A maior águia das Américas passou a receber atenção redobrada em uma das regiões mais sensíveis da Amazônia. Em meio à atividade minerária no sudeste do Pará, ações de conservação ganharam força para garantir a sobrevivência da harpia, espécie símbolo da floresta e atualmente ameaçada de extinção.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) determinou a proteção imediata dos ninhos de harpia localizados em áreas de mineração no Mosaico de Carajás, no âmbito do Licenciamento Ambiental Federal (LAF). A medida obriga os empreendimentos da Vale S.A. a adotar programas específicos de monitoramento de adultos e filhotes, assegurando a preservação das áreas de nidificação dentro das Unidades de Conservação da região.
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Classificada como vulnerável à extinção pelo ICMBio e pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), a harpia enfrenta riscos crescentes associados à perda de habitat, supressão de vegetação, caça, grandes obras de infraestrutura e expansão minerária. Estima-se que mais de 90% da população da espécie esteja concentrada na Amazônia de terras baixas, o que torna a região estratégica para sua conservação.
A decisão do Ibama foi motivada pela identificação de filhotes em áreas previstas para supressão vegetal, o que levou o órgão a reconhecer a urgência na criação de um protocolo específico de proteção. Segundo o instituto, ainda existem lacunas importantes sobre os hábitos reprodutivos da harpia e sobre os impactos diretos da mineração e de estruturas associadas, como linhas de transmissão. O monitoramento contínuo busca justamente suprir essas informações e embasar futuras decisões ambientais.
Projeto Harpia fortalece ações de conservação
As medidas se apoiam em estudos e ações desenvolvidas pelo Projeto Harpia, iniciativa que atua desde 2007 no Mosaico de Carajás em parceria com o ICMBio e a Vale. Em 2023, o projeto coordenou a Oficina de Elaboração do Programa de Conservação da Harpia, na qual especialistas apontaram a supressão de vegetação como a principal ameaça à espécie na região.
Pesquisas realizadas pelo projeto revelaram que os casais de harpia demonstram forte fidelidade territorial e preferem castanheiras (Bertholletia excelsa) para a construção dos ninhos. As aves costumam reutilizar a mesma árvore em diferentes ciclos reprodutivos ou manter ninhos alternativos a cerca de um quilômetro do principal.
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Tecnologia ajuda a proteger a espécie
O uso de tecnologia tem sido fundamental para acompanhar o comportamento das aves. Uma fêmea adulta monitorada por GPS utilizou uma área de 35,7 km² ao redor do ninho em sete meses, com deslocamentos de até 5,69 km. Já os filhotes ampliam gradualmente suas áreas de uso à medida que crescem, permanecendo próximos ao ninho mesmo após dois anos de idade.
No empreendimento de Salobo, localizado na Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri, um ninho identificado recentemente recebe monitoramento diário, com o uso de transmissores GPS e sistema de vídeo em tempo real.
Predadora de topo da cadeia alimentar, a harpia exerce papel essencial no equilíbrio ecológico da floresta, controlando populações de mamíferos arborícolas e funcionando como indicadora da integridade ambiental. A exigência do Ibama faz com que todos os projetos de mineração em Carajás passem a incorporar, de forma obrigatória, ações voltadas à proteção dessa espécie-chave da Amazônia.
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