Aos 17 anos de idade, o jovem Raimundo de Souza Melo viajou pela primeira vez com o pai. De Manaus com destino ao Rio de Janeiro, se deslumbrou com os encantos e grandiosidade da metrópole. Era o ano de 1964 e Raimundo descobriu que a capital amazonense era pequena para os anseios. Hoje, aos 64 anos, após uma vida de viagens, o ex-mecânico vive nas ruas de Belém há nove anos, transitando principalmente pela feira do Ver-o-peso, sobrevivendo de pequenos trabalhos. Por sorte, tem escapado das agressões que vitimaram moradores em Belém.
Na madrugada de segunda-feira, um morador de rua foi morto quando aparentemente dormia em uma das passarelas da área do Entroncamento. O homem, até o momento não identificado, teve a cabeça esmagada por um bloco de concreto que pesava cerca de 40 quilos. O motivo para o crime ainda é desconhecido pela polícia.
A irmã missionária Marlene Holanda de Sousa, está a 10 anos trabalhando no atendimento aos necessitados no Abrigo João de Deus, que há 30 anos trabalha atendendo a população de rua e hoje é mantido por doações, fornecendo atendimento médico, psicológico, alimentação e medicação.
Ela revela que quase todos que passam pela instituição já sofreram algum tipo de agressão. “Todos sofrem. Quando chegam aqui é porque não têm mais condições de ficar na rua”. Em alguns casos é feito um trabalho para tentar reinserir o morador de rua na família, mas muitos rejeitam e acabam retornando às ruas. “Fazemos um trabalho para tentar mantê-los fora das ruas, mas acabam voltando”, lamenta a irmã Marlene.
Raimundo de Souza Melo está há dois meses sendo atendido no abrigo. Até pouco tempo, vendia tucupi na feira do Ver-o-peso. Mas há cerca de seis meses passou mal, sentia dores no peito e foi levado para o Pronto Socorro Municipal do Umarizal. Lá foi diagnosticado com um principio de tuberculose e transferido para o Hospital Universitário Barros Barreto.
Raimundo ficou dois meses internado e como deveria continuar o tratamento, conseguiu ser atendido no abrigo. “Aqui é muito bom. Me tratam com respeito. Já estou bem melhor e continuo tomando todos os remédios.”
Foi o roubo de documentos, logo que chegou em Belém, há nove anos, que o levou para ruas. “Tentei tirar outros por aqui. Recorri a quem pude. Fui em rádios pedir ajuda, mas não consegui. Me desgostei de tudo. Perdi contato com minha família. Sou separado de minha mulher, mas tenho três filhos, mas perdi o gosto em tudo e nunca mais voltei a Manaus”, desabafa. “Saí com dinheiro, sempre trabalhei. Não quero voltar como mendigo e ter de ficar na casa de mulher, de pai.”
O Abrigo João de Deus não é a única instituição que atende os moradores de rua. A Fundação Papa João XXIII (Funpapa), que atua diretamente no atendimento a populações que vivem em situação de vulnerabilidade, disponibiliza cinco abrigos para os moradores de rua, sejam adolescentes, mulheres ou homens. A dificuldade, está em fazer essas pessoas aceitarem o atendimento.
A instituição alega que muitos não querem ficar nos abrigos porque é proibido o consumo de álcool nestes locais e parte deles sofrem com o alcoolismo. Como recebem alimentação de vários grupos durante a noite, acabam ficando pela rua. Apesar disso, a Funpapa realiza um monitoramento dos principais pontos onde os moradores de rua se concentram, como o entorno do Ver-o-peso, a Catedral da Sé e a praça do Operário, em São Brás. (Diário do Pará)
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