
Os preços dos medicamentos em todo o país vão ser reajustados em até 5,06% a partir da próxima terça-feira (1º). Esse percentual funciona como um teto para as farmacêuticas e foi aprovado pela Câmara de Regulação de Medicamentos (CMed). Ele corresponde à inflação medida pelo IPCA em 12 meses encerrados em fevereiro.
A resolução com a autorização do reajuste ainda precisa ser publicada no Diário Oficial da União. Está faltando apenas a assinatura do conselho de ministros. A informação é da Agência O Globo.
De acordo com o presidente executivo da Associação Brasileira de Comércio Farmacêutico (Abcfarma), Rafael Oliveira Espinhel, o reajuste ocorre como efeito para corrigir e possibilitar a adequação das despesas operacionais à inflação do período, tanto para o setor da indústria como do varejo farmacêutico. Este ano, o percentual de reajuste previsto é inferior comparado aos últimos sete anos e abaixo do valor da inflação. Os medicamentos prescritos, tarjados e de uso contínuo, independente da natureza, seja de referência, genérico ou similares, serão os maiores impactados pelo reajuste. Já os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), que podem ser comprados sem receita médica, não sofrerão reajuste por não ter o seu preço controlado pelo órgão público.
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“Tem algumas classes de medicamentos que não sofrerão reajuste. São os Medicamentos Isentos de Prescrição, que não têm o preço controlado pelo órgão público, são liberados no controle de preços. Os demais medicamentos, por prescrição, tarjados, incidem os reajustes sobre eles, independente da sua natureza, seja medicamento de marca, de referência, genéricos ou similares. Nesse caso, os medicamentos de doenças crônicas, diabetes, hipertensão, asma, terão impactos em relação ao reajuste. Tem também o Ozempic, que hoje é um medicamento com maior nível de vendas no país”, esclareceu o presidente executivo da Abcfarma.
Segundo Luiz Carlos Silva, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon PA/AP), o aumento no preço dos remédios afeta, principalmente, pessoas de baixa renda, que recebem até um salário mínimo, além de idosos e aposentados que, geralmente, são o público que mais consome os medicamentos controlados para fins de pressão alta, diabetes e outras condições de saúde.
“Qualquer aumento é prejudicial, principalmente quando atinge pessoas que mais precisam, que geralmente são idosos e aposentados. Se essa previsão se confirmar, o aumento fica bem abaixo do índice de reajuste do salário mínimo, isso pode ser visto com uma vantagem. Mas o impacto desse reajuste em pessoas que têm menor poder aquisitivo sempre será maior. Se receber um salário mínimo, esse impacto é mais significativo porque essa pessoa já tem que lidar com o reajuste dos alimentos, do transporte, coisas essenciais e que, normalmente, sofrem reajuste a cada ano”, explica o economista.
Conforme os dois especialistas, a recomendação é que o consumidor faça uma pesquisa de mercado para encontrar um preço mais compatível ao orçamento. “É recomendável que os consumidores façam pesquisa de mercado, questione as farmácias sobre programas de benefícios para poder viabilizar um desconto sobre esses medicamentos. Em alguns casos, há a possibilidade de verificar se aquele medicamento está disponível em programa público de saúde, como o Farmácia Popular”, orientou Espinhel.
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PARA ENTENDER
- O índice oficial estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) será publicado no dia 31 de março. A partir dessa data, os laboratórios começam a fazer adequações nos preços dos medicamentos, sendo que as farmácias podem levar algum tempo para aplicar o percentual de reajuste, dependendo, por exemplo, das políticas internas e da quantidade dos medicamentos em estoque.
- Dentro dessa dinâmica de mercado, toda farmácia deve respeitar um teto máximo de valor de cada medicamento. É recomendável que o consumidor se informe sobre o preço dos medicamentos através de revistas especializadas, como o Guia da Farmácia.
