados. E aí uma coisa que precisa ficar muito claro é que a escola não é um depósito de criança, e sim um espaço de aprendizado, assim como é a casa desses estudantes. A família precisa dar o suporte para a escola e se envolver de verdade no processo educativo dentro da comunidade escolar. Entender o que está sendo ensinado para os seus filhos, se envolver no processo, entender como consegue ajudar o professor, o diretor, o coordenador pedagógico dentro das escolas. Enquanto poder público temos que entender que muitas famílias não têm esse tempo. Inclusive, tem crianças que não têm esse suporte de pai ou mãe para poder ajudá-las na escola. E a gente precisa dar suporte para as crianças. É preciso entender como pegar as boas práticas que existem para trazer para o conjunto da rede. O envolvimento da família não pode ser só para cobrar a escola, tem que ser para ajudar a escola também. E isso acontece na escola particular, e tem que ocorrer na escola pública.

Como a Semec vai trabalhar para melhorar o IDEB das escolas municipais?

R Vamos ter a unidade de ensino médio da Escola Bosque. Agora a gente tem uma rede maior quando olhamos para o quinto ano e para o ensino fundamental nos anos iniciais e anos finais. É reforçar a aprendizagem em português e matemática, fazer monitoramento em intervalos curtos de tempo, realizar formação continuada e os professores vão ter os equipamentos para trabalhar nas escolas. Isso é fundamental. Quando a gente fala de uma prova para um aluno, o que importa não é o que está escrito na questão, o que importa é qual a habilidade que foi trabalhada naquela questão. Não adianta fazer avaliação dos estudantes se as escolas não tiverem feedback. Isso foi uma reclamação generalizada dos diretores de escola quando eu estive com eles aqui. Muitas ações foram realizadas e eles não recebiam um retorno do que era feito. Outro problema é a alfabetização. Então aqui eu estou falando de IDEB, porque o IDEB não vai medir a alfabetização. É proficiência em língua portuguesa e matemática. Mas existe um outro processo que é fundamental na alfabetização. Se a gente não corrige esse processo na essência, a gente vai carregando ao longo dos anos uma criança, que por não estar alfabetizada, não consegue aprender mais nada. Então, é focar na educação infantil, alfabetização e proficiência em língua portuguesa e matemática.

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

tags

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

    Mais em Notícias Pará

    Leia mais notícias de Notícias Pará. Clique aqui!

    Últimas Notícias