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Um crime que marcou a terra com sangue

 Aproveitar seus recursos sem destruir a floresta e criar projetos sustentáveis para melhorar a qualidade de vida de quem a habita. Foi cumprindo essa missão que, na manhã do dia 12 de fevereiro de 2005, Dorothy Mae Stang foi executada com seis tiros enqu

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Aproveitar seus recursos sem destruir a floresta e criar projetos sustentáveis para melhorar a qualidade de vida de quem a habita. Foi cumprindo essa missão que, na manhã do dia 12 de fevereiro de 2005, Dorothy Mae Stang foi executada com seis tiros enquanto empunhava a Bíblia na mão direita. A morte da missionária norte-americana de 73 anos, assassinada em Anapu, oeste do Pará, repercutiu para além das fronteiras brasileiras. Irmã Dorothy, como era conhecida, caminhou pela última vez e derramou seu sangue na terra que havia conseguido legalizar junto ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em 2004, depois de anos de luta.

O motivo da morte seria a disputa pelo Lote 55, área de aproximadamente três mil hectares anexa ao Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança (PDS Esperança). O PDS Esperança é um assentamento agrário, validado pelo governo federal, que beneficia 600 famílias. Dorothy há 30 anos trabalhava para combater a miséria dos chamados “povos da floresta”.

Thomas Mitschein, sociólogo e amigo pessoal de irmã Dorothy, conta que, quando a conheceu, ficou admirado com o carisma da missionária. “Eu que não sou um homem ligado a igrejas, fiquei encantado com o jeito dela. Eu tinha muita alegria de estar com ela. Era uma pessoa que realmente acreditava em uma Amazônia sustentável, mais justa”, diz.

Segundo números da Comissão Pastoral da Terra (CPT), outras 15 pessoas foram assassinadas por conta de conflitos fundiários no Pará no mesmo ano da morte de irmã Dorothy.

ARQUIVOS

Padre Paulo Joanil da Silva, coordenador regional da CPT, morou por três anos com a irmã, entre 1969 e 1972, enquanto fazia trabalho missionário em Jacundá, no sudeste paraense. Para padre Paulo, a missionária tinha a confiança inabalável de que era possível melhorar a vida da população local. “É uma fé que não ficou no comodismo, nem dentro de quatro paredes. O estilo de vida dela foi todo voltado para a causa dos mais necessitados”.

Irmã Dorothy sabia que sua vida estava ameaçada, mas se recusou a receber proteção do Programa Estadual de Proteção a Testemunhas porque queria que toda a comunidade do PDS fosse beneficiada com a assistência especial. “Ela tinha plena consciência dos riscos que estava correndo. Quem defende os oprimidos, contraria os opressores. Mas sem riscos, não há luz. É uma luta que acontece no presente, mas que alimenta o futuro”, explica padre Paulo.

Para padre Paulo, a resistência da missionária americana foi válida por conta da coragem com que ela viveu sua causa até onde pôde. “Qualquer luta movida por um ideal já é uma vitória porque ela tenta combater com justiça a força dessa violência que impera. A luta de Dorothy não foi em vão”, diz.

JULGAMENTOS

Diferente do que acontece em muitos crimes de “pistolagem” envolvendo conflitos fundiários, tanto os executores quanto os mandantes do assassinato foram levados a julgamento. Rayfran das Neves, o “Fogoió”, réu confesso, foi condenado a 27 anos, já Clodoaldo Batista, o “Eduardo”, a 17, por ser co-autor do crime. Eles teriam sido contratados por Amair Feijoli, o “Tato”, sentenciado a 27 anos, mas com pena reduzida a 18 por colaborar com o processo.

Rayfran cumpriu um sexto da sentença e agora se encontra em regime semiaberto. Clodoado, que também estava em regime semiaberto, está foragido desde fevereiro do ano passado. “Tato” está em prisão domiciliar. Ele teria contratado os pistoleiros a mando do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o “Bida”, e do pecuarista Regivaldo Pereira Galvão, o “Taradão”.

Em 2007, Vitalmiro Moura havia sido condenado a 30 anos de prisão, mas foi absolvido da pena em 2008 após Rayfran ter assumido sozinho a autoria do crime. No entanto, o Ministério Público pediu em 2009 a anulação da absolvição e agora o fazendeiro cumpre pena em regime semiaberto. Já Regivaldo Galvão, só foi a júri popular em 2010, mas cumpre pena de 30 anos de reclusão em regime fechado. Ambos negam participação no assassinato.

Na última terça-feira, o Supremo Tribunal Federal deferiu liminar no Habeas Corpus, determinando a expedição de alvará de soltura para Regivaldo Galvão.

Se o caso Dorothy permanece indefinido, a situação no Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança também não vive os dias de paz sonhados pela missionária. Os pequenos agricultores defendidos por Dorothy ainda precisam combater a retirada ilegal de madeira e resistir às ameaças de quem tenta infringir a legislação federal. Sem ter para onde ir e lutando para preservar o legado que a religiosa deixou, cerca de 600 famílias continuam a trabalhar na área.

Como resposta às ações criminosas, o compromisso da comunidade do PDS é plantar um milhão de árvores. “Essa plantação de árvores que o PDS vai fazer tem uma simbologia muito bonita. É a prova de que a morte de Dorothy serviu para alimentar a luta dos pobres, que não desistiram de resistir, apesar de tantas dificuldades. Do sangue derramado surgiu a esperança”, conclui o padre Paulo Joanil.
No local do assassinato, como a floresta ao redor, uma cruz de madeira tenta permanecer de pé. Lá, também há uma placa, colocada pelo Incra em 2009, homenageando a missionária. A lembrança, fixada em uma árvore, está marcada com tiros de espingarda.

(Diário do Pará)

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