Aposentados falam do impacto do reajuste dos medicamentos no já apertado orçamento
Os remédios de uso contínuo fazem parte da rotina de Maria das Graças. Aos 72 anos, ela precisa de medicamentos para o controle da hipertensão e para o glaucoma, além de um diurético e remédios para artrose e osteoporose, todos de uso contínuo. Com um salário mínimo, ela afirma que a renda é insuficiente para comprar todos os remédios e, por isso, recebe alguns deles de graça através de políticas públicas. Porém, quando o medicamento está em falta, o orçamento não acompanha a necessidade, já que o gasto é bastante alto. “O meu dinheiro mesmo não dá para manter e se eu for comprar todos, eu já gasto com alimentação porque tem que ser toda certinha, não como qualquer coisa. Eu ainda tenho outras prioridades, como a funerária, que é a primeira coisa que eu pago. Esse aumento vai sair pesado quando eu precisar comprar, só o colírio já sai caríssimo pra mim, é cem reais. Eu compro também cálcio para os ossos, vitaminas e eu tenho que tomar remédio para artrose e osteoporose, só um deles custava mais de duzentos reais”, disse a aposentada.
Pressão alta, arritmia cardíaca, diabetes, asma são algumas das condições de saúde controladas por Hélia Melo, 69, através dos medicamentos. De uso contínuo, pelo menos sete remédios são comprados pela aposentada, sendo apenas três deles gratuitos. De acordo com ela, que ganha apenas um salário mínimo, atualmente o comprometimento da renda tem sido de mais de R$500 mensais. Com o reajuste e a necessidade de consumo dos remédios, ela prevê um desfalque financeiro ainda maior.
“Tomo remédio para pressão que é R$185, bombinha para asma que é R$130, remédio para colesterol, para o estômago, para urina, para o coração, tudo é pago e isso sai muito caro para mim. Eu gasto total dá uns R$580, com esse aumento vai impactar ainda mais a minha renda, não sei nem como vai ficar a minha condição”, refletiu a aposentada.
O reajuste também deve impactar o orçamento de Ricardo Cabral, de 62 anos. Frequentemente, o servidor público aposentado compra remédios para a esposa, que precisa tomar remédios para controle do colesterol. “Sai pesado, mas infelizmente vai ter o aumento e a gente tem que aceitar. Eu quase não tomo remédio controlado, mas a minha esposa toma para o colesterol. Isso vai impactar na minha renda, sim, qualquer aumento a gente já sente no bolso”, afirmou.
Desafio
Segundo Rafael Oliveira Espinhel, presidente executivo da Abcfarma, os impactos do reajuste atingem tanto para a indústria quanto para as farmácias. Isso porque com reajuste previsto abaixo da inflação, a indústria farmacêutica enfrenta um desafio entre conseguir equilibrar os custos operacionais e dar continuidade a gestão de um negócio rentável. No Pará, por exemplo, quase 75% das farmácias são de pequeno porte, tornando ainda mais desafiador essa relação.
“Primeiro, as farmácias têm que adequar os seus preços, possivelmente vai ter afetação em relação às margens do produto, podendo impactar nas políticas de desconto. As farmácias, sabendo do reajuste, é preciso que façam uma análise na gestão do estoque e adequação do seu sistema de preços. O ponto fundamental é que na perspectiva deste ano o reajuste seja abaixo da inflação. Isso traz um efeito desafiador para as farmácias, principalmente as de pequeno porte. Quando tem um índice menor que a inflação vai ter que adequar os custos operacionais para efeito de você conseguir equilibrar as contas e dar continuidade a gestão do negócio”, revelou.
De acordo com o porta-voz, a indústria também carregará impactos significativos. “Para a indústria, quando você tem o reajuste abaixo da inflação, são impactos nas necessidades de readequação de parque fabril e nos valores que são gerados para pesquisa e desenvolvimento, reflexos em relação às dinâmicas de mercado”, disse.
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