Empresa em Belém: Tecnologia promete agilizar coleta do açaí na palmeira

Uma tecnologia inovadora e 100% nacional promete transformar a vida e o trabalho de cerca de 300 mil ribeirinhos, pequenos agricultores e empresas que atuam na cadeia produtiva de uma das atividades mais tradicionais da agricultura amazônida: a coleta de açaí.

A Kaa Tech, empresa de inovação do Grupo Kaa com sede no distrito industrial de Icoaraci, desenvolveu o “Açaibot”, espécie de robô que, acoplado na base das palmeiras permite a coleta mecanizada da fruta em larga escala no alto da planta, sem a necessidade da intervenção humana.

O projeto, de tecnologia brasileira, produziu um efeito colateral que não estava previsto: o aumento da produtividade. Além de trazer segurança e eliminar totalmente a necessidade da utilização de trabalho infantil na atividade, o equipamento multiplica a capacidade de um coletor humano em até 10 vezes, podendo colher mais de 100 cachos por manhã.

“Esse incremento influencia diretamente na safra, sem prejuízo para o agronegócio ou para o ribeirinho, que vai poder colher muito mais e vender o produto a um preço mais razoável, beneficiando o consumidor final, seja aqui no Pará ou no exterior”, detalha Reinaldo Santos, engenheiro químico, empresário e CEO do Grupo Kaa.

A próxima geração do Açaibot já utilizará a Inteligência Artificial para identificar o grau de maturação da fruta no alto da palmeira antes de colhê-la. O sistema irá agregar o conhecimento ancestral do ribeirinho para fazer esse reconhecimento, aliando tecnologia e tradição. Esse conhecimento tradicional, segundo o CEO, estará agregado aos sistemas.

“Ao chegar no cacho do açaí o robô fará uma foto que será comparada com um arquivo interno, possibilitando identificar se o açaí está maduro ou não”, antecipa. Outra inovação que vem sendo desenvolvida é a não utilização de baterias pelo equipamento, que poderá se autocarregar em razão de uma fonte própria de geração e energia.

Conteúdos relacionados:

• Preço do açaí está começando a cair em Belém
• Casca de murumuru poderá ser usada na construção civil, reduzindo danos ambientais
• Diário do Pará e Fiepa lançam a Jornada COP+. Saiba todos os detalhes!

A tecnologia de processamento também vem sendo testada pela empresa para a produção de um açaí em pó com 100% de reversibilidade. “Ou seja: o produto, após preparado, mesmo sendo produzido a um ano atrás, terá o mesmo sabor e consistência de um açaí fresco, batido na hora. Esperamos colocar esse produto no mercado antes da realização da COP 30 aqui em Belém”, planeja.

A meta da empresa é ampliar o mercado e possibilitar que o ribeirinho possa pegar o açaí onde ele não consegue atualmente através da tecnologia “cabo via elétrica”, sistema capaz de transportar os frutos diretamente da floresta até a margem do rio, num percurso de até 10 quilômetros. Similar a sistemas de monotrilhos, a tecnologia suprime a necessidade de carga manual, diminuindo o tempo de deslocamento e aumentando volumes transportados, permitindo que o agricultor transporte todo o açaí que conseguir colher.

“Esse sistema não só beneficia a logística florestal, mas também desloca o operador entre os açaizais de forma rápida e segura, gerando um forte ganho em eficiência e bem-estar”, ressalta Santos.

Reinaldo destaca que nos últimos 6 anos a empresa se debruçou na tarefa de desatar os principais nós da cadeia do açaí, desenvolvendo novas tecnologias aplicadas desde o momento que o açaí desce da palmeira, passando pela logística, passando pela idealização de basquetas (espécie de cesto ou caixa onde o açaí é acondicionado) mais ergonômicas e leves, até a etapa de processamento para obter um produto de mais qualidade para venda e exportação.

