
O projeto Ver-o-Cuidado, em parceria da ONU Mulheres e Prefeitura de Belém, apresentou na última sexta-feira (28), dados sobre a jornada de trabalho de mulheres que residem na capital paraense. A pesquisa aponta que as mulheres enfrentam uma média de jornada diária de 11,7 horas de trabalho, considerando tanto as atividades remuneradas quanto ao trabalho de cuidado não remunerado. O dado é um dos resultados destacados no Estudo Diagnóstico Participativo sobre a organização social do cuidado em Belém, realizado no último bimestre de 2024 pelo projeto Ver-O-Cuidado.
O projeto contou com o apoio da Open Society Foundations, rede internacional de filantropia. O diagnóstico busca compreender como as redes de cuidado funcionam no município para além dos dados oficiais, colaborando com informações para a criação de políticas públicas que promovam, em Belém, a corresponsabilidade social e de gênero pelos cuidados.
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De acordo com a representante interina da ONU Mulheres, Ana Carolina Quirino, o objetivo do projeto foi fazer algo que pudesse impactar diretamente na vida e no cotidiano das mulheres. “O tema do cuidado entrou na agenda pública de forma definitiva. Foi como podemos dar conta das demandas de cuidado e como podemos ser cuidadas, como podemos garantir os dois direitos de uma forma que seja compartilhada a responsabilidade na sociedade como um todo, e que todas as pessoas tenham cuidado de qualidade”, afirmou.
Ainda segundo Quirino, a ONU Mulheres contribuiu com conhecimento técnico especializado e alinhado com algumas normativas e movimentos que ocorriam em outros países. “Começamos a trabalhar de uma maneira interinstitucional aqui na prefeitura. Então, funcionários e funcionárias da prefeitura também tiveram um papel muito importante. Foi montado um comitê interinstitucional que analisou todas as políticas que se relacionavam ao cuidado das pessoas que tinham alguma necessidade”.
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Bases oficiais
O levantamento é resultado da análise de dados secundários de bases oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da própria Prefeitura de Belém; em combinação com pesquisa e entrevistas que ouviram mulheres moradoras de diferentes regiões de Belém, além de servidoras e servidores municipais atuantes em instituições ligadas às políticas de cuidado.
Para o presidente da Funpapa, Arthur Houat, o projeto Ver-O-Cuidado busca o fortalecimento do reconhecimento da atividade das mulheres do cuidado, o que impacta na economia e na sociedade. “Essa valorização toda foi estudada, com levantamento, pesquisa, diagnósticos, dados e informações. Esse trabalho que foi feito serve de bússola para a construção das políticas públicas que a gente pretende desenvolver em atenção à mulher”.
Houat destaca ainda que as mulheres, principalmente as atendidas na Funpapa vítimas de violência, estão nas casas e têm dificuldade de sustento, de manutenção do lar e encontram-se em situação de vulnerabilidade social com a sua família. “Então, esse estudo vai balizar as ações que vão ser construídas para o futuro muito próximo do planejamento estratégico da Funpapa”.
No evento também foram compartilhadas as conclusões do Ver-O-Cuidado, desenvolvido entre 2022 e 2025, que contou com o engajamento de representantes da gestão municipal e de uma ampla frente de organizações da sociedade civil e produziu diversos produtos de conhecimento que servirão de legado para também outros municípios que queiram implementar políticas de cuidado.
Pandemia
A gerente do projeto Ver-O-Cuidado, Virginia Gontijo, afirmou que a pandemia refletiu bastante na economia do cuidado, pois o termo deixou mais visível a dificuldade que as mulheres têm de realmente assumir esse cuidado pela falta de serviços públicos. “Na pandemia, com todos os serviços que se fecharam, ficou evidente que a responsabilidade é das famílias e dentro das famílias, a responsabilidade do cuidado é das mulheres”.
O tema já é discutido há bastante tempo a nível global e Belém foi a capital brasileira pioneira na execução do projeto Ver-O-Cuidado, conforme ressaltou Gontijo. Ainda de acordo com a gerente, o município de Belém, por ser a primeira instância governamental em que se começou a falar sobre cuidados, “é referência não apenas para o Brasil, mas principalmente para a região da América Latina”. Com a apresentação do diagnóstico, o Comitê Interinstitucional de Implementação de Políticas do Cuidado sai do comando da Funpapa e passa a ser gerido pela Secretaria Municipal da Mulher (SEMU).
Principais números
l Diagnóstico participativo e interseccional
- - 166 respondentes de pesquisa em questionário fechado
- - Seis entrevistas em profundidade com especialistas no tema
l Quem cuida em Belém:
- - 78,1% são mulheres negras
- - 54,3% têm dupla jornada
- - 31,2% trabalham na informalidade
- - 81,4% já deixaram de trabalhar para cuidar
l As dinâmicas do cuidado não remunerado:
- - Mulheres gastam em média 11,7 horas diárias entre cuidado não remunerado e cuidado remunerado
- - 69,8% das mães são os principais responsáveis pelo sustento de suas famílias
l As dinâmicas do cuidado remunerado:
- - 31,2% trabalham na informalidade
- - 50% trabalham com pessoas idosas
- - 30% recebem abaixo de um salário mínimo
l Outros dados indicam que:
- - 80,6% das cuidadoras afirmam que os serviços de cuidado são insuficientes
- - Menos de 10% têm acesso a creche, centros-dia e escolas em tempo integral
- - Ilhas e bairros como Terra Firme, Cabanagem, Jurunas e Icoaraci são os mais vulneráveis
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