
Em um momento em que as discussões globais convergem para a busca de modelos econômicos regenerativos, a sociobiodiversidade da Amazônia se destaca como impulsionadora de uma nova economia. Empreender a partir da biodiversidade da floresta não é apenas uma alternativa, mas um caminho promissor para conciliar a geração de renda local com a urgente conservação ambiental.
E esse novo olhar sobre os ativos amazônicos está transformando o Pará em um polo de inovação sustentável, apoiado tanto pela crescente demanda do mercado quanto pelo suporte institucional. O diretor-superintendente do Sebrae/PA, Rubens Magno, avalia que os negócios baseados na biodiversidade amazônica vivenciam um momento promissor, marcado por uma expansão contínua. O que favorece o desenvolvimento de novos negócios, sobretudo os que se baseiam em modelos inovadores.
“O mercado consumidor tem se mostrado cada vez mais receptivo a produtos sustentáveis, corretos e com origem rastreável, características diretamente ligadas à sociobiodiversidade da Amazônia”, pontua. “Esse interesse é impulsionado tanto por consumidores mais conscientes quanto por pressões internacionais que exigem cadeias produtivas mais responsáveis. A COP30 em Belém reforçou ainda mais essa tendência e posicionou a região no centro das discussões globais sobre modelos econômicos regenerativos”, afirma.
Rubens destaca que a bioeconomia amazônica abrange diversos segmentos que conseguem unir saberes tradicionais com inovação e sustentabilidade, valorizando os povos da floresta e seus territórios. E entre os tipos de negócios que mais têm se destacado no Pará, ele cita os que atuam com cosméticos naturais, alimentação, fitoterápicos, biojoias e turismo de base comunitária.
“O artesanato, por exemplo, tem grande força no contexto da economia circular e da identidade amazônica. Já o turismo de experiência em comunidades ribeirinhas e indígenas tem ganhado visibilidade como alternativa de renda e preservação cultural, a exemplo da Rota Combu, em Belém, que proporciona aos visitantes uma experiênc

ia imersiva na floresta e preserva os costumes tradicionais da ilha”, explica.
INOVAÇÃO
Neste cenário, o diretor-superintendente do Sebrae/PA destaca que a inovação tecnológica desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de negócios baseados em bioativos amazônicos, um segmento com grande potencial. “O Sebrae/PA tem acompanhado iniciativas que aplicam tecnologias sociais, logística verde, rastreabilidade digital e soluções em energias renováveis para valorizar os bioativos amazônicos. Além disso, há o desenvolvimento de novos produtos com maior valor agregado, como óleos essenciais, e ingredientes funcionais voltados para mercados específicos como o de cosméticos, farmacêutico e alimentício”, aponta.
“A combinação entre conhecimento tradicional e ciência aplicada tem impulsionado esses negócios, a exemplos que startups paraenses como Seringô e Soul da Mata, que ganharam destaques nos últimos tempos”.
Startup transforma ativos da biodiversidade amazônica em soluções para a rotina moderna
Em uma demonstração prática de como a bioeconomia pode se traduzir em negócios de impacto, a startup Soul da Mata se dedica a transformar a biodiversidade amazônica em soluções reais para o dia a dia das pessoas, conectando saúde, inovação, sustentabilidade e impacto socioambiental. A empresa nasceu no Vale do Tapajós, em Belterra, a partir de uma oficina de bioeconomia, com o desafio de criar um modelo de negócio obrigatoriamente pautado na sustentabilidade, baseado na floresta e que solucionasse uma necessidade real do território.
Diogo Noronha, sócio da Soul da Mata, explica que a oportunidade veio da observação prática dos sócios sobre o território onde vivem. “A gente sempre esteve em contato com produtores, comunidades, extrativistas e pesquisadores. Percebemos que o Pará concentra algumas das matérias-primas mais potentes do mundo nutricionalmente — como o açaí, o camu-camu, o jambu, o cupulate — mas que, muitas vezes, esses insumos saem daqui sem gerar valor local”, aponta.
“Quando olhamos para as tendências globais de consumo consciente, alimentação funcional, suplementação natural e bem-estar, ficou claro que existia uma oportunidade gigantesca: transformar a biodiversidade amazônica em produtos premium, rastreáveis, com marca forte e impacto positivo direto na origem. A Soul da Mata nasce exatamente desse cruzamento entre território, tendência global e propósito”, detalha.

O primeiro produto da marca, batizado de Da Mata Energy Shot, nasceu exatamente a partir dessa visão, como uma resposta à rotina moderna, que exige alta performance, mas sem abrir mão da naturalidade. O suplemento alimentar em pó foca em energia limpa, foco, imunidade e ação antioxidante.
“A fórmula é composta por superativos amazônicos, incluindo o açaí, fonte de antioxidantes e energia sustentável; acerola, rica em vitamina C para reforço imunológico; Guaraná da Amazônia, que proporciona energia natural e prolongada; jambu, um ativo funcional com ação estimulante e circulatória; cupulate, derivado do cupuaçu, rico em polifenóis, que contribui para o foco e bem-estar”, explica. “Tudo isso sem uso de estimulantes sintéticos, corantes artificiais ou compostos químicos agressivos. Nosso foco é performance com naturalidade, respeitando o corpo e a floresta”, conclui.

Diogo reforça que a sustentabilidade não é um aditivo, mas sim a parte central do modelo de negócio da Soul da Mata. “Quando um cliente compra um produto da Soul da Mata, ele não está apenas cuidando da própria saúde — ele também está ajudando a manter a floresta em pé, a valorizar cadeias produtivas amazônicas, pequenos produtores e modos de vida tradicionais”, pontua. “Esse é um valor que a gente faz questão de comunicar de forma muito clara”, afirma.
APOIO
O Sebrae no Pará oferece uma série de capacitações voltadas ao empreendedorismo sustentável na Amazônia, o que inclui cursos, consultorias, acesso a crédito, formação técnica e apoio à regularização e formalização de negócios. Há também programas específicos de aceleração, como o Sustenta e Inova, financiado pela União Europeia; Inova Amazônia e o Programa de Negócios de Impacto Socioambiental (Nisa), que fomentam o desenvolvimento de startups e negócios inovadores com foco em bioeconomia.

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