A KaaTech possui laboratório de desenvolvimento de tecnologias na área mecânica e eletroeletrônicos assim como na área biológica atuando no melhoramento genético e desenvolvimento da tecnologia de clonagem vegetal.

“Desenvolvemos protocolos de clonagem do açaí com a possibilidade de ampliação na produtividade em até 500%, ou seja, cinco vezes mais do que é produzido hoje. Queremos atuar no melhoramento genético do açaí e levar esse processo para outras culturas da floresta como o cacau, cupuaçu, camu camu, culturas fantásticas que o mundo também precisa conhecer como o açaí é conhecido”.

“Robô não substituirá o homem do campo”

Os laboratórios da Kaa Tech trouxeram tecnologias ainda inexistentes no Brasil, necessitando de mão de obra qualificada daqui e de fora. Para tanto, a empresa fechou convênios de cooperação técnica com as Universidades de São Paulo (USP) e de São Francisco (Califórnia-EUA), e com algumas empresas alemãs e francesas.

Reinaldo garante que o robô-colheita jamais substituirá o homem no campo. “Muito pelo contrário: o equipamento precisa de um ser humano para controlá-lo. Trará sim mais segurança e ampliação e possibilidade de ganho para os ribeirinhos, evitando que crianças e adolescentes se submetam a riscos. Esse é o objetivo do Açaibot”, assegura.

Quer ver mais notícias do Pará? Acesse nosso canal no WhatsApp!

O equipamento é acionado por controle remoto e três motores elétricos que são controlados por um complexo circuito eletrônico abastecido por uma bateria de íons de lítio com capacidade para operar um dia inteiro possibilitando a mais de 100 subidas. O Açaíbot custa R$19.569,20 e está disponível no site da empresa www.kaatech.com.br

A Kaa Tech estabeleceu parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) para possibilitar treinamento aos agricultores que pretendem utilizar o equipamento.

A pré-venda do Açaibot iniciou dia 13 durante o lançamento na 3ª Edição do Festival Internacional Açaí Pará no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, com a presença do governador Helder Barbalho, deputados estaduais e vários secretários de Estado. “O equipamento já está à venda e as primeiras unidades já estarão operando na próxima safra do açaí, contribuindo muito para que o preço do açaí seja equalizado definitivamente”. As primeiras entregas do equipamento serão feitas em agosto.

Todo o recurso necessário para instalar os laboratórios e desenvolver as novas tecnologias é 100% privado, mas Reinaldo revela que a empresa vem recebendo um grande apoio do governador Helder Barbalho através de secretarias correlatas ao agronegócio e à agricultura familiar, além das Federações da Agricultura (Faepa) e da Indústria (Fiepa). “Também tivemos uma conversa com o Ministro das Cidades, Jader Filho, no sentido de melhoria das habitações de todos os agricultores e ribeirinhos envolvidos na cadeia do açaí no Estado”, diz.

O empresário diz que o açaí que chega hoje ao mercado internacional nem de longe se parece ao açaí in natura produzido no Pará em razão de questões como transporte inadequado e métodos de conservação inadequados e alto custo agregados. “Com essa nova tecnologia esperamos levar essa experiência maravilhosa de tomar um açaí paraense para todos os demais países do globo, preservando toda as suas propriedades nutracêuticas, sabor e qualidade”.

Segundo dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) no ano passado, os postos de trabalho formais ligados ao açaí cresceram mais de 800%. Nos últimos 20 anos, o número de propriedades produtoras ultrapassou dos 500%. O açaí cultivado no Pará domina a produção nacional (87%) e o Estado, que já chegou a exportar menos de meia tonelada do fruto, já ultrapassa a marca de 61 mil toneladas anuais, de acordo com a pesquisa.

Somente na área da cadeia produtiva do açaí, a Fapespa investe mais de R$ 2 milhões em projetos de pesquisa e inovação. Através das Chamadas públicas, diversos projetos já foram contemplados, como a iniciativa “Bioembalagens da Amazônia” desenvolvido por estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA).