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DRAMA SEM FIM

Pronto Socorro fantasma agrava crise da saúde em Ananindeua

Imagens de corredores e salas vazias mostram o descaso da Prefeitura com a população que, sem conseguir atendimento, precisa até ir em outras cidades para conseguir consultas

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Imagem ilustrativa da notícia Pronto Socorro fantasma agrava crise da saúde em Ananindeua camera Inaugurado recentemente, Pronto Socorro não atende a quem precisa | FOTO: divulgação

As imagens são chocantes: dezenas de leitos hospitalares vazios. Corredores sem viva alma: nem médicos, nem enfermeiros, pacientes ou faxineiros. Do lado de fora, nenhuma ambulância trazendo pacientes. Enquanto isso, milhares de doentes sofrem para conseguir tratamento médico, nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Ou têm de aguardar em casa por uma cirurgia, durante meses a fio, apesar das dores que sentem.

Por incrível que pareça, é essa a situação dramática da segunda cidade mais populosa do Pará: Ananindeua, na Região Metropolitana, com quase 500 mil habitantes. Uma cidade administrada por um médico, o prefeito Daniel Santos, que recebeu do Sistema Único de Saúde (SUS) quase 1 bilhão de reais, nos últimos 4 anos, segundo o InvestSUS, o serviço online que permite consultar os repasses do SUS aos estados e municípios.

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“Meu pai, com uma hérnia umbilical, tenta há mais de 6 meses uma cirurgia, em Ananindeua, e não fomos atendidos”, disse Lorena Santana. “Tenho um conhecido que foi na UPA, precisava de cirurgia urgente de vesícula. Mandaram-no para casa, para esperar chamada para cirurgia. Isso tem mais de 60 dias. Ele teve que ir para o Pronto Socorro da Augusto Montenegro (em Belém)”, contou Maria Rosinete. As duas mulheres, Lorena e Maria, estão entre os moradores de Ananindeua que vêm relatando a sua aflição no Instagram, através de comentários em uma postagem do vereador Flávio Nobre (MDB).

Na última quarta-feira, 26, Flávio esteve no Pronto Socorro Municipal de Ananindeua, inaugurado em julho do ano passado. Lá, ele realizou as imagens chocantes, mencionadas na abertura desta reportagem: leitos e corredores vazios, “praticamente um hospital fantasma”, como definiu.

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O pronto socorro possui 75 leitos, 10 deles de UTI. Mas, na última quarta-feira, só havia 4 pacientes internados naquele local, disse Flávio. “Estou abismado com a falta de respeito ao dinheiro público. Porque são mais de R$ 20 milhões investidos somente na aquisição e reforma desse prédio, fora os equipamentos”, protestou o vereador.

Filmagem

A filmagem confirmou o que muitos já suspeitavam: apesar do prefeito jurar que o pronto socorro está em pleno funcionamento, aquele hospital quase não atende ninguém. Segundo informações obtidas nos sistemas do Ministério da Saúde, o pronto socorro realizou apenas 79 internações mensais, de julho de 2024 para cá. O que dá menos de 3 internações por dia e menos de mil por ano. Um nada diante da expectativa de 2.250 internações mensais, anunciada pela própria Prefeitura, às vésperas das eleições do ano passado.

Mas há outra informação que confirma que aquele hospital é quase um vazio. E que a Prefeitura sabia que seria assim, mesmo quando anunciou essa grande capacidade de internações. No orçamento de 2025, o prefeito destinou àquele pronto socorro menos de R$ 3,5 milhões, para o ano inteiro. Desse total, R$ 1,543 milhões são para investimentos. Os outros R$ 1,948 milhões são para o “custeio”, ou seja, as despesas cotidianas para o funcionamento do hospital. Isso dá pouco mais de R$ 162 mil por mês, um nada. Basta comparar com o Anita Gerosa, que era um hospital sem fins lucrativos e recebia cerca de R$ 700 mil mensais do SUS, para os 1.000 pacientes que atendia e os 200 partos que realizava por mês.

Confira:

“Minha mãe teve um princípio de derrame. O médico da policlínica de Águas Lindas disse pra ela ir para o PSM da 14 (o Pronto Socorro Mário Pinotti, em Belém). Questionei ele sobre o pronto socorro de Ananindeua, ele disse que não tinha o que ela precisava. Então, fomos para o PSM da 14”, contou Cássia Monteiro, no Instagram do vereador Flávio Nobre.

“Eu tive um problema sério de saúde, mas fui mandada para o Pronto Socorro da 14. Quando a minha filha questionou o porquê de não ir para o Pronto Socorro de Ananindeua, o médico falou que iríamos só perder tempo, e dinheiro com condução”, disse Maria Monteiro. “Eu tô esperando para fazer uma cirurgia no pronto socorro e tá demorando muito e eu tô passando mal. Tô com uma hérnia umbilical e dói demais”, disse Josiely Brasil.

SOFRIMENTO

Esse sofrimento atinge até mesmo gestantes, pondo em risco a saúde e a vida de mamães e bebês. No último 26 de janeiro, o Anita Gerosa, única maternidade 24 horas e que atendia gravidez de alto risco em Ananindeua, teve de fechar as portas, devido a um calote de R$ 3,7 milhões da Prefeitura. Mas, nas redes sociais, o prefeito garantiu que o atendimento a essas mulheres não seria prejudicado. Segundo ele, todas passariam a ser atendidas pelo pronto socorro.

Até um vídeo a Prefeitura chegou a divulgar, mostrando um suposto primeiro parto, dos muitos que viriam, no Pronto Socorro. Mas o vereador Flávio Nobre garante que não viu nenhuma grávida sendo atendida lá, na última quarta-feira. Em vistoria realizada no pronto socorro, no último 14 de fevereiro, o Ministério Público do Pará (MPPA) também não viu “uma única mulher sendo atendida”. E nos sistemas do Ministério da Saúde, a informação é que nenhum parto foi realizado naquele hospital, até o último dia 27.

Na verdade, segundo o MPPA, as gestantes que eram atendidas pelo Anita Gerosa estariam sendo encaminhadas, pela Prefeitura, para o Hospital Santa Maria, que foi do prefeito Daniel Santos até março de 2022. Outros pacientes resolvem procurar atendimento em municípios próximos, para fugir do caos que tomou conta da saúde daquela cidade. Só no último mês de janeiro, as unidades de saúde da capital registraram 32.453 atendimentos hospitalares e ambulatoriais para moradores de Ananindeua, informa a Prefeitura de Belém. E entre janeiro e o último 27 de março, foram 4.632 atendimentos de urgência e emergência, principalmente no Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti (1.264) e na UPA da Marambaia (1.801), a mais próxima daquela cidade.

Nas unidades de saúde administradas pelo Governo do Estado, a procura também é grande. Só neste mês de março, até o último dia 27, informa a Sespa, a secretaria estadual de Saúde, foram 2.699 atendimentos a moradores de Ananindeua, incluindo mais de 800 internações. As maiores procuras foram no Pronto Socorro do Benguí, que atendeu 843 ananindeuenses, incluindo internações, e no Hospital Regional Abelardo Santos (HRAS), com 1.278 atendimentos, incluindo internações. Na Santa Casa, havia 182 pacientes internados: grávidas e bebês que poderiam estar sendo atendidos no Anita Gerosa, se não tivesse fechado. Ou no Pronto Socorro de Ananindeua, se ele estivesse atendendo essas grávidas, como o prefeito prometeu.

UPAs lotadas

O Anita Gerosa não foi o único hospital a fechar as portas na administração do prefeito Daniel Santos. Em 2021, ele desapropriou o hospital Camilo Salgado, para a construção do pronto socorro. E os atrasos nos pagamentos mensais pela desapropriação, junto com um calote superior a R$ 4 milhões, impediram que o hospital reabrisse em outro local, afirmam os antigos donos. No ano passado, atrasos de pagamento quase levam à falência o Hospital das Clínicas de Ananindeua (HCA), que chegou a anunciar que encerraria o atendimento aos pacientes do SUS. O que só não ocorreu porque o Governo do Estado firmou contrato com o HCA, para a continuidade do atendimento. Os atrasos de pagamento também atingem o Centro de Hemodiálise Ari Gonçalves (CEHMO): a dívida da Prefeitura, que vem desde 2023, teria chegado a R$ 3,606 milhões, no começo deste ano. Além disso, dezenas de pacientes do CEHMO foram transferidos, no ano passado, para o Hospital Santa Maria, segundo depoimento da proprietária ao MPPA.

O resultado dessa mistura explosiva entre calotes, fechamento ou ameaça de fechamento de clínicas e hospitais, desorganização, concentração do atendimento no hospital que foi ou é do prefeito e pronto socorro “fantasma”, não poderia ser outro. No último dia 26, a vereadora Pâmela Wayne (MDB) recebeu uma denúncia e esteve na UPA 24 Horas do Icuí. Lá, encontrou grande quantidade de pacientes que aguardavam há mais de duas horas por atendimento, sem que tivesse sido realizada nem sequer uma triagem. Até a sala de radiologia estava fechada. E havia apenas um médico, para dar conta de todos aqueles pacientes. A vereadora esteve na UPA por volta das 20 horas. Mas, segundo os doentes que estavam ali, a situação é ainda pior de madrugada.

Crise sem precedentes

Segundo o Ministério Público do Pará (MPPA), a saúde de Ananindeua enfrenta uma crise “sem precedentes”, que ameaça colapsar clínicas e hospitais, com prejuízos à população local e à toda a Região Metropolitana. Tanto assim que o Procurador Geral de Justiça (PGJ), César Mattar Junior, que comanda o MPPA, ajuizou, em 18 de fevereiro, uma “Representação Interventiva”, pedindo que o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA) determine “imediata intervenção” do Governo do Estado no sistema de saúde pública de Ananindeua, até a normalização dos serviços.